quarta-feira, 25 de julho de 2012

De novo as reservas indígenas no Brasil

Algumas mentes pouco arejadas insistem na solução de que é necessário roubar ainda mais terras dos índios do que já foram roubadas nesses últimos 500 anos. Justificam mais este assalto pela existência de importantes reservas de metais estratégicos nas atuais reservas indígenas. Para que queremos metais estratégicos se não investimos em pesquisa e tecnologia para aplicá-los? Para que queremos metais estratégicos se todos os bens que empregam esses metais em sua produção são até hoje importados pelo Brasil?

Ora, ninguém se incomodou quando o "branco" Eliezer Batista controlou pessoalmente, através de empresas estatais sob seu comando, durante os 21 anos de ditadura militar, todo o minério de ferro de Minas Gerais e todo o minério de manganês do Amapá, deixando enorme herança para seu filho Eike, hoje, coincidentemente, o homem mais rico do país. Eliezer pode, os índios, donos da terra há milênios, não podem! A mente pouco arejada dessa gente os conduz ainda a essa uma brutal falta coerência.

Hoje quem explora o ferro em Minas Gerais é a Vale, empresa privatizada em 1998, no governo Fernando Henrique, por R$ 3,3 bilhões, valor que correspondia, à época, a somente 25% do lucro da empresa no mesmo ano - R$ 12,5 bilhões. Pode parecer brincadeira, mas não é.

Sem me ater a decisões políticas ou jurídicas, prefiro ir à lógica.

Instalados nestas terras há milênios, os indígenas veem, de repente, seu espaço ser invadido - o termo é este mesmo: invadido, embora o termo oficial seja “descoberto” - por europeus que os agridem, infestam-nos com doenças mortais para eles e expulsam-nos de suas casas.
Se hoje são apenas 600 mil índios, a causa desta redução está, principalmente, no genocídio praticado por europeus contra eles e, em menor parte pela miscigenação com brancos e negros. O reduzido número de indígenas não é culpa deles. Por favor, não podemos inverter os fatos. O reduzido número de indígenas é resultado da ilegal, desleal, desumana e estúpida atuação do branco europeu de quem boa parte dos brasileiros ainda é descendente.

A chamada civilização ocidental baseia-se no direito de propriedade desde priscas eras. No entanto, esse direito foi roubado aos nossos índios, como foi roubado também aos primeiros habitantes de nossa sofrida América Latina (em especial aos maias, astecas e incas) e aos "peles-vermelhas" da América do Norte.

Pelo genocídio praticado contra os peles-vermelhas na até hoje violenta América do Norte nasceram heróis nacionais como Buffalo Bill e o general George A. Custer. Os de cá receberam o apelido de "bandeirantes" e muitos de nós aprendemos seus nomes nas escolas, sendo também citados como heróis. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

O  que está havendo no "civilizado" Brasil não passa de um golpe contra uma minoria. Nossos índios merecem um pedido formal de desculpas que eles aceitariam se quisessem. A usurpação de que foram vítimas permanece incólume

O tempo não pode apagar crimes destas dimensões. Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler, Augusto Pinochet, o presidente Harry S. Truman que ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre o povo do Japão já derrotado e rendido, dentre muitos outros jamais serão apagados da História.

E chega de inversão dos fatos!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O HSBC de volta ao ninho

Não é a primeira vez que o HSBC está envolvido com o tráfico de drogas. O HSBC (Hongkong Shanghai Bank Corporation) foi fundado há cerca de 150 anos para lidar com o dinheiro resultante do tráfico de ópio da Índia, então uma colônia do Império Britânico, para a China. Como colônia, a Índia e seu imenso mercado interno estavam abertos à importação de produtos europeus, ao passo que a China, pelo contrário, era muito resistente à compra desses produtos, estando mais interessada em vender seus produtos a esses países.

 A China era uma grande produtora de seda, porcelana e chá, que era o produto que despertava maior interesse nos britânicos. Somente em 1720 eles compraram cerca de 12.700 toneladas de chá dos chineses e em 1830 compraram cerca de 360 mil toneladas. Os chineses, todavia, não tinham interesse algum nos produtos europeus, o que resultava em desequilíbrio da balança de negócios e lucros muito pequenos para os britânicos. Apenas um produto despertava grande interesse neles e por muitas vezes era ele que fazia com que o comércio com a China produzisse algum lucro. Esse produto era o ópio.

O ópio é uma substância entorpecente extraída da papoula que causa forte dependência química em seus usuários. A droga era transportada ilegalmente pelos britânicos da Índia para a China e lá, muitas vezes, os britânicos se encarregavam de induzir os chineses a consumi-lo, o que provocava dependência, obtendo assim um aumento de seu lucro e no volume do comércio.

Em vista desse quadro, o governo chinês proíbiu toda a transação com a droga o que fez com que os britânicos ficassem irritadíssimos, já que este era o comércio que estava dando lucro, terminando por declarar guerra à China em 1839.
No mesmo ano, um súdito chinês foi assassinado por marinheiros britânicos, fato que fez o Comissário Imperial ordenar a expulsão de todos os cidadãos britânicos que estavam na cidade e confiscar cerca de 20 mil caixas de ópio que foram ali encontradas. Em 1840, o Chanceler Britânico, Lord Palmerston, enviou uma frota de 16 navios de guerra para o litoral chinês, fato que resultou no afundamento de boa parte dos navios chineses, além do estado de sitio de Guangzhou e o bombardeamento da cidade de Nanquim.

Esse conflito durou até 1842 quando foi assinado o Tratado de Nanquim, o primeiro dos chamados “Tratados Desiguais”, pelo qual a China aceitou suprir tudo o que a Grã-Bretanha quisesse, abrindo cinco portos ao comércio britânico, pagar uma grande indenização de guerra e entregar a ilha de Hong Kong, que ficaria sob domínio britânico por 100 anos.

Nasce o HSBC
Em 1856, tem início o que chamamos de “Segunda Guerra do Ópio”. Oficiais chineses abordaram e revistaram o navio Arrow, de bandeira britânica. Isso desagradou muito os britânicos que dessa vez se aliaram à França e executaram um violento ataque militar à China em1857. O governante chinês nesse momento dá continuidade à sua política de intransigência, recusando-se a respeitar os atos dos britânicos. Mais uma vez a China sai derrotada. Dessa vez, onze portos chineses seriam abertos ao comércio com o ocidente. O governante chinês tentou resistir, mas com isso a capital Pequim foi ocupada, forçando-o a aceitar o Tratado de Tianjin que determinava a abertura dos portos chineses aos estrangeiros, incluindo diplomatas estrangeiros e missionários cristãos além, é claro, da legalização da venda e do consumo de ópio.

Foi justamente nesse cenário que foi fundado o HSBC, no sul da China, para lidar com as fortunas que surgiam do comércio britânico-chinês, inclusive o do ópio.
Portanto, não há o que estranhar quando a imprensa noticia que o HSBC de hoje teve vultosas transações financeiras com os cartéis do tráfico de drogas mexicanos. Foi o tráfico de drogas que deu origem ao HSBC. Portanto, o banco está de volta ao seu ninho. Desta vez, porém, o HSBC está enxovalhando todo o sistema bancário dos EUA com o qual o HSBC tem bilhões de dólares em transações interbancárias diárias.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Está confirmado: houve golpe no Paraguai

Argemiro Pertence

O artigo 17 da Constituição da República do Paraguai e seus incisos 7 e 8 são claros ao dispor:
“No processo penal, ou em quaisquer outros dos quais poderão resultar penas ou sanções, toda pessoa terá direito a:
-       Informação prévia e detalhada sobre a acusação, assim como deverá dispor de cópias, meios e prazos indispensáveis para a preparação de sua defesa com livre comunicação;
-       Que sejam apresentadas, controladas e impugnadas provas;”
Isto deixa claro que Fernando Lugo, o presidente paraguaio até 22 de junho passado, foi alvo de um golpe parlamentar, golpe este que desrespeitou até mesmo a Constituição Paraguaia, conforme a simples leitura do artigo 17 transcrito acima demonstra inequivocamente.  Todo o processo de cassação de um presidente constitucionalmente  eleito levou menos de 24 horas. Estabelecido este fato, o noticiário do país informa que atos de violência estão sendo praticados pelo “regime ilegítimo e golpista” de Federico Franco, vice-presidente que assumiu o cargo de presidente da República e atualmente adversário político de Fernando Lugo.

O golpe político de 21 e 22 de junho teve como causa um ato de violência ocorrido em Curuguaty, município do departamento paraguaio de Canindeyú, que resultou na morte de 17 pessoas, entre camponeses sem terra e policiais. Há claros sinais de que este incidente foi induzido pela oposição a Lugo e que integrou uma conspiração para desestabilizar o Poder Executivo. Lugo, o então presidente, imediatamente propôs a constituição de uma comissão especial de investigação do ocorrido com acompanhamento de organismos internacionais. Além da investigação, Lugo demitiu sumariamente o Ministro do Interior e o Chefe da Polícia Nacional, encarregados que eram de atuar preventivamente para evitar esse tipo de ocorrências. 

Entretanto, a primeira medida do governo que assumiu o poder, encabeçado por Federico Franco, o anterior vice-presidente, foi suspender o trabalho da comissão de investigação, o que faz surgir a suspeita em todo o país de que não há vontade por parte do novo governo de esclarecer aqueles fatos.
Em vista dos claros indícios de que o confronto entre sem terra e policiais foi induzido pela oposição a Lugo, e mais especificamente pelos grandes latifundiários que também faziam oposição ao governo Lugo, resta claro que o atual governo é um regime que guarda fortes laços com a violência. Frente a isso, Lugo e seus partidários têm feito, desde o início, apelos ao povo para que se conserve calmo e em paz, visando evitar provocações e violência. Entretanto, a Mesa do Senado até hoje não apresentou, após mais de vinte dias, nem ao presidente Fernando Lugo nem a seu aliado, o senador Filizola, o registro gravado das sessões e a sentença com as razões da destituição do presidente constitucional, apesar dos vários pedidos feitos neste sentido. Ou seja: faltam as provas, caracterizando outra violação à Constituição do país.
Ademais, os senadores Carlos Filizola e Sixto Pereira estão sofrendo ameaças por grupos de senadores golpistas com a suspensão de seus mandatos por terem se oposto a um julgamento político, mesmo estando claro que todo o processo foi viciado.
Estes são alguns dos verdadeiros fatos que clamam a opinião pública paraguaia e internacional, a todos os democratas da América Latina e do Paraguai, as instituições internacionais e regionais a não cederem na denúncia do processo ilegal que resultou na cassação de Fernando Lugo, visando evitar que novas violações dos princípios democráticos e da Constituição Paraguaia fiquem impunes.