sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Belo Monte e produção de lixo

Trava-se no Brasil atual árdua batalha de ideias a respeito da geração de energia em represas a serem construídas em nossos rios amazônicos. A razão para os que defendem a construção dessas represas é que o Brasil precisa se industrializar para crescer. O processo de industrialização requer energia

         Segundo esses grupos não há opção fora da industrialização. Precisamos, entretanto, entrar no mérito da questão e descobrir o que significa industrialização em termos atuais.

         O processo industrial ainda guarda alguma semelhança com suas origens lá no século XVIII. Todavia, o tempo tornou a atividade industrial bastante agressiva para com a vida, perdulária em relação a seus insumos e irresponsável para com seus resíduos.

         É impossível negar a agressão à vida que a industrialização tem patrocinado. As dezenas de barragens projetadas para a Amazônia irão, sem dúvida, agredir populações, animais – peixes em especial - e a mata. Some-se a isto o fato que a energia a ser gerada pelas usinas a serem operadas em função dessas barragens irá alimentar complexos industriais situados a 3.000 ou 4.000 km de distância, com a enorme perda de potência daí resultante.

         Não se pode esquecer os demais insumos necessários à produção industrial: minérios, celulose, polímeros, metais, corantes e outros materiais. A maioria desses insumos depende da extração do solo, enquanto que a celulose requer espaço para a implantação dos chamados “desertos verdes”, apelido dado às imensas monoculturas de eucaliptos que rodeiam as fábricas de papel.

         Tudo isso já seria um mal se houvesse alguma preocupação para a reciclagem desses materiais. Como não há qualquer planejamento neste sentido, o mal se agrava. Cabe mencionar ainda que o processo industrial atual visa produzir bens que tenham uma pequena vida útil. Além disso, as campanhas publicitárias se encarregam permanentemente de divulgar que já existe um modelo mais avançado do que aquele que acabamos de comprar, levando o cidadão comum a pensar em consumir o novo e se desvencilhar do velho.

         Todos esses elementos se encarregam de gerar, a cada dia, milhões de toneladas de resíduos resultantes do processo de industrialização que não serão reciclados. Tão grave é a questão que recentemente o porto de Santos, em São Paulo, recebeu clandestinamente alguns containers de lixo prensado provenientes da Grã Bretanha. Podemos imaginar quantos outros containers passaram ou foram exportados para outros países.

         Poder-se-ia perguntar por que a indústria não recicla o lixo gerado por seus produtos, reduzindo assim o impacto causado pelo resultado de seu negócio. Dentre inúmeras razões, em sua maioria financeiras, vale citar que em muitos casos, as empresas de uma cadeia produtiva são controladas por um mesmo grupo empresarial ou têm a participação deste. A reciclagem pura e simples para reduzir a geração de lixo afetaria negativamente o negócio de parcela dessa cadeia, reduzindo o lucro de seus acionistas. Não se esqueçam que o sistema é capitalista.

         Ao final das contas, vamos estupidamente trocar a preservação de nosso espaço amazônico pela produção de milhões de toneladas lixo em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras metrópoles mundo afora. A isto se chama industrialização. Neste ponto é mais do que pertinente perguntar aos defensores da demolição da Amazônia: não há uma opção mais inteligente?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Breve história e perspectivas do conflito entre palestinos e israelenses

A história do espaço geográfico, dividido entre palestinos e israelenses, limitado pelas colinas de Golã, na fronteira com o Líbano, ao norte, pelo deserto de Negeb, na fronteira com o Egito, ao sul, pelo rio Jordão, na fronteira com a Jordânia, a leste e pelo mar Mediterrâneo a oeste tem sido marcada, ao longo dos séculos, por conflitos.

Razões religiosas, econômicas e políticas têm levado, ao longo de séculos, ambos os povos a crer que o espaço é seu. Até mesmo o Antigo Testamento registra o confronto entre o pequeno Davi, um israelense, e o gigante Golias, um palestino.

Este problema nunca foi, de fato, encaminhado para uma verdadeira solução. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, ou mais precisamente em 1947, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), a questão voltou a ser abordada. Desta vez, acreditava-se que com a paz global então alcançada, esta questão menor seria facilmente superada. Os fatos, todavia, não seguiram esta lógica.

A ONU criou o Estado de Israel, mas esqueceu-se de criar um Estado Palestino homólogo. Lamentável falha! Há 65 anos existe um estado israelense com todas as instituições que um moderno estado requer e fronteiras definidas. A indefinição gerada pela atitude da ONU, em 1947, tem dado ensejo a seguidos conflitos, visto que os palestinos se acham no justo direito de desfrutarem das prerrogativas de viverem em um estado como cidadãos, com direitos e deveres, protegidos pela lei dentro de suas fronteiras e reconhecidos pela comunidade internacional.

Em virtude do desequilíbrio produzido pela omissão da ONU, o Estado de Israel tratou de se proteger por estar cercado de países muçulmanos. A indústria bélica israelense é das mais avançadas do mundo. O arsenal israelense inclui até mesmo armamento nuclear, graças ao apoio tecnológico de potências ocidentais. Ademais, as forças armadas israelenses estão entre as mais bem treinadas do mundo. Este quadro refletiu-se nas repetidas vitórias de Israel em todos os conflitos com países muçulmanos da região aliados da causa palestina.

Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a Organização de Libertação da Palestina (OLP), sob o comando de Yasser Arafat, gradualmente conquistou o reconhecimento internacional, tornando-se a representante do povo palestino, culminando nos Acordos de Oslo, assinados com Israel em 1993. Esses acordos definiram a Autoridade Nacional Palestina como um grupo provisório para administrar partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza (mas não de Jerusalém Oriental), ficando ainda pendente uma solução final para o conflito.

A excessiva tolerância da OLP nas negociações com Israel despertou a oposição de grupos dentro do movimento palestino, particularmente do Hamas que rompeu com a OLP e hoje administra isoladamente a Faixa de Gaza. O perfil agressivo do Hamas levou Israel a bloquear a Faixa de Gaza. A saída de pessoas e a entrada de mercadorias - até mesmo alimentos e medicamentos - por terra, mar e ar só é possível com a permissão das autoridades israelenses. Para tentar sair desse bloqueio, o Hamas, volta e meia, agride o sul de Israel com armamento suprido pelo Irã. Em contrapartida, Israel muito melhor equipado para a guerra, executa, como represália, verdadeiros massacres contra a população de Gaza.

Na outra área sob controle palestino, a Cisjordânia, o atual governo de extrema direita de Israel prossegue na sua provocadora estratégia de ocupar espaços estabelecendo novos assentamentos para dificultar eventuais negociações e acordos futuros.

Por outro lado, agências multilaterais, incluindo a União Europeia, têm trabalhado lado a lado a com a Autoridade Nacional Palestina para construir as bases de um futuro, democrático, independente e viável Estado Palestino convivendo na vizinhança de Israel. Atualmente, a área ocupada por assentamentos israelenses e bases militares de Israel na Cisjordânia se aproxima de 30% do território. Para agravar a situação, o governo radical de Israel planeja ampliar os assentamentos e, em consequência, o nível de tensões entre os dois lados.

A solução para o problema passa pela eleição de um governo disposto a negociar e a ceder em Israel. Além disso, não há estado sem fronteiras e o atual estado palestino, reconhecido pela ONU, não tem fronteiras definidas. Em seguida, o Estado Palestino assim formado deverá ter suas instituições – parlamento, constituição, poder judiciário, moeda, forças armadas regulares, participação em organismos internacionais, representações diplomáticas, dentre outras – legalmente estabelecidas. Após esta fase o novo estado deverá receber o aporte de recursos a fundo perdido para dar início às suas operações.

O recente reconhecimento pela Assembleia-Geral da ONU do novo Estado Palestino já é um primeiro passo na direção da solução. Mesmo alguns países da Europa Ocidental (Alemanha e Grã-Bretanha), que se abstiveram de votar na seção que conferiu o status de Estado observador à Palestina, já demonstram seu descontentamento com os planos de Israel para ampliação dos assentamentos na Cisjordânia. Merece ainda cuidado o trato com grupos de oposição dentro do movimento palestino, como é o caso do Hamas. Com as devidas ressalvas, este quadro indica abertamente a perda de influência dos Estados Unidos, os maiores aliados de Israel no Ocidente. Enfim, a situação permite uma visão otimista da questão e uma redução da violência no médio prazo.