quinta-feira, 16 de abril de 2009
Até quando o mundo vai sustentar a farra dos donos do petróleo?
Não custa relembrar que o custo de produção do petróleo, incluindo os custos de descoberta e taxas, não passa de US$ 6 por barril na maioria dos países da OPEP. Portanto, mesmo após a acentuada queda dos preços, o lucro dos produtores ultrapassa os 500%. Quando preço estava a US$ 147, este lucro era de 2300%! Nada mais imoral!
Não é possível nem justo que o mundo todo se torne refém de uma dúzia de mega-corporações privadas que se utilizam da fachada da OPEP para se apossarem de uma parcela tão significativa da renda mundial, concentrando riqueza e poder de forma tão desmesurada. Não se trata de isentar os governos dos países da OPEP de culpa, evidentemente. Os países da OPEP formam um iníquo cartel isento de qualquer controle que ainda se dá ao luxo de acobertar a ganância de empresas privadas com sede no chamado “primeiro mundo”, a saber: Shell, Exxon Mobil, Total, Chevron, British Petroleum, Elf Aquitaine e outras menos cotadas.
O curioso é que esta situação já perdura quase quatro décadas. Teve início em 1973, durante a guerra do Yom Kippur – entre Israel, de um lado e Síria e Egito de outro. Naquela ocasião, o preço do barril quadruplicou num intervalo de apenas três meses (de US$ 3 para US$ 12), ao passo que o custo de produção manteve-se estável. Esta foi uma forma de os países árabes chantagearem o ocidente que apoiou Israel no conflito. Esqueceram-se os árabes que as grandes companhias ocidentais detinham concessões para exploração e produção no Oriente Médio e, portanto, se beneficiaram por tabela com a elevação do preço do óleo.
Um novo choque nos preços do petróleo ocorreu em 1979, com a eclosão da revolução dos aiatolás, no Irã, que resultou da deposição do Xá Reza Pahlevi e na paralisação da produção do país. Vale lembrar que o Irã é o segundo produtor mundial de petróleo, atrás apenas da Arábia Saudita. Naquela oportunidade, o preço do petróleo saiu de US$ 12 o barril para mais de US$ 35 (em valores da época).
De lá para cá, o preço do petróleo tem flutuado livremente ao sabor dos ventos, porém sempre preservando as enormes margens de lucro dos produtores, sejam eles empresas estatais dos países da OPEP ou as mega-corporações privadas com sede nos países do ocidente.
É estranho que nada demonstre com mais clareza a ineficácia do mercado para regular preços do que o caso do petróleo. Não se pode negar o peso do cartel da OPEP – os países-membros da OPEP produzem cerca de 40% da demanda mundial – nos negócios petrolíferos. Há, entretanto, outros atores de peso no cenário que poderiam muito bem intervir para reduzir a dependência do cartel. Do lado da oferta há a Rússia, Canadá, Noruega e outros produtores de peso. Do lado da demanda soa estranho como os EUA, os países da Europa Ocidental e o Japão, todos grandes importadores de petróleo, se quedem passivos ante o cartel sem buscar alternativas para sua dependência. A única explicação que me parece plausível é que esses países buscam, com sua passividade, favorecer suas empresas transnacionais nos negócios com óleo é gás natural, assim
como os países ricos buscam favorecer seus bancos no mercado financeiro global.
A conclusão a que se chega é que o sistema capitalista é inerentemente produtor de injustiça. Ele estabeleceu uma civilização baseada no consumo maciço de energia e tornou a principal fonte de energia que aciona o sistema um obstáculo ao seu uso, através de seu preço manipulado por um cartel. Um sistema justo e socialmente sustentável já teria partido para outro modelo de desenvolvimento, livrando toda a humanidade do ônus de assegurar o enriquecimento dos acionistas de quinze ou vinte empresas.
Panorama petrolífero recente
• Três novas empresas fazem agora parte do grupo: Uzbekneftegas, do Uzbequistão, a CNOOC, da China e a Kazmunaigas, do Casaquistão – todas sob controle estatal;
• A CNPC (estatal chinesa) saltou da sétima posição para a quinta, superando a British Petroleum, a Shell e a ConocoPhilips, todas privadas;
• A estatal russa Rosneft teve o maior salto: passou da 24ª para a 16ª posição no ranking;
• A produção total de gás natural do grupo cresceu cerca de 6% ao passo que a produção de petróleo permaneceu estável.
No conjunto das 50 maiores empresas, 18 são inteiramente de propriedade estatal, 8 têm seu capital total majoritariamente sob propriedade do estado.
Outro fator agravante no caso da Petrobrás é o crescimento das reservas brasileiras - especialmente na chamada camada pré-sal - que é expressivo, tornando o setor privado sócio majoritário deste patrimônio.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
A Petrobrás já foi melhor em planejamento
Petrobrás - Metas Corporativas | ||||
Indicadores | Realizado 2008 | Metas 2013 | Previsão 2015 | Previsão 2020 |
Produção de Óleo e Gás Natural - Brasil (boed)(*) | 2.176.000 | 3.310.000 | 4.140.000 | 5.100.000 |
Produção de Óleo e Gás Natural - Total (boed)(*) | 2.400.000 | 3.651.000 | 4.626.000 | 5.732.000 |
Carga Fresca Processada - Brasil (bpd)(**) | 1.859.000 | 2.270.000 | - | 3.012.000 |
Fonte: Petrobrás – Plano de Negócios 2009-2013
(*) barris de óleo equivalente por dia;
(**) barris de óleo por dia
O que preocupa é ausência de menção à agressão que o petróleo tem causado ao meio ambiente ou a timidez com que este tema é abordado num plano de tão largo alcance no tempo. Naturalmente, ninguém advoga uma radical e imediata eliminação do petróleo como fonte de energia primária, especialmente na matriz de transportes. Todavia, um processo responsável visando sua substituição gradual já deveria estar em andamento, já que os prejuízos causados ao planeta e a seus habitantes são hoje consensualmente reconhecidos. Um simples análise do uso que se faz no Brasil (e no mundo não é muito diferente) permite perceber, com um pouco de raciocínio lógico, a extensão dos males causados pelo petróleo e seus derivados. No Brasil, conforme quadro abaixo, 56% do petróleo consumido é queimado em motores de veículos automotores (sob a forma de óleo diesel e gasolina). É fato reconhecido, mas pouco divulgado, que esses motores apresentam indicadores de eficiência ridículos ou mesmo inaceitáveis no momento tecnológico que a humanidade vive hoje – da ordem de 25 a 27%. Ou seja: cerca de 75% da energia térmica gerada pela combustão são desperdiçados. No caso dos motores a diesel esta eficiência é levemente maior – na faixa de 33 a 35% - em função da maior temperatura em que se dá a combustão. Mesmo assim, o desperdício alcança alarmantes 65% da energia fornecida ao motor.
Petrobrás - Perfil de Refino | |
Óleo Diesel | 37% |
Gasolina | 19% |
Óleos Combustíveis | 15% |
Nafta e Querosene de Aviação | 12% |
Outros | 16% |
Fonte: www.petrobras2.com.br