terça-feira, 27 de novembro de 2012

A industrialização implica obrigatoriamente em progresso?

Cada vez mais se associa a geração de energia ao progresso por meio da industrialização. No entanto, cabem algumas questões a respeito dos conceitos de progresso e industrialização.

Uma parcela expressiva do processo de industrialização implica na produção de inutilidades e produtos mais agressivos. A produção de telefones celulares é um belo exemplo. Todas as semanas, os fabricantes anunciam novidades nesses aparelhos. As campanhas publicitárias pregam abertamente que seu atual aparelho está superado. Os mais influenciáveis desativam seus aparelhos em uso e adquirem um novo que, digamos, com um clic, permite o contato com alguém que está na Lua (sic). Curioso é que o sistema não diz sequer uma palavra sobre os riscos à saúde que o uso de telefones celulares pode causar.

Outro exemplo são os televisores de última geração que, conectados a uma rede a cabo, permitem que o assinante tenha acesso a dezenas de canais que a televisão aberta não alcança. É preciso mencionar que, dentre essas dezenas de canais, 10 ou 12 sejam canais evangélicos, outros 12 ou 15 sejam canais de inutilidades e mais outros 15 ou 16 sejam canais de filmes quase que totalmente dedicados a divulgar o glamour da sociedade norteamericana e a “eficiência” de seu sistema policial frente à violência dos imigrantes latinoamericanos e asiáticos. Em resumo, paga-se por 60 ou 70 canais quando apenas 4 ou 5 transmitem algo aproveitável.

Caminhando em outra direção, temos a indústria alimentícia. Esta se especializou em produzir alimentos embalados e conservados à base de aditivos químicos cuja agressividade à saúde e à vida está longe de ser inteiramente conhecida e divulgada. Mesmo os alimentos ditos “naturais” só chegam à nossa mesa depois de serem literalmente lavados com agrotóxicos, pesticidas e outros venenos produzidos pela indústria ao arrepio do interesse público.

Pode-se ainda questionar o papel das indústrias siderúrgica, química, petroquímica, metalúrgica, de papel e celulose, de cimento, farmacêutica e outras mais em sua agressividade à vida.

No Brasil, parcela importante do setor industrial é de origem estrangeira. Seu lucro, evidentemente, é remetido para as matrizes. Some-se a isso o fato de que, para atrair esse tipo de negócios, os governos brasileiros concedem a essas empresas generosas isenções fiscais. Assim, o saldo da atuação dessas empresas no país é quase nulo, salvando-se apenas o emprego mal remunerado da mão-de-obra nacional.

Não trata esse texto de advogar a tese da desindustrialização pura e simples. Trata, sim, de destacar que parcela importante dos processos industriais produz energia, em geral sob a forma de calor. O simples emprego desse calor para a geração de energia elétrica resultaria em grande redução da demanda e dos custos de produção. Adotando essa alternativa, algumas empresas poderiam mesmo exportar energia elétrica para o sistema unificado nacional.

Esta opção reduziria ainda a necessidade de construção de gigantes hidrelétricas no coração da nossa Amazônia, com todos os maus impactos que a operação dessas usinas traz para a região e a perda de rendimento que ocorre na transmissão dessa energia para as regiões consumidoras no sul e sudeste do Brasil.

As sociedades mais avançadas do planeta já não se industrializam mais da forma convencional, como ainda é o caso do Brasil. Essas sociedades aproveitam as vantagens do atraso em outras regiões, transferem suas unidades industriais para lá e se dedicam internamente ao desenvolvimento de pesquisa e tecnologia. Assim, essas sociedades incentivam a parceria entre suas universidades e as empresas visando gerar conhecimento e tecnologia. Em paralelo, a opção de gerar conhecimento e tecnologia exige um consumo muito baixo de energia quando comparado ao modelo de industrialização.

Este é um quadro muito claro à nossa frente. As sociedades que têm um planejamento minimamente inteligente já demoliram ou estão demolindo suas chaminés e progredindo. Todavia, muitos brasileiros ainda associam o progresso ao surgimento de chaminés. Um brasileiro que pensa em dedicar-se à pesquisa e gerar verdadeiro progresso precisa emigrar para os países do centro do sistema.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A construção de centrais hidrelétricas na Amazônia

Temos ouvido até cansar das vantagens da geração hidrelétrica na Amazônia. Não é bem assim. Antes de acreditarmos em tudo que se diz e escreve, precisamos conhecer o contraditório, ou seja, as enormes desvantagens da construção dessas megabarragens em pleno coração da maior floresta do planeta. Vejamos:

1.      A questão do custo da energia – com a geração na Amazônia e o consumo no sul e sudeste do país ocorre uma perda de potência variável, porém considerável, em função das grandes distâncias percorridas pelas linhas de transmissão. Este fenômeno reduz a eficiência da usina e eleva o custo da energia gerada;

2.      A questão das concessões – apesar de ter sua construção bancada por dinheiro público, as usinas hidrelétricas têm sua operação concedida a grupos privados. A operação por meio da concessão agrava a questão da justiça social no Brasil. Todos os consumidores da energia gerada nessas usinas transferem renda para grupos privados, ampliando, desse modo, a concentração da riqueza no país;

3.      A questão social – se o Estado transfere grande parte da renda da venda da energia para grupos privados, ele abre mão de recursos para a construção de novas escolas, remuneração de professores e para melhorar o atendimento de saúde da população. Combater o crime construindo penitenciárias não é a solução. A solução está em reduzir a desigualdade social que prevalece no país. O modelo de concessão da operação de hidrelétricas apenas agrava a desigualdade e a injustiça social em nosso país ao concentrar renda e riqueza;

4.      A questão do uso da energia – a energia gerada pelas hidrelétricas da Amazônia será empregada majoritariamente na indústria, ou seja, na produção de quinquilharias de plástico, borracha, vidro, metais, papel e outros materiais. Uma rápida visita aos lixões de nossas grandes metrópoles vai nos mostrar todas essas porcarias por lá às toneladas. Esses materiais, somados à matéria orgânica em decomposição vão liberar tintas, corantes, resinas, resíduos e chorume para emporcalhar nossos lençóis freáticos. Alguns rios que brotam desses lençóis já nascerão sujos por causa desse iníquo processo;

5.      A questão ambiental - muitas espécies de peixes amazônicos desovam em rios que dependem da influência andina, incluindo os que migram para as cabeceiras. A quebra da conectividade dos rios provocada pelas barragens ameaça seriamente a existência dessas espécies. Ao analisar cada um dos 150 projetos de hidrelétricas amazônicas no Brasil, Peru e Colômbia, pesquisadores têm observado que 60% deles provocariam, em muitos rios, quebra da conectividade entre as cabeceiras protegidas dos Andes e as planícies da Amazônia. Além disso, 80% das barragens propostas vão provocar perda de florestas. Pelo menos 50% destas novas construções foram consideradas de alto impacto ambiental e somente 19%, de baixo (Globo Ciência – 21/11/2012).

O Brasil é um país que exporta soja em lugar de óleo ou farelo de soja; exporta minério de ferro em lugar de pellets ou sínter; exporta milho em lugar de farelo ou óleo de milho. Alguns patriotas estão a reclamar porque estão levando nosso nióbio da Amazônia. Se não o levassem, o que faríamos com o nióbio, já que não temos tecnologia para industrializá-lo? O Brasil é simplesmente um país tutelado.

A título de ilustração vale mencionar o Professor Gerald Crabtree, gerente do laboratório de genética da Universidade de Stanford (Califórnia) que, em artigo recente publicado na revista Trends in Genetics (Tendências na Genética), afirmou que o apogeu da inteligência humana ocorreu há 3.000 ou 4.000 mil anos atrás e que no momento a tendência é de declínio. É possível que esta seja a explicação para tantos problemas no Brasil.