quinta-feira, 29 de maio de 2008

Terra à vista


Argemiro Pertence


A cada dia somos bombardeados com notícias sobre a agressão ao meio ambiente causada pela civilização industrial, atualmente em franco processo migratório para a periferia do sistema, pela absoluta falta de espaço, infraestrutura e meios para sua ampliação nos países do centro.

Assim é que China, Índia, Brasil, África do Sul e outros vêm recebendo notáveis volumes de investimentos em novas indústrias, recebidas auspiciosamente pelos líderes políticos desses países, com a velha e surrada desculpa de vão gerar empregos e riqueza.

Toda pessoa medianamente informada sabe que não é bem assim que as coisas se dão. Serão gerados empregos, é verdade. Não tantos, porém. Os processos industriais de hoje prescindem cada vez mais de trabalho humano. A automação, a informática e a robotização ocupam hoje espaços de trabalho antes reservados a pessoas menos preparadas. A geração de riqueza para a sociedade local também não se dá em nível tão digno de nota. De início, os governos concedem toda uma série de benefícios fiscais e tributários visando atrair os investidores. Por seu turno, os salários na periferia do sistema são muito inferiores aos praticados no centro do sistema. São salários que permitem apenas a sobrevivência do operário, sem permitir que ele avance na escala social.

Adicionalmente, os investimentos implicam cada vez mais em encomendas de equipamentos e serviços industriais produzidos nos países de economia mais avançada ou em suas filiais no Terceiro Mundo. No final, tudo acaba ficando entre eles mesmos. Importam-se plantas industriais prontas, como pacotes fechados, conservando-se o conhecimento guardado a sete chaves nos bancos de patentes do Primeiro Mundo. Em resumo, os capitais oriundos dos países ricos têm toda a proteção nos países mais pobres, inclusive a garantia da remessa dos lucros para suas matrizes a cada balanço anual.

Cabe, entretanto, uma questão: no frigir dos ovos, o que sobra para os países periféricos, além de sub-emprego, exploração e exportação de capital? A resposta é simples: além do que já foi dito acima, é nos países mais pobres que ainda se encontram as maiores reservas de energia do planeta – petróleo, gás e carvão. Não há mais espaço nem clima moral para europeus, norte-americanos e japoneses prosseguirem na sua orgia energética em seus próprios territórios. Daí a migração!

Esquecem-se, todavia, que no médio prazo seus excessos vão prejudicar toda a natureza, inclusive eles mesmos. Não nos surpreendamos, contudo, com esta aparente miopia. A lógica do lucro a qualquer preço é que articula esses movimentos e produziu a atual migração. E ela se faz de cega.

Felizmente para todos, já se fazem prognósticos sobre o deslocamento do atual eixo de comando da economia do velho e desgastado Ocidente para o exótico e surpreendente Oriente, fazendo antever uma nova aurora da civilização chinesa - a mesma que deslumbrou Marco Polo - com seus valores diferentes, como um parâmetro para o futuro.

domingo, 18 de maio de 2008

Democratização do acesso à energia

Energia, como a educação ou a saúde, é um elemento essencial ao desenvolvimento. Questão de sobrevivência para muitos, o acesso à energia é, a porta de entrada para a educação, para a saúde e para a longevidade. Indispensável à qualidade de vida. Os combustíveis e a corrente elétrica fazem parte de nosso cotidiano. A energia tornou-se tão vital quanto a água e o ar. De norte a sul, de leste a oeste, os cidadãos devem ser os atores do debate sobre energia e não apenas usuários ou consumidores.

A energia é a força motriz das sociedades, indispensável aos países e populações. A energia está na base da maioria dos processos que visam a satisfação das necessidades humanas: domésticas e comunitárias, agrícolas e industriais.

Um terço da humanidade não tem acesso às fontes de energia, exceto a lenha; 20% da população mundial consome 80% da totalidade da energia produzida mundialmente.

Desenvolvimento significa que o conjunto da sociedade humana tenha acesso à energia - proveniente de fontes diversificadas - algo como uma quota mínima vital.

Todavia, desenvolver nos dias de hoje, não é apenas produzir. É também organizar o desenvolvimento: evitar o desperdício, os problemas relacionados à utilização de fontes de energia poluentes para o transporte, o aquecimento e a refrigeração que caracterizam o atual estágio de desenvolvimento de nossas aglomerações urbanas. É possível viver-se em cidades "mais limpas"?

A energia é necessária para a iluminação, refrigeração, produção (agrícola, em particular), educação, e saúde; ela permite a melhoria do nível de vida em geral. É por esta razão que a energia é essencial a toda tentativa destinada a romper o ciclo da pobreza.

Partilhar é, portanto, pensar a energia em termos de direito fundamental. Partilhar, torná-la acessível a todos, é fazer uma escolha social que deve ser debatida e decidida o mais próximo possível do cidadão comum. O debate deve se dar de maneira franca e abrangente, incluindo as questões econômicas e políticas locais, assim como os aspectos ligados ao meio ambiente e à cooperação entre Estados. Partilhar é democratizar o controle das fontes de energia e sair de um sistema de decisão opaco e de uma lógica de lucro exacerbado.

A opinião pública se sente cada vez mais envolvida com as questões ligadas à energia porque têm a ver com a sua segurança. Os acidentes ambientais e as questões de energia nos tocam de perto, pois não estão confinados a fronteiras e, paradoxalmente, as decisões estratégicas sobre energia são tomadas longe do cidadão.
Proteger significa colocar a questão do desenvolvimento sustentável: o futuro das fontes de energia renováveis, dos rejeitos nucleares, das reservas de fontes de energia fóssil, das necessidades de energia das populações que ainda não têm acesso a ela.

As escolhas em matéria de energia não podem ficar limitadas apenas à preocupação com seus efeitos sobre o meio ambiente. Neste contexto, como responderemos às necessidades de energia e asseguraremos, ao mesmo tempo, o desenvolvimento sustentável em escala planetária.

A instituição de um "Direito à energia" passa a ser uma questão para todos nós. Trata-se de reconhecer doravante que o direito à energia deve ser encarado como um dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Com base nos dados até aqui citados, um modelo centrado exclusivamente no lucro e controlado por uma dezena de megacorporações supranacionais não permite qualquer avanço na direção da democratização do acesso à energia. São estas corporações o principal obstáculo à democratização do acesso à energia, se o acesso à energia, como à saúde, à educação, ao transporte, além da água e do ar, será por nós encarado como direito fundamental da pessoa humana.

Não se pode, entretanto, subestimar o poder das corporações multinacionais de energia. Até aqui elas foram capazes de eleger e derrubar governos, tanto em países ricos como na periferia do planeta. Fazem maciços investimentos em "marketing" e propaganda. A maioria delas está ligada a atividades esportivas e à promoção de ídolos populares. Encontram ainda espaço para aplicação de recursos em atividades de forte apelo social, em troca de abatimentos em sua dívida tributária. Não é, portanto, uma tarefa das mais simples remover este obstáculo do cenário mundial. Há, porém a necessidade de que este debate seja iniciado e esta é a nossa hora.

De início, propomos que tenhamos como meta a reversão dos papéis até aqui desempenhados pelos diferentes atores. Visto que o acesso à energia passará a ser um direito fundamental da pessoa humana, não é mais possível que ela continue a ser usada como fonte de lucros exorbitantes para alguns e um pesadelo para a maioria.

Assim, é imperativo que os cidadãos assumam o controle das decisões sobre energia em nível mundial e que se interrompa imediatamente o processo, hoje em marcha, de privatização deste direito.

COANDO UM MOSQUITO E ENGOLINDO UM CAMELO (ou a corrupção)

Na edição de janeiro de 2008 da revista Brasil Energia, o empresário
Eike Batista, dono da holding EBX, controladora da MMX mineradora,
revelou alguns dados que associados a fatos recentes fazem o escândalo dos
cartões corporativos do governo Lula parecer brincadeira. Indagado sobre
o faturamento do grupo que comanda, Eike foi taxativo: estamos numa
fase pré-operacional. O valor de mercado da MMX (mineração) é
de aproximadamente US$ 8 bilhões. O valor da LLX (logística) é de cerca
de US$ 2 bilhões. O da MPX (energia elétrica), que abriu o capital
em dezembro gira em torno de US$ 4 bilhões. E o da OGX (petróleo e gás)
está entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões.

Em outras palavras, uma mineradora estreante, desconhecida da maior
parte do público e dirigida por um auto-assumido play boy vale R$ 8
bilhões, enquanto o governo Fernando Henrique vendeu a Vale do Rio Doce,
a maior e mais produtivas mineradora de ferro do mundo por R$ 3,3 bilhões,
ou seja, menos da metade do valor da MMX!!!

Para piorar o quadro, uma notícia de 27/09/2007, veiculada no sítio
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios revela algo estarrecedor:
“a forte valorização das ações da Companhia Vale do Rio Doce nos últimos
dias fez o valor de mercado da mineradora atingir R$ 291,14 bilhões,
encostando no da Petrobras, atualmente em R$ 291,22 bilhões, segundo dados da Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa).

Portanto, a partir de dados da Bovespa, o valor de mercado da Vale é
atualmente cerca de 90 vezes o preço cobrado pelo governo tucano
pela empresa num daqueles obscuros leilões dos anos 90. Para agravar ainda
mais.
O grupo que adquiriu o controle da Vale no leilão dos tucanos foi um tal
de Bradepar, uma empresa de fachada, criada pelo Bradesco para se esconder,
já que o próprio Bradesco participou da “avaliação” da Vale do Rio Doce e
não poderia arrematar seu controle, conforme as regras do leilão (jornal
Brasil de Fato de 24/08/2007).

Este quadro apresenta indícios muito claros de um crime. As diferenças
entre o valor de mercado e o valor da avaliação são muito gritantes
para serem atribuídas apenas à incompetência dos avaliadores. Até hoje
ninguém investigou as arbitrariedades desse quilate praticadas pelos tucanos e
seus asseclas. Um país sério não conviveria com fato semelhante por mais de
meia hora. No entanto, já se passaram mais de 10 anos e todos os
tucanos envolvidos nessa lama continuam vagando lépidos e fagueiros pelo
mundo afora, vomitando regras de boa conduta. Alguns deles ainda são
mantidos pelos impostos que nós pagamos, como é o caso do Fernando Henrique.

O volume de dinheiro público envolvido neste imbroglio daria para
manter a farra com os cartões corporativos do governo Lula por mais de
100 anos. Exigimos que se apurem todos os crimes e se punam os
criminosos, desde os depósitos na Suíça até a tapioca do ministro, nesta ordem. Isto
me faz recordar o aforismo bíblico que nos aconselha a eleger
prioridades.
Será que estaríamos “coando um mosquito e engolindo um
camelo?” -
Evangelho de São Mateus 23:24.

Guerras e energia

Fica evidente a estreita relação entre energia e guerra. Energia para fazer a guerra e guerra para destruir com energia.

Guerras e energia marcaram o último século de vida da humanidade. Fizeram-se guerras para se obter acesso a fontes de energia e, para se fazerem guerras, tem sido essencial o emprego de energia.

A atual ocupação do Iraque, o isolamento do Irã e da Líbia e a invasão do Kuwait pelo Iraque são exemplos bastante recentes de conflitos bélicos motivados pelo acesso a fontes de energia. São também exemplos de conflitos bélicos potenciais as dezenas de instalações militares dos Estados Unidos no Oriente Médio - como antes eram as dos britânicos e franceses - berço de cerca de 75% de todo o petróleo conhecido no planeta.


Por outro lado, não se fazem guerras sem que se disponha de fontes seguras de energia. Requer energia o transporte e a movimentação de tropas, assim como requer energia o lançamento e o curso de mísseis transportadores de cargas mortíferas de explosivos.


O bombardeiro norte-americano B-29 - apelidado `Enola Gay em homenagem à mãe do piloto da missão - que lançou o artefato nuclear , apelidado `Little Boy`, sobre populações civis em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, era movido a querosene, derivado de petróleo.


Também o míssil balístico de teste, lançado pela Coréia do Norte, no ano passado, sobre o Mar do Japão, foi movido a combustível gerador de energia.


Fica evidente a estreita relação entre energia e guerra. Energia para fazer a guerra e guerra para destruir com energia


Dentro deste mesmo tema é notícia atualmente um pretenso recuo da Coréia do Norte em seu programa nuclear, também pretensamente tido como tendo sido concebido para uso pacífico. A palavra `pretenso` é aqui empregada dado que nossas fontes de informação são a grande mídia, cada vez mais ocupada em nos informar apenas sobre aquilo que ao `sistema` interessa ou em nos distrair dos temas essenciais.

Dizem os jornalões e as mega-redes de TV que, após negociações entre norte-americanos e norte-coreanos, estes, após consulta a seu governo, concordaram em paralisar seu programa nuclear, tido como `pacífico`, sem qualquer contrapartida norte-americana.

Nem em contos da Carochinha tal enredo seria plausível. Todavia, é isto que nos contam os órgãos de informação lidos por quase 7 bilhões de almas humanas.


A produção de armas nucleares é apenas mais uma etapa do processo de geração de energia a partir de reatores nucleares. O uso de energia nuclear, mesmo para uso pacífico, traz consigo uma série de inconvenientes, riscos para a saúde humana e para o meio ambiente. Sendo uma etapa adicional, ela é opcional. Todos os países do chamado G-8 dispõem de arsenais nucleares ou tecnologia para fazê-lo. Somados a estes, temos a Índia, o Paquistão e a China. Também a energia gerada a partir do petróleo tem seus inconvenientes para a saúde humana e para o meio ambiente. No entanto, só a energia nuclear foi satanizada e monopolizada pelas grandes potências.

Em vista desse quadro, países de menor expressão bélica, mas seriamente ameaçados por interesses externos e vizinhos, buscaram armar-se preventivamente, como estão armados os membros do G-8. Num mundo marcado pelas agressões é apenas previsível que o Irã, a Coréia do Norte e outros países da periferia do `sistema` queiram ter poder de dissuasão ante seus potenciais agressores. Esta iniciativa trouxe-lhes, porém, sérios percalços. Forma enquadrados como apoiadores do terrorismo e como integrantes do `Eixo do Mal`. Como resultado, sofrem bloqueio econômico, financeiro e humanitário.

Esses dados, infelizmente não circulam livremente. Circulam cercados de informações deturpadas, parciais e míopes. Circulam em meio a tantos outros assuntos de menor importância para terem sua importância reduzida.

Pobre de quem pensa que está se informando ao ler jornais.

Argemiro Pertence

Estados Unidos de olho na América Latina

A crise diplomática na região e as ações do governo espanhol contra brasileiros é tema de debate com Argemiro Pertence

O diretor da Casa da América Latina, Argemiro Pertence, avalia que há influência de Bush no episódio entre Colômbia e Equador.

“Não há como negar o interesse de Bush nessa região. A Colômbia é talvez o único país latino-americano que ainda não reagiu de modo claro a essa interferência norte-americana nos seus negócios internos. Os demais países: Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai, Argentina e a Venezuela, este de modo muito claro, elegeram governantes que pretendem mudar esse panorama. Estão reagindo, tomando uma linha um pouco mais independente da tutela norte-americana. Os Estados Unidos têm uma rede de satélites que monitora o mundo todo. Sabem o que cada um faz em cada parte do globo. Certamente, eles monitoram os movimentos das Farc naquela região”, disse o ex-vice-presidente e ex-diretor de Comunicações da Aepet.

Pelo fato de a América Latina possuir grandes reservas de petróleo – a maior parte na Venezuela – e com a divulgação das recentes descobertas do mega campo de Tupi pela Petrobrás, Argemiro acredita que o presidente dos Estados Unidos tenha interesse em desestabilizar a região para retomar o poder que vêm perdendo nos últimos anos. “Nos últimos dez, doze anos, foram eleitos governos mais independentes dos Estados Unidos. É muito patente a perda de domínio norte-americano sobre esses países. Nada mais previsível que uma reação do governo norte-americano, sobretudo de George Bush, que é um homem de guerra. E guerra para eles é negócio, dá dinheiro. Certamente nesse Estados Unidos de olho na América Latina conflito entre a Colômbia e o Equador tem o dedo norte-americano”, avaliou.

Argemiro lembrou, em programa realizado na Rádio Petroleira, que as maiores economias não têm reservas de petróleo em seu subsolo e dependem de importação e que os Estados Unidos consomem a quarta parte do petróleo consumido em todo o mundo. “A Venezuela é exponente no assunto. O México já o foi, não é mais. Vai ter que importar em breve porque vendeu tudo para o vizinho, os Estados Unidos. A Bolívia tem muito gás. A Colômbia também tem um pouco de petróleo. São países que podem suprir a demanda de alguns países, ainda. E, como eu disse, onde tem petróleo tem conflito”, disse.

SOBERANIA – Argemiro considerou um fato gravíssimo a invasão ao Equador, um país soberano. “A Colômbia, com seu governo de direita, liberal e autoritário, atropelou toda a legislação e acordos e atacou guerrilheiros e um civil. É um fato que merece reação unânime de toda a comunidade latino-americana independente. Inclusive, eu esperaria um pouco mais de ação, de reação do governo do Brasil, que até agora não se fez ouvir. Mas não só do Brasil, também da Argentina, Bolívia. A Venezuela tem participado bem como mediadora entre os reféns e as Farc. O governo da Colômbia tem de ser chamado à atenção. Eu diria até punido. Hoje se fala em boicotar os jogos olímpicos da China por causa do Tibet. Eu penso: que se boicote a Colômbia”, afirmou.

Em sua avaliação, os países latinoamericanos não deram certo até hoje porque a população, em sua maioria, vive em condições precárias, sem saúde pública de qualidade, educação, segurança nem infra-estrutura. “Não deram certo também porque a América Latina ficou como uma espécie de herança distrital da maior economia do mundo, os Estados Unidos”, alfineta.

Questionado por Nato Khandall, apresentador do programa, se o presidente Lula não deveria ter tido um papel mais atuante nesse conflito, Argemiro reconheceu que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez possui qualidades de liderança, mas que também tem um lado “caudilho”. Segundo ele, os presidentes Lula, Evo Morales, da Bolívia, e Néstor Kirchner (agora sua mulher, Cristina), da Argentina, também têm postura de liderança e poderiam fazer algum contraponto a Chávez. “Todavia, eles se recolheram a sua insignificância e permitiram que apenas Chávez aparecesse. Aparecesse – eu diria – até bem, em condições de negociar entre o governo colombiano e as Farc a libertação de reféns. Isso poderia ser muito bem bancado por toda a comunidade latino-americana. Em função da passividade de outros líderes, surgiu como expoente o Chávez”, analisou.

Outro tema abordado no programa foi o tratamento dispensado pelo governo espanhol a alguns brasileiros impedidos de entrar em Madri, que foram chamados de “cachorros”. Segundo o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, não seria o caso de pedir desculpas porque cachorro, em espanhol, significa “filhote”, Khandall questionou se os espanhóis continuam vendo os brasileiros como colonizados após quinhentos anos de dominação espanhola na América Latina.

Na opinião de Argemiro, o europeu ainda encara os povos da periferia – América Latina, África e boa parte da Ásia – com preconceito. “Essas pessoas têm chance na Europa hoje de ocupar postos subordinados, para fazer tarefas que os europeus não fazem mais. Todavia quando um latino-americano, o africano ou o asiático tentam ocupar uma posição de cidadão de fato, um espaço que eles (europeus) têm como deles, há essa reação, esse bloqueio, preconceito que volta a ressurgir após 500 anos de colonização. Ainda nos vêem assim”, concluiu.

O que nos aguarda em matéria de energia?

Grandes ameaças pairam sobre os consumidores de energia no futuro próximo. Ao passo que os países da OCDE já se aperceberam dos riscos que uma sociedade excessivamente dependente de energia proveniente de fontes fósseis e esgotáveis (petróleo, gás natural e carvão), em boa parte importada, alguns países da periferia do capitalismo - China, Índia, Brasil e México, particularmente os dois primeiros - vêm apresentando índices de crescimento econômico substantivos e que se fazem acompanhar por aumento da demanda de energia primária para sustentar este nível de desenvolvimento.

Apenas nos últimos 30 anos, a China e a Índia triplicaram seu consumo de petróleo e carvão. Nada indica que haverá, no curto e médio prazos, uma inflexão nesta curva.

Embora este dois casos sejam exemplos destacados da voragem global pelo consumo e uso de energia, o panorama mundial apresenta, também, tendências preocupantes quanto ao aumento da demanda mundial em breve. Dados da Agência Internacional de Energia (World Energy Outlook – 2006) demonstram, de modo objetivo, o incremento do consumo de energia no plano mundial, conforme indica a figura abaixo
http://www.jornalorebate.com/70/1_clip_image001.jpg
Em 2006, do total de energia consumida no mundo, 75% eram provenientes de fontes fósseis – petróleo, gás natural e carvão – ao passo que a tendência projetada para as próximas décadas indica poucas mudanças na divisão desse bolo.

Há movimentos em diversos países no sentido de quebrar este círculo vicioso que leva ao esgotamento das fontes fósseis e à aceleração do aquecimento global, por força da crescente descarga de gás carbônico no ambiente. A alternativa tida como salvadora é a migração progressiva das fontes de energia esgotáveis para as fontes renováveis, especialmente a biomassa. Alguns países do hemisfério norte, inclusive os EUA, já têm programas em andamento que visam ampliar a participação da energia oriunda da biomassa para algo em torno de 20% do consumo total de energia em 2020.

Como os países do norte dispõem de pouca ou nenhuma área cultivável para a implantação das culturas destinadas à produção de biocombustíveis, é líquido e certo que essas serão implantadas nos países mais pobres do sul (América Latina, Ásia e África).

Nesse contexto, o Brasil desponta como líder na produção de combustíveis a partir de fontes renováveis, como o álcool da cana-de-açúcar e o óleo produzido da soja, mamona, dendê e outras oleaginosas. Entrementes, a oferta de biocombustíveis se dará à custa da redução da produção de alimentos ou da ampliação da fronteira agrícola em direção a áreas ambientalmente sensíveis como a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, com impactos certamente nefastos sobre a população, a fauna, a flora e o clima. Quem viver verá...

O petróleo a 120 dólares o barril

A cotação do petróleo alcançou US$ 120 o barril, em Nova York, nesta segunda-feira, 5 de maio. Depois das costumeiras manchetes para alarmar o mercado, vieram os “culpados”.

Desta feita, a culpa foi atribuída a conflitos trabalhistas e greves na Nigéria, o maior produtor africano, e à crescente escalada de tensão entre o Ocidente e o governo do Irã, pela insistência deste em prosseguir em seu projeto para dominar o ciclo completo de produção de combustível nuclear.

Não custa lembrar que, há exatamente um ano, a cotação do mesmo petróleo era de US$ 60 por barril. Nestes últimos 12 meses o preço do barril duplicou.

A situação nigeriana merece comentários: a produção neste país alcança cerca de 2,1 milhões de barris por dia, dos quais a Shell Oil é responsável por 1 milhão e a Exxon Mobil por 800 mil barris diários.

Para quem conhece a trajetória dessas duas mega-empresas fica fácil imaginar as causas da revolta dos trabalhadores nigerianos.

Em relação à situação iraniana, também, nada é novo. Desde o fim da monarquia-ditadura dos Reza Pahlevi, o povo e os governos iranianos vêm tentando afirmar sua autonomia, cultura, tradições e seu distanciamento do Ocidente. Por causa disto, está o Irã hoje cercado por exércitos, frotas e pressões de toda a sorte. Sendo o Irã o segundo maior produtor mundial de petróleo – atrás apenas da Arábia Saudita – não surpreende o quadro geopolítico que o envolve.

O fato objetivo é que situações de tensão não raro tornam-se reais e são fabricadas, visando alcançar objetivos menores e indisfarçáveis. No caso atual o alvo é a cotação do petróleo.

O já velho e desgastado capitalismo nunca conseguiu ser original. Sua razão de ser jamais foi outra senão a acumulação desmesurada e a qualquer custo. Durante a era do petróleo, que ora dá claros sinais de estar chegando ao fim, meia dúzia de gigantescas corporações privadas ocuparam-se, com apoio político e bélico de esquemas estatais, em controlar a principais áreas produtoras de petróleo do planeta – Oriente Médio, Leste da África e América Latina. A história sempre se repetiu: a cada novo foco de tensão potencial, os preços do petróleo eram inflados. Em muitas dessas situações, restou claro que o nível de tensões era artificialmente fomentado e elevado de modo a permitir especulação e transferência de riquezas através dos negócios com petróleo. As maiores vítimas desses mecanismos foram os povos do Oriente Médio.

Ainda hoje são evidentes as iniqüidades praticadas contra aquela gente. O custo de produção de petróleo naquela região não ultrapassa os US$ 3 por barril. Hoje, este mesmo barril é negociado no chamado “mercado” a US$ 120 por barril. Nenhuma lei da oferta e da procura poderia justificar tamanho absurdo.

Não obstante as evidências, nada indica que vá ocorrer alguma alteração nos rumos dos fatos nesta seara. Países de periferia grandes produtores de petróleo têm tentado dar seu grito de independência - até aqui sem grande êxito - como são os casos do Irã e da Venezuela. Outros ameaçam o reinado do petróleo com a produção de biocombustíveis, como o Brasil.

Apesar dessas tentativas, não há razões para crer que, no curto prazo, vá ocorrer alguma mudança sensível no andar da carruagem. Está muito claro para quem analisa os fatos que a humanidade atual desperdiça energia e, com isso, transfere e concentra riqueza na mão de poucos. A única mudança que me ocorre propor é uma redução voluntária na demanda por energia por parte das sociedades e pessoas mais conscientes.

O milagre chinês

A China é uma das economias que mais crescem no mundo. A taxa média do crescimento econômico chinês, nos últimos anos, tem sido constante e de quase 10% - taxa superior à das maiores economias mundiais, inclusive a do Brasil. O PIB chinês alcançou US$ 2,2 trilhões em 2006, fazendo dela a quarta maior economia do mundo. A economia chinesa representa atualmente 13% da economia mundial.
Diferentes fatores contribuíram para este sucesso, senão vejamos: (1) a entrada da China, a partir da década de 1990, na economia de mercado, ajustando-se ao mundo globalizado; (2) a China é o maior produtor mundial de alimentos - 500 milhões de suínos e 450 milhões de toneladas de grãos e é o maior produtor mundial de milho e arroz - sendo sua agricultura altamente mecanizada, gerando excelentes resultados de produtividade; (3) significativo aumento dos investimentos na área de educação, principalmente técnica; (4) novos investimentos em infra-estrutura com a construção de rodovias, ferrovias, aeroportos e prédios públicos e, em particular, a construção da hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo; (5) investimentos em mineração, principalmente em minério de ferro, carvão e petróleo; (6) controle governamental dos salários e regras trabalhistas. Com estas medidas as empresas chinesas têm seu custo reduzido, fazendo dos produtos chineses os mais baratos do mundo; (7) abertura da economia para a entrada do capital internacional. Muitas empresas multinacionais instalaram e continuam instalando filiais neste país, buscando baixos custos de produção, mão-de-obra abundante e mercado consumidor amplo e em expansão.
Embora apresente todos estes dados alvissareiros, a China enfrenta alguns problemas. Grande parte da população ainda vive na pobreza, principalmente no campo. A utilização em larga escala de combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo) tem gerado elevado nível de emissões de carbono. Apesar e por causa disso, o crescimento chinês mostra números espantosos, podendo transformar este país, nas próximas décadas, na maior economia do mundo.
Para atender toda essa demanda, a disponibilidade de energia é fator essencial. A matriz energética chinesa e fortemente baseada em carvão mineral e petróleo. Entretanto, a China produzirá 15% de sua energia a partir de fontes alternativas até 2020, alcançando 30% em 2050, quando se tornará líder mundial no segmento. Além disso, o país já é líder em pequenas centrais hidrelétricas e aquecimento solar de água e, em breve, vai ultrapassar os atuais líderes na produção de aero-geradores e painéis solares. Sua capacidade instalada para geração de energia solar chegará, este ano, a 1,5 mil MW. Os sistemas de aquecimento solar de água atingiram 100 milhões de m3 no ano passado, contra 30 milhões de m³ em 2000. É espantoso o número de aquecedores solares e painéis fotovoltaicos que se observa nos telhados das casas nas grandes cidades do país – Shangai, Pequim, Hangzhou e outras.
O atual potencial de utilização de biomassa é maior que o previsto nos programas oficiais. O país ganhou mais 2 GW de capacidade de geração elétrica à biomassa no ano passado, principalmente, derivada da cana-de-açúcar.
É notável o esforço chinês para reverter o domínio da geração térmica a carvão mineral (abundante em seu subsolo) e que corresponde a 80% da matriz de geração elétrica do país. A redução da dependência reduzirá as emissões de dióxido de carbono que cresceram bastante nos últimos anos, fazendo do país o segundo maior emissor atrás apenas dos Estados Unidos. Esta situação pode se inverter, nos próximos anos, se a tendência de redução das emissões for mantida.

A energia eólica é viável?

Manda o bom senso que as questões importantes em nossa vida sejam planejadas com antecedência e equilíbrio. Entretanto, a questão do suprimento de energia, na qual se alicerça toda a atividade humana, não tem recebido esse tratamento. Há quase 3 séculos, a humanidade vem baseando maciçamente sua dependência de energia em fontes fósseis – inicialmente o carvão mineral, com o advento da Revolução Industrial, e mais tarde com o petróleo e o gás natural. Atualmente, cerca de 80% da energia mundial é fornecida por fontes fósseis, como o petróleo (33%), o carvão (25%) e o gás (21%). As novas usinas hidrelétricas exigem a formação de mega-represas que inundam vastas áreas agricultáveis, deslocam populações e promovem grande impacto sobre a fauna e a flora da região.


Não fosse apenas uma questão de esgotamento dessas fontes, o impacto ambiental e sobre a vida na Terra que contra-indiciam a permanência desta situação e recomendam a migração para fontes de energia renováveis e menos agressivas.

Outro fator que determina ainda hoje o uso de fontes fósseis para geração de energia é o custo. O custo de geração de energia, a partir de fontes renováveis, ainda é superior ao das convencionais. Embora seja uma avaliação míope, este é único valor considerado nas decisões, desprezando-se os custos ambientais e sociais, além de uma visão de médio e longo prazos essencial neste tipo de questão.


É neste cenário que surge como um caminho a energia eólica ou energia dos ventos. Podemos considerá-la como uma manifestação da energia solar, dado que os ventos são causados pelo aquecimento diferenciado da atmosfera. Essa não uniformidade é creditada, dentre outros fatores, à orientação dos raios solares e aos movimentos da Terra.


As regiões tropicais, que recebem os raios solares quase que perpendicularmente, são mais aquecidas do que as regiões polares. Conseqüentemente, o ar quente que se encontra nas baixas altitudes das regiões tropicais e, por ser menos denso, tende a subir, sendo substituído por uma massa de ar mais frio, mais densa, que se desloca das regiões polares. O deslocamento de massas de ar determina a formação dos ventos.


Neste particular o Brasil é mais uma vez privilegiado, por ser um país tropical em cuja superfície incide, quase que inteiramente, radiação solar perpendicular a ela. Esta intensa insolação produz acentuada diferença entre a temperatura do ar sobre o território brasileiro e a temperatura do ar sobre os oceanos e áreas temperadas adjacentes. Deste quadro resulta que temos, no Brasil, áreas de excelente carga de ventos, propícias à geração eólica. As mais importantes áreas do Brasil, do ponto de vista de carga de ventos, são: o litoral do norte-nordeste, desde o Amapá até Pernambuco, o litoral sul, desde o Paraná até o Rio Grande do Sul, o sertão de Minas Gerais e Bahia e a região oeste do Paraná e Santa Catarina.


Já há no Brasil uma potência eólica instalada de cerca de 240 MW, em cerca de 1100 plantas, mormente nos estados do Ceará e Rio Grande do Sul. Países como a Alemanha e Dinamarca, com disponibilidade de ventos muito menores que as nossas, já dispõem de potências instaladas bastante superiores. A China é hoje o país que mais investe em energia eólica e, em breve, ultrapassará os europeus.


Infelizmente, a decisão de privilegiar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em energia renovável ainda compete aos governos. Nada, porém, mais desconectado do futuro que os governos de países de periferia como o Brasil.

As novas descobertas da Petrobrás

Vivemos a civilização do petróleo. Nunca a humanidade dependeu tanto de um bem como nós dependemos hoje do petróleo. Esta característica do chamado “ouro negro” fez dele motivo de conflitos, complôs e especulação jamais previstos para qualquer outro bem que a natureza nos ofereceu.

Há alguns anos, entretanto, renomados pesquisadores têm indicado como próximo o fim da era do petróleo. Números inquestionáveis indicam que sua demanda é hoje maior que a taxa de novas descobertas destinadas a suprir um consumo cada vez maior. De fato, as reservas de petróleo provadas - aquelas já descobertas e para as quais há tecnologia capaz de permitir sua extração – alcançam hoje algo como 1 trilhão de barris. O consumo mundial anual foi de cerca de 76 milhões de barris por dia em 2006. Feitos os cálculos, o que nos resta de reservas atenderiam o atual consumo por mais cerca de 35 anos. O problema é que essas reservas situam-se em áreas segregadas do globo, áreas de conflitos de interesses e mesmo áreas de conflitos armados em andamento ou potencialmente explosivos. Mais de 75% das reservas de petróleo do mundo se encontram no Oriente Médio.

Há, entretanto, aqueles que advogam a tese de que novas áreas se tornarão produtoras viáveis, dado que os preços do petróleo, atualmente em franca ascensão, justificam investimentos até aqui impensáveis por causa dos custos envolvidos nesses casos. Assim, há as áreas de águas ultra-profundas, como as do litoral brasileiro e do Golfo do México e as grandes reservas de areias betuminosas no Alasca e outras em outras áreas menos cotadas.

Até que ponto, todavia, essas alternativas são de fato dignas de crédito? Recentemente, a Petrobrás anunciou, com grande alarde, a descoberta de óleo leve, de alta qualidade, na chamada estrutura pré-sal, na Bacia do Espírito Santo. Foram perfurados um ou dois poços exploratórios e, com base nesses dados iniciais, foi feita um extrapolação. Como a estrutura pré-sal se estende por cerca de 800 km, desde o litoral do Espírito Santo até Santa Catarina, a empresa inferiu e divulgou que devem existir nessa formação contínua alguns bilhões de barris de óleo e trilhões de metros cúbicos de gás natural, capazes de tornar o Brasil um membro de proa da OPEP e um grande exportador de petróleo.

A Petrobrás já foi mais cuidadosa ao divulgar seus feitos nesse campo. Hoje, entretanto, a Petrobrás tem um outro perfil. Cerca de 70% das ações preferenciais e pouco menos de 50% das ações ordinárias – estas com direito a voto - da Petrobrás estão no mercado de capitais e parte significativa delas é negociada diuturnamente na Bolsa de Nova York, entre fundos de investimento americanos e outros tipos de especuladores de plantão.

Qualquer anúncio de uma nova descoberta de magnitude implica em aquecer a especulação, mesmo que o fato guarde pouca ou nenhuma relação com a realidade, já que especular é preciso.

Inferir que uma possível área produtora de petróleo e gás se estende continuamente por 800 km de subsolo marinho e que ela guarda reservas de hidrocarbonetos da ordem de bilhões de barris, a partir de uma ou duas perfurações isoladas e, ainda por cima, numa das extremidades da formação, não faz o menor sentido nem o estilo da Petrobrás de outras eras.

Por força de pressões de seus acionistas estrangeiros, a Petrobrás assumiu características empresariais que podem desqualificá-la no futuro como empresa sóbria. Oxalá eu esteja equivocado. De toda essa analise, frise-se, não cabem recriminações a seu corpo de empregados reconhecidamente qualificado, sério e competente.

O milagre brasileiro

Disponibilidade de energia é fator-chave na construção de qualquer sociedade mais justa e humana. Já se foi a época em que as classes mais ricas compravam seres humanos escravizados como bestas de carga para deles extrair energia para transporte, produção agrícola e outras tarefas do dia-a-dia. É verdade que formalmente a escravidão está extinta, mas a produção de energia pela sociedade de hoje guarda ainda estreitos laços com os modelos perdulários, agressivos e de baixo rendimento usados no passado.

Em matéria de fontes de energia e combustíveis nossa civilização de alta tecnologia ainda se encontra na Idade da Pedra. Mais de metade da energia consumida pelo mundo de hoje provém de fontes pré-históricas – petróleo, gás e carvão. Um dos maiores símbolos de “status” do mundo capitalista - o automóvel - é uma das máquinas mais burras que já se fabricou e conheceu. Da energia gerada pelos motores dos modernos carros de hoje, sejam eles fabricados em Detroit, Hamamatsu ou Manhein, menos de 30% são de fato empregados para produzir trabalho e movimentar o veículo. Todo o restante da energia é perdido por atrito nas diversas partes móveis do veículo ou é jogado fora, para o meio ambiente, sob a forma de gases de combustão quentes e sujos pelo sistema de escapamento do veículo.

Fomos até aqui incapazes de produzir máquinas e motores geradores de energia minimamente compatíveis com nossas necessidades essenciais. As chamadas “nações desenvolvidas” e suas grandes corporações capitalistas descansam preguiçosamente sobre as mesmas fontes de energia que alimentavam as imundas fábricas da Revolução Industrial britânica do século 18. Não se observa qualquer esforço sério em direção a um modelo mais limpo e duradouro de geração de energia.

Dignas de nota são, todavia, algumas iniciativas de países da periferia. Neste particular o Brasil tem inovado bastante. Ao lado um robusto e promissor programa de geração de energia a partir de fontes renováveis de energia, no qual se destaca a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, a Embrapa - empresa estatal de tecnologia agrícola - está desenvolvendo dois projetos diversificados que envolvem geração de energia originária da mandioca.

Um deles de pesquisa para a produção de hidrogênio e bio-hidrogênio por meio do açúcar da mandioca. O objetivo é produzir células de hidrogênio que são motores de combustão interna, de última geração, de alto rendimento e que liberam vapor d’água limpo para a atmosfera.

Outro, o processo de produção de etanol a partir dos carboidratos da mandioca foi iniciado na década de 1970, com o programa Pró-Álcool. Contudo, os experimentos foram gradativamente abandonados diante do sucesso da produção de álcool de cana-de-açúcar, em vista de seu custo, de sua simplicidade e da familiaridade das populações rurais com essa cultura.

Hoje, entretanto, já se faz necessário um reestudo da questão da cana-de-açúcar, em virtude da temática do empobrecimento do solo provocado pelo plantio extenso, contínuo e exaustivo dessa espécie, pela prática de queimadas para reduzir custos de colheita, beneficiamento e limpeza do solo e pela necessidade do uso intensivo de fertilizantes que acabam por envenenar o subsolo e os lençóis freáticos. Assim, esperemos para breve um salto de qualidade em matéria de geração de energia, oriundo não dos centros de pesquisa do chamado “Primeiro Mundo”, mas da inteligência, da criatividade e da competência de cientistas brasileiros, custeados pelo povo brasileiro que pagam seus impostos.

Desordem energética e retrocesso social

O mundo de hoje consome 82,5 milhões de barris de petróleo por dia. Cada barril equivale a 159 litros, o que perfaz um total de 13 bilhões de litros diários ou quase 5 trilhões de litros por ano. O número em si já é assustador. Contudo, algumas análises feitas em cima desse número gigantesco tornam o quadro ainda mais preocupante.

De um total de 206 países cujas demandas por petróleo foram contabilizadas, apenas a soma dos consumos de sete deles (EUA, Japão, Alemanha, Canadá, Coréia do Sul, França, Itália e Grã-Bretanha) representa a metade de todo o consumo mundial e é equivalente à soma da demanda dos outros 199 países investigados.

É bom ressalvar que os números aqui indicados são referentes ao uso do petróleo como fonte de energia primária sob várias formas – transporte, geração termelétrica, aquecimento, transformações industriais, etc. Observado o consumo per capita, a situação revela-se sumamente injusta. Vejamos: cada cidadão dos EUA ou do Canadá, não importa sua idade, consome 11 mil litros de petróleo por dia; em compensação, cada brasileiro ou argentino consome somente 1750 litros de petróleo por dia. No fim da fila estão pessoas como os etíopes, os cambojanos e os congoleses com um consumo inferior a 50 litros por dia – 220 vezes menos que um norte-americano!

Quando consideramos o consumo de carvão mineral, os números são parecidos: De um consumo mundial de 4,6 bilhões de toneladas por ano, a soma dos consumos dos norte-americanos, chineses e russos equivale à 40% do consumo dos demais países que utilizam o carvão como fonte de energia primária. Um cidadão norte-americano consome cerca de 3600 kg de carvão por ano ao passo que o consumo de um brasileiro não passa de 120 kg por ano – 30 vezes menos que um norte-americano!

É voz corrente que o consumo de energia é um indicador de progresso das sociedades. Entretanto, é cada vez mais consensual que o consumo das fontes de energia predominantes hoje em dia é também um indicador da degradação do meio ambiente em todos vivemos – mares, florestas e atmosfera. A degradação ambiental em constante avanço, caracterizada pelo “efeito-estufa” tem elevado a temperatura média do planeta e vai castigar a todos indiscriminadamente, não importa sua parcela de culpa na orgia energética que marca o mundo atual.

Isto posto, queda evidente que, além de vivermos num mundo injusto socialmente, vivemos também num mundo perverso energeticamente. Urge que sociedades esbanjadoras de fontes de energia agressivas pisem no freio e descubram outras maneiras de se manterem funcionando, mesmo que isso implique em reduzir seu consumo, ao passo que indenizam de forma socialmente responsável as demais sociedades pelos danos até aqui causados por sua insensibilidade.

Infelizmente, essa tese tem poucas chances de prosperar. A história da sociedade humana foi e ainda é marcada pelo egoísmo e pela exploração dos mais fracos pelos mais fortes. Também neste caso as probabilidades de que o caos se instale, em âmbito global, antes que as lideranças políticas e empresariais tomem alguma iniciativa para reverter o curso da insensatez, são muito grandes.

Quem sobreviver, verá.

sábado, 17 de maio de 2008

Petróleo - até quando?

As reservas de petróleo provadas em todo o mundo alcançam hoje, algo como um trilhão de barris e não se vislumbram novas descobertas representativas, exceto nas geladas paragens da Sibéria Oriental. A taxa de novas descobertas nas três últimas décadas não vem acompanhando o passo do crescimento do consumo.

Afora algum evento imprevisto do lado da oferta, é razoável crer que nosso petróleo abundante e relativamente barato está com seus dias contados. Mantidas as atuais taxas de demanda e oferta, as duas próximas gerações vão conviver com um petróleo cada vez mais caro e raro, até que o petróleo hoje conhecido se esgote em meados deste nosso século.

Surge, entretanto, outra questão mais grave: O que acabará antes, o petróleo ou a vida na Terra? Sobreviveremos a um ambiente crescentemente envenenado, ao contínuo processo de aquecimento global causado pelo “efeito-estufa”?

Auspiciosamente, algumas vozes sensatas têm tido cada vez mais eco, alertando para o perigo de continuarmos a usar petróleo e gás natural como combustíveis na escala atual. A queima de combustíveis fósseis nos últimos 150 anos produziu efeitos hoje percebidos como catastróficos, em termos de alterações climáticas, desequilíbrios ambientais e poluição atmosférica.

Em função da irresponsabilidade de dirigentes políticos e das grandes corporações petrolíferas, o quadro atual requer uma intervenção em caráter urgente, visando interromper o ciclo histórico baseado em energia gerada a partir de combustíveis de origem fóssil.

As próximas décadas presenciarão uma dramática mudança nos padrões de geração e consumo de energia, sob pena de não termos futuro.

Felizmente, já temos algumas opções responsáveis para substituir a atual perversa matriz energética, implantando, progressivamente, em seu lugar, uma nova matriz baseada fontes de energia renováveis e limpas. Papel preponderante nessa nova matriz terão as regiões de clima tropical e com alta incidência de radiação solar. Isto se explica pelo fato de que boa parte da energia limpa que movimentará o mundo neste e nos séculos vindouros será proveniente de transformações da energia solar, quer sob a forma térmica , fotoelétrica ou sob a forma de produção de biomassa.

Particularmente, nosso país já partiu na frente dos demais, aproveitando suas excepcionais condições insolação e clima tropical. Dominamos amplamente a tecnologia para produção de etanol (álcool etílico), produzido a partir da cana de açúcar e de algumas raízes e iniciamos, de maneira tímida ainda, é verdade, a geração de tecnologia para a produção de combustíveis a partir de oleaginosas nativas (o biodiesel).

Já temos, inclusive, condições de exportar esse modelo, transferindo tecnologia e gerando renda para brasileiros. De modo especial, boa parte do continente africano e extensas regiões do sul da Ásia reúnem condições de insolação e clima propícios à implantação de programas semelhantes ao nosso. Já que a matriz é nova que seja novo também o seu modelo de exploração. Dado que boa parte dos insumos para produção de energia virão da agricultura, que se evite a concentração da propriedade e o latifúndio, aproveitando o ensejo para fazer uma reforma agrária digna deste nome há tanto tempo sonhada.

Petróleo - um pouco de história

A Revolução Industrial, iniciada na Europa no fim do século 18, teve na produção e emprego de energia seus principais pilares. Na origem, a fonte de energia era a combustão do carvão mineral, então abundante em áreas da Europa, cujo calor produzia o vapor d'água que acionava as máquinas primitivas da época. Esse padrão prevaleceu até meados do século 19, quando se “descobriu” petróleo em Titusville, Pensilvânia (EUA), em 1859. O advento da era do petróleo deslocou o uso do carvão para segundo plano, dadas as características nocivas de sua mineração e uso e seu baixo rendimento térmico.

Foi, no entanto, durante o século 20 que a indústria do petróleo assumiu, de fato, a hegemonia e permitiu o vertiginoso crescimento da industrialização que conhecemos, após a descoberta de imensas jazidas de hidrocarbonetos, sobretudo no Oriente Médio.

Foi a partir do fim da 1 a Guerra Mundial que a busca por petróleo tornou-se mais sistemática com o aprimoramento da tecnologia para sua extração. Neste esforço, além de se ampliarem as reservas conhecidas no Oriente Médio, descobriram-se importantes jazidas de hidrocarbonetos na Ásia, na então URSS, na América Latina de nos EUA.

Todo o século 20 foi marcado pela exploração, produção, transporte, do petróleo e seus derivados e pelo controle, freqüentemente por meios bastante agressivos, de suas áreas produtoras. Surgiram, no início do século, as chamadas “Sete irmãs”, megacorporações privadas, com sede no eixo EUA-Grã Bretanha que dominavam, até então, o mercado mundial de petróleo e de seus derivados.

A partir do fim da 2 a Guerra Mundial, entretanto, dá-se o aparecimento das grandes corporações estatais de petróleo, empresas sob o controle de Estados, em sua maioria periféricos, que visavam livrar-se do cartel das “Irmãs” numa questão tão crucial para eles como a geração de energia para o seu desenvolvimento. No Brasil, criou-se a Petrobrás, no México a Pemex, assim como empresas estatais no Irã, Iraque, Indonésia, Venezuela, Itália, França e outros.

A partir desse momento as “irmãs” ou “majors” passaram a ter concorrentes num espaço que, até então, era privativo delas. O Século 20 assistiu inúmeras guerras, golpes de estado, rebeliões e assassinatos de líderes políticos em países produtores de petróleo, como conseqüência da disputa pelo controle do petróleo. Governos fracos, sob pressão, faziam concessões de exploração às “majors”. Os que resistiam sofriam retaliações.

Em 1960, foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Nessa ocasião, Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela, países que respondiam por 80% das exportações mundiais de petróleo, estabeleceram a OPEP como uma organização intergovernamental permanente, como uma reação ao cartel das “majors”. O pano de fundo do surgimento da OPEP consistia num mundo cada vez mais dependente de petróleo, cuja indústria era dominada por um cartel de grandes empresas transnacionais, as “Sete Irmãs” - Exxon, Mobil, Socal, Texaco, Gulf, Shell e BP – que, devido ao seu poder econômico e supremacia técnica, impunham o controle dos preços e da produção do petróleo, com o ostensivo apoio dos governos americano, inglês e francês, ditando os rumos da economia mundial.

Após uma tentativa de privatização das empresas estatais de petróleo a década de 1980-1990, na esteira do neoliberalismo então em moda, o quadro que se vê hoje é o de um consistente avanço das empresas estatais em direção ao predomínio no negócio. As reservas hoje conhecidas alcançam cerca de um trilhão de barris, sendo que destas, 80% encontram-se em países-membros da OPEP. As reservas das “majors” não passam de 32 bilhões de barris ou somente 3% do total. Observa-se, ademais, um intenso movimento de reestatização de reservas, através da não-renovação de concessões, do confisco ou da compra das reservas das “majors”. As principais empresas neste movimento são a Gazprom (Rússia), CNPC (China), ONGC (Índia), PDVSA (Venezuela) e Petrobrás (Brasil).

O petróleo ainda a ser descoberto será mais caro, de menor qualidade e de mais difícil acesso. Assim, competirá aos estados produtores planejar e administrar o equilíbrio entre a futura escassez de petróleo e o agravamento do efeito-estufa e da agressão ambiental resultantes da queima de petróleo.

Argemiro Pertence

Grito de Alerta

Está se aproximando a hora do acerto de contas entre a Natureza e a chamada “civilização industrial”. O atual inverno no hemisfério norte está sendo o mais quente jamais registrado. Durante cerca de um século e meio, o modelo de desenvolvimento chancelado pelas grandes nações industrializadas esbanjou petróleo e, mais recentemente, gás natural para fazer o mundo funcionar à sua moda. Em quase sua totalidade, o petróleo e o gás extraídos do subsolo foram empregados como combustíveis, gerando, como fruto desse processo, o gás carbônico (CO 2 ), principal responsável pelo efeito-estufa hoje tão debatido e temido.

O efeito-estufa nada mais é do que o resultado da saturação de nossa atmosfera com gases que impedem que o calor do ambiente seja eliminado para o espaço exterior. Nosso planeta é diariamente banhado pela radiação térmica originária do sol. Esta radiação primária, oriunda do sol, atravessa nossa atmosfera, esteja ela ou não poluída, aquecendo nosso planeta. Entretanto, o mesmo fenômeno não se dá com a radiação refletida pela superfície terrestre, dado que esta é incapaz de vencer a barreira imposta pela atmosfera rica em gás carbônico. Antes da chamada “civilização industrial”, a radiação solar refletida pela superfície terrestre era enviada ao espaço cósmico. Atualmente, essa radiação fica retida na atmosfera terrestre, por força da barreira de CO 2 na atmosfera, provocando a elevação da temperatura do planeta.

Nos dias de hoje, a humanidade queima cerca de 12 milhões de toneladas de petróleo por dia , lançando na atmosfera outras tantas toneladas de gás carbônico e outros gases nocivos.

Mantida esta tendência, o aquecimento global, a médio prazo, provocará transtornos que vão desde a escassez de água, modificações na fauna e na flora das regiões polares, aumento da temperatura de rios e lagos, antecipação do florescimento da vegetação e da migração das aves, alterações na distribuição das algas, dos cardumes e do plâncton, até a elevação do nível dos oceanos, com as conseqüentes inundações de regiões costeiras.

Cientistas do GIEC (Grupo Intergovernamental para análise da Evolução do Clima), reunidos em Paris no mês passado, fazem previsões catastróficas caso o ritmo de produção de CO 2 não seja reduzido. Avalia este grupo que um aumento da temperatura média do planeta entre 2 e 4,5º C, em relação aos valores de 1990, resultará em escassez severa de água para cerca de 3,2 bilhões de pessoas. Por outro lado, um aumento de 4º C na temperatura média da Terra causará enchentes que afetarão 20% da humanidade. Aliados a esses desastres, o grupo prevê ainda a ocorrência de queda da produtividade agrícola, fome, mortes resultantes do calor excessivo, doenças ligadas à água contaminada, extinção maciça de espécies animais e vegetais e descontroles graves nos diversos ecossistemas.

Diante deste dramático panorama, nossa reação inicial seria a de propor a interrupção imediata do consumo de petróleo e gás natural. Isto também não é possível, pois os danos para a humanidade daí advindos são ainda desconhecidos.

Grupos de “experts” e organizações respeitáveis têm proposto que se inicie um processo gradativo de substituição do petróleo, seus derivados e do gás natural por outras fontes de energia menos nocivas. Particular ênfase tem sido dada á geração de energia a partir da biomassa cuja viabilidade técnica e econômica está sendo reconhecida. Associado a isto, recomenda-se um vigoroso programa de reflorestamento, em âmbito global, visto que as árvores retiram CO 2 da atmosfera para realizar a sua fotossíntese e crescer.

Esta é a questão que defronta a humanidade nas próximas décadas. Nossos netos e bisnetos nos agradecerão se fizermos a nossa parte e formos capazes de preservar as condições de vida neste oásis do Universo que a é a nossa querida Terra.

Argemiro Pertence

O caos energético global

A moderna civilização tem usado intensamente a energia para a produção de trabalho. Trabalho que se vê em toda a cadeia produtiva industrial, nos transportes de pessoas e cargas e no uso doméstico. Seria difícil imaginar nosso mundo atual sem o consumo de energia nos níveis em que ele se dá hoje. Na verdade, o consumo de energia está associado ao desenvolvimento das sociedades. Um dos indicadores de avanço de uma sociedade é o seu consumo de energia per capita. Dentre os fatores que influenciam o cálculo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) está o consumo de energia per capita de um país. O quadro abaixo nos dá alguns exemplos deste indicador.


País

Consumo de energia per capita (toe)* - 2006

EUA e Canadá

7,8

Japão

3,9

Europa Ocidental

3,7

Brasil

2,5

China

0,6

(*) toe – toneladas equivalentes de petróleo


É imensa a disparidade no consumo energético entre os países. Para um nível de desenvolvimento bastante similar, os EUA e o Canadá consomem o dobro da energia dos países da Europa Ocidental, o que permite concluir que há baixa eficiência - ou desperdício - no uso da energia na América do Norte. Por outro lado, os 1,3 bilhão de chineses ainda têm um longo caminho a percorrer para atingir os padrões dos países desenvolvidos.

Outra questão bastante evidente é que a humanidade não conseguiu, até aqui, produzir energia sem agredir o planeta e a vida. O quadro a seguir nos dá uma idéia da intensidade com que utilizamos as atuais fontes de geração de energia em larga escala.


Fonte de energia

Participação na matriz global

Petróleo

35%

Carvão

23%

Gás natural

21%

Lenha

9%

Nuclear

7%

Outras

8%


Cerca de 80% da energia que o mundo consome é proveniente de fontes fósseis, grandes emissoras de carbono para a atmosfera. A participação da energia nuclear, embora pequena na matriz, apresenta riscos inerentes ao processo de geração e enormes dificuldades para lidar com os rejeitos radioativos. As grandes barragens produzem impactos ambientais e sociais significativos.


A principal fonte de energia da Terra é o Sol, responsável por mais de 99% do seu balanço energético. Cerca de 30% a 35% da energia solar incidente é diretamente refletida e espalhada de volta ao espaço. Aproximadamente 45% dela é absorvida pela atmosfera, pela superfície terrestre e pelos oceanos para ser convertida no calor que determina a temperatura ambiente. Outros 23% são consumidos na evaporação, convecção, precipitação e circulação superficial da água, formando o ciclo hídrico. O aproveitamento de pequena parcela da energia solar reduziria em muito a agressão ambiental e à vida. Entretanto, razões de ordem econômica têm impedido a inserção da energia solar em nossa matriz energética.


Até quando irá prevalecer o interesse econômico em detrimento do social? Eis a questão.

Os britânicos se despedem aos poucos do petróleo e migram para a energia nuclear

Como em outras partes do mundo, o petróleo do Mar do Norte britânico (que já foi considerada um grande província produtora) já dá sinais de fim de festa, resultante do excesso de demanda. Fica mais uma vez clara a incapacidade da Terra para suprir as necessidades criadas pela sociedade industrial, movida a petróleo e carvão.

Ciente do quadro, o governo já disparou um plano alternativo objetivando substituir a iminente falta de petróleo em casa. Após um longo debate público, o governo trabalhista britânico anunciou oficialmente, nesta quinta-feira, 10 de janeiro, a reativação da construção de centrais nucleares na Grã-Bretanha, que possui mais o velho parque nuclear da Europa ocidental. No projeto apresentado ao Parlamento, o governo informa que a construção das novas centrais, cujo número não foi especificado, não receberá qualquer ajuda do Estado.

Como previsto no relatório sobre energia no Reino, publicado em Julho de 2007, o custo da demolição, a construção das novas centrais e a eliminação dos resíduos radioativos alcança a fantástica soma de 100 bilhões de euros, de acordo com uma primeira estimativa, e será bancado inteiramente pelo setor privado.

No momento, as quatorze centrais em atividade fornecem 20% da eletricidade consumida, contra 40% supridos pelas térmicas a gás e 33% pelas térmicas a carvão. A Grã-Bretanha deve investir na produção 10.000 MW de capacidade adicional (18% da eletricidade atualmente consumida) nos próximos 20 anos para substituir as velhas e perigosas centrais. Nove reatores nucleares devem ser fechados até 2015.

Por seu lado, o poder público se compromete a facilitar a emissão de licenças para construção, dificultadas, em geral, por longos e democráticos debates com a sociedade. Devido ao “peso” deste processo de planejamento e discussão, a construção da última central - a Sizewell B, localizada numa pequena vila de pescadores, no Condado de Sufolk, a sudeste do Reino - levou quatorze anos para ser concluída. Para minimizar os protestos dos ecologistas e dos moradores, os novos reatores serão instalados nos locais dos atuais.

A diversificação das fontes energéticas e a redução das emissões de gases de efeito-estufa são os dois objetivos desta reativação da energia nuclear. Na hora do esgotamento das reservas de hidrocarbonetos do Mar do Norte e ao fim de três décadas de auto-suficiência, Londres propõe-se a reduzir a sua dependência do gás natural russo e do petróleo do Oriente Médio. Além disso, a redução do uso do carvão mineral se somará ao ambicioso objetivo oficial de diminuição, em 60%, das emissões de dióxido de carbono até 2050.

Resta evidente que, cada vez mais, as sociedades mobilizadas estão fazendo sentir seu peso nas decisões políticas, embora, neste caso, a alternativa adotada não seja a melhor para ela. Fica também claro que os governos estão evitando a dependência de fontes de energia externas às suas fronteiras.

Países como o Brasil que hoje têm certo grau de autonomia nesta questão, deveriam observar com mais atenção este quadro. Afora uma parcela do gás natural aqui consumido que vem da Bolívia e uma fração de petróleo leve, toda a energia consumida no Brasil tem sua fonte aqui mesmo. A Petrobrás, para atender as pressões de seus acionistas de Wall Street planeja, para breve, começar a exportar petróleo, já que o fator preço é hoje preponderante. Logo, precisaremos do “know-how” dos britânicos para aprendermos a engolir goela abaixo a opção que o governo de plantão quiser nos impor.

Os biocombustíveis são motivo de controvérsia na Europa

Segundo um recente relatório divulgado pela Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, os biocombustíveis terão um impacto negativo sobre o meio ambiente. Peritos ingleses consideram que "o apoio aos biocombustíveis tem sido prematuro em relação a importantes riscos ambientais associados às tecnologias atuais empregadas na sua produção". Em total desacordo com essas conclusões, o Comissário Europeu para a Energia, Andris Piebalgs, afirmou, que o desenvolvimento dos biocombustíveis produzirá "reduções significativas das emissões de gases de efeito-estufa em comparação com a sua alternativa, o petróleo".

Nesta mesma questão, um documento de trabalho assinado por peritos ligados às autoridades de Bruxelas (cidade-sede da União Européia) insistia nas ameaças para o meio ambiente, causadas pela extensão das culturas para a produção de biocombustíveis. Estes especialistas advogam o emprego desses combustíveis para a produção de energia e não para o transporte. De acordo com eles, os contribuintes europeus deverão desembolsar entre 35 e 65 bilhões de euros para levar a 10%, até 2020 - como deseja Bruxelas - a participação dos biocombustíveis na matriz de transportes da União Européia.

A Comissão Européia apresentou recentemente um projeto de lei que irá determinar que biocombustíveis serão levados em consideração para que se atinja o objetivo. O texto detalhará também os critérios ambientais necessários para evitar, especialmente, ameaças às florestas e terrenos agrícolas nos países em vias de desenvolvimento que irão suprir a Europa de combustíveis alternativos.

Para fundamentar a sua iniciativa de legislar sobre esta questão, a Comissão – órgão colegiado executivo da UE - explicou que os biocombustíveis apresentam a vantagem de reduzir a dependência da União Européia dos produtores de petróleo e de dar oportunidades aos países mais pobres. De acordo com Bruxelas, existem "apenas" três maneiras para reduzir as emissões nocivas de CO2 geradas nos meios de transporte: (1) incentivar o uso de meios de transporte menos poluentes, como as estradas de ferro, (2) apoiar a produção de veículos com menores taxas de emissão de CO2 e (3) desenvolver os biocombustíveis.

A controvérsia européia lança luz sobre interessantes aspectos da questão. Um deles é que a União Européia pretende basear seu suprimento de biocombustíveis na produção dos “países pobres”. Percebe-se nas entrelinhas a certeza que estes são mais confiáveis que os atuais produtores de petróleo. Com certeza, os defensores dos biocombustíveis têm em mente os países de clima tropical da América Latina e da África.

Um dos lados da questão ressalta o perigo de agressão às florestas e outros ecossistemas nativos. Há o claro temor de que as terras destinadas à cultura para a produção de biocombustíveis ocupem áreas verdes nativas, resultando em desmatamento, a exemplo do que hoje ocorre com as culturas de soja no Cerrado brasileiro e na Amazônia.

Fica fácil concluir também que tradicional ausência de controle social da questão da terra nos “países pobres” dará ensejo a uma ainda maior concentração da propriedade desta, bem como à nociva formação de um “cartel dos biocombustíveis”, similar à OPEP de hoje, onde gigantes multinacionais do petróleo controlam governos de países produtores, sobretudo no Oriente Médio, e ditem preços ao “mercado”. Tão nocivo é este cartel que o custo de produção de um barril de petróleo (159 litros) não ultrapassa US$ 2 naquela região, mas chega ao mercado por quase US$ 100 (um lucro de 5000%!!!).

A mão “invisível” do mercado e o barril de petróleo

No início de janeiro deste ano, a cotação do barril de petróleo (159 litros) nos mercados globalizados alcançou, pela primeira vez na história, a marca dos 100 dólares. Essa cotação, é bom que se explique, é a dos petróleos de referência: o tipo “Brent” que é uma mistura de petróleos leves produzidos no mar do Norte, oriundos dos sistemas petrolíferos Brent e Ninian, com teor de enxofre de 0,34% e que reflete os preços no mercado de Londres e o “WTI” (West Texas Intermediate), petróleo leve, com teor de enxofre de 0,3%, cuja cotação diária no mercado “spot” reflete o preço nos EUA

Dirão muitos que este recorde se deve à maior demanda de aquecimento, normal nos invernos dos países do hemisfério norte, grandes importadores de óleo, ao aumento da tensão entre EUA e Irã e no Oriente Médio em geral ou a alguma redução fortuita da produção de um ou outro país produtor.

O fato é que, em janeiro de 2002 – há 6 anos atrás, portanto – este mesmo barril era cotado a 20 dólares. Entre 2002 e 2008 a cotação do barril de óleo experimentou uma ascensão de 500%, ou algo como 50% ao ano. Não se tem notícia de alta similar em nenhuma outra “commodity” do chamado “mercado”.

Acusar o inverno no norte ou as tensões entre americanos e iranianos como causadores da alta atual é tentar esconder o sol com uma peneira. Antes do referido inverno e das tensões, o barril já valia mais de 80 dólares. Um aumento de 500% em 6 anos merece ser estudado de forma mais realista e inteligente.

Para que se forme uma idéia mais precisa da questão, vale esclarecer que o custo de produção do petróleo nos países do Golfo (Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque e Emirados Árabes Unidos) não ultrapassa 2 dólares por barril. Entenda-se como custo de produção o total de despesas incorridas pelos produtores para extrair o petróleo do subsolo e transferi-lo para um navio. Pois bem, como explicar que uma “commodity” como a soja, o café ou o minério de ferro custe na ponta da produção 2 dólares por tonelada e chegue à ponta da industrialização a 100 dólares? Como aceitar que, entre a produção e o beneficiamento, o petróleo bruto experimente um aumento de mais de 5000%? Não é possível encontrar nada parecido com os custos e os preços de nenhuma outra mercadoria, exceto, talvez, no caso das drogas ilícitas.

A crendice atual, inculcada permanentemente nos corações e mentes de maneira impiedosa, faz com que as pessoas aceitem de modo passivo que a mão “invisível” do mercado é a única ferramenta apta a alocar preços de bens e serviços - através dos ajustes da oferta e da demanda de bens e serviços - de modo justo e equilibrado.

No caso do petróleo, justamente quando a demanda cresce a oferta se reduz. Por trás deste imbroglio está o visível cartel de países produtores, a OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo e outro cartel menos visível na mídia, o cartel das grandes corporações privadas de petróleo – Exxon, Shell, British Petroleum, Elf Acquitaine, Total e outras. São exatamente essas corporações que, por concessão dos governos dos países exportadores de petróleo, produzem em parceria com empresas daqueles países o óleo a 2 dólares e o vendem a 100 dólares o barril.

Este é o tão decantado e justo mercado. Sua mão, contudo, está no bolso dos consumidores. Outros afirmam, entretanto, que o mercado é maneta!

O ídolo com pés de barro

Nossa sociedade de consumo erigiu um altar ao automóvel e fez dele seu maior sonho de consumo. O automóvel deixou de ser uma utilidade para vencer as distâncias e passou a ser objeto de desejo, especialmente das classes médias. Vítima da propaganda que associa ter um carro ao sucesso na vida, o consumidor dedica boa parte de seus esforços para incorporar a seu patrimônio um automóvel, mesmo que usado. Depois descobre que a prometida liberdade de ir e vir é em muito limitada pelo excesso desses veículos nas ruas de nossas metrópoles e conclui conformada que há mais carros nas ruas do que espaço para sua circulação.

O que também não é dito ao consumidor é que o automóvel moderno é u’a máquina retrógrada, defasada e ineficiente, envolvida por uma carroceria em que predominam alguns itens de conforto e segurança que objetivam mascarar o fracasso tecnológico escondido sob a tampa do compartimento do motor.

Seu motor é um exemplo perfeito de ineficiência energética ou de “desengenharia” (perdoem o neologismo). O motor dos carros de hoje incorporou, em mais de um século, muito pouco ou quase nada no que afeta o seu rendimento mecânico. O rendimento de qualquer máquina é a relação entre a energia tornada disponível e a energia de fato usada para produzir trabalho. Nas máquinas térmicas, como os motores dos carros, podemos calcular a energia tornada disponível a partir do calor liberado pela queima do combustível Contudo, uma grande parte desta energia se perde como calor para o meio ambiente e por atrito. Apenas para se ter uma idéia, o rendimento dos motores a gasolina, álcool ou gás natural varia na faixa de 24 a 28%! Ou seja, um motor de automóvel desperdiça ou joga fora entre 72 e 76% da energia liberada pela queima do combustível. Se um litro de gasolina custa hoje algo como R$ 2,50, a cada litro consumido R$ 1,80 são gastos inutilmente. Vamos a um exemplo real: se um veículo consome, em média, 1 litro de gasolina a cada 12 quilômetros percorridos, numa viagem entre Rio e São Paulo – cerca de 400 km – um carro consumirá 34 litros a um custo total de R$ 85,00. Desse total, R$ 64,00 serão gastos inutilmente, em função da ineficiência dos motores..

O rendimento dos motores diesel é maior que o dos motores a gasolina porque o diesel é queimado numa temperatura superior. Portanto, uma parte maior do calor pode ser empregada para produzir trabalho útil. Na média, o rendimento dos motores diesel dos caminhões, locomotivas ferroviárias e fábricas fica na faixa de 32 a 38%.

Poderíamos pensar que o motor a jato dos modernos aviões, que funciona em tão altas temperaturas e possui poucas partes móveis, tem um alto rendimento, mas isto não é verdade. O motor a jato libera gases de combustão a temperaturas muito altas, o que acarreta uma grande perda de calor e, portanto, energia. Seu rendimento é equivalente ao dos motores a gasolina, isto é, cerca de 24 a 28%.

No mundo de hoje já há motores capazes de levar um artefato espacial aos confins do Sistema Solar ou mesmo além. A partir desses dados, soa estarrecedor que, num mundo de tantos avanços tecnológicos em tantos segmentos, a indústria automobilística tenha se provado tão indolente, defasada e incompetente para produzir motores mais alinhados com o atual estágio de demanda de nossa civilização

Finalmente, lembre-se sempre: ao ligar o motor de seu carro, você estará acionando uma das máquinas mais burras em uso ainda hoje. E mais, neste momento, você estará desperdiçando R$ 75,00 em cada R$ 100,00 gastos em combustível.

Um falso dilema

Recebi uma mensagem de um antigo companheiro da Petrobrás, o Roldão Simas, químico experiente, multidisciplinar e lúcido, sobre dos debates relacionados à questão do suprimento de gás natural para as usinas termelétricas que têm a função de gerar energia elétrica nas situações de falta de chuvas que alimentam os reservatórios das hidrelétricas.

Escreve com propriedade o Simas: “há grande preocupação com a possível escassez de gás natural para as termelétricas montadas quando do apagão havido no governo FHC. Seria mesmo inadmissível que estas usinas, feitas para garantir o fornecimento de eletricidade quando o mesmo viesse faltar por baixo nível de água nos reservatórios das hidroelétricas, também viesse a falhar. As usinas hidroelétricas dependem de água represada, as usinas térmicas dependem da queima de materiais que não se limitam ao gás natural. Ou seja, as termelétricas a gás natural podem (e devem) ser como os automóveis modernos: flex fuel (movidos a diferentes combustíveis). Com poucas adaptações, podem operar também com óleo combustível, derivado residual da refinação de petróleo, disponível nas nossas refinarias, que podem fornecê-lo sem dificuldade”.

Demonstra com clareza o autor da mensagem a pobreza do debate e das preocupações dos nossos políticos. Usinas termelétricas a óleo combustível e a carvão mineral pululam na Europa, América do Norte e Ásia. Os puristas alegarão: a queima de óleo combustível agride o meio ambiente. Cabe lembrar que toda queima de combustível de origem fóssil agride o ambiente, inclusive a do gás natural.

Para entender a questão, precisamos conhecer a qualidade da maior parte do petróleo produzido no Brasil e os processos de refino a que ele é submetido. Aqui são encontrados os chamados “petróleos pesados”, isto é, aqueles que, quando submetidos aos processos de refino mais simples e mais baratos, produzem boa quantidade de derivados de maior densidade (mais pesados) e de baixo valor de mercado, como os óleos combustíveis e os asfaltos. Ainda assim, nem toda a produção desses derivados é consumida por alegadas razões ambientais, sendo, em geral, o excedente usado na própria refinaria. A opção dos refinadores tem sido investir em processos de refino mais caros visando dar um fim a esse incômodo problema, como a produção de coque de petróleo que tem inúmeras aplicações, inclusive como substituto do coque siderúrgico, derivado do carvão mineral.

Além dessa utilidade, a queima eventual de óleo combustível nas termelétricas atenua o problema da dependência de gás natural importado da Bolívia. Evidentemente, o ideal seria que mantivéssemos um intercâmbio comercial saudável com nosso vizinho. No entanto, as relações neste campo andam meio azedas no momento. As autoridades bolivianas estão zelando por seus interesses nacionais, enquanto a Petrobrás tem hoje que dar satisfações a seus acionistas em Wall Street, em detrimento da integração regional.

Este panorama mostra que a questão do suprimento de combustível para as termelétricas é um falso dilema. Há múltiplas opções para resolvê-lo. Uma adaptação simples e barata dos queimadores das caldeiras dessas usinas permitiria que queimassem gás natural produzido aqui ou importado da Bolívia e, nos casos de necessidade, óleo combustível produzido a baixo custo nas refinarias nacionais. É um problema técnico de simples solução, como o comprova o Simas do alto de sua simplicidade, experiência e perspicácia. O erro está em deixar que os políticos façam política com assuntos sérios como este.

Quanto custa produzir petróleo?

Para produzir petróleo e gás natural, as empresas perfuram poços em reservatórios subterrâneos anteriormente pesquisados. Normalmente a própria pressão do reservatório é a fonte de energia responsável pelo escoamento (ou elevação) do óleo e do gás até a superfície. No Oriente Médio, a pressão dos reservatórios é alta e se mantém por longo tempo. Esta pressão natural, entretanto, se reduz com o tempo.
A partir deste ponto, o petróleo deve ser extraído por meio de processos artificiais de recuperação. De início, temos a “recuperação primária”, operação executada por meio de processos de elevação artificial, sendo o mais usual o bombeamento mecânico. Com o tempo, este processo se torna ineficiente e caro, sendo necessários processos de “recuperação secundária”. Dentre este, o mais comum é a injeção de água no reservatório objetivando elevar sua pressão e permitir a extração o petróleo.
Eventualmente, serão necessários processos de recuperação terciária que consistem basicamente na injeção de vapor d’água, gás carbônico e outros gases ou aditivos químicos visando ampliar o fator de recuperação do petróleo. Mesmo assim, nem todo o petróleo de um reservatório é extraído. Limitações geológicas, técnicas e de custo impedem sua extração total.
Os fatores que afetam os custos de produção de petróleo são dois: as características do reservatório (pressão, profundidade, etc.) e as do petróleo (densidade, viscosidade e outras). Em razão do fato de esses fatores variarem bastante de uma locação à outra, o custo de produção também irá variar. A tabela a seguir indica exemplos de custos médios de produção (sem tributos) de um barril de petróleo em 2007, segundo dados da Agência de Energia dos EUA.

Região

Custo de produção (US$/barril)

África Ocidental

4.00

Canadá

8.30

EUA

6.83

Petrobrás (Brasil)

8.60


Além desses custos diretos, associados à extração, há outros custos relacionados à pesquisa e desenvolvimentos dos campos, chamados “custos de descoberta” ou de investimento. Estes também variam muito em função da região. A tabela abaixo indica custos de descoberta médios para algumas áreas do globo:

Região

Custo de descoberta (US$/barril)

Oriente Médio

5.26

EUA (no mar)

63.71


Apesar dos avanços tecnológicos permitirem que se descubra petróleo em locações cada vez mais remotas e profundas, como na Bacia de Campos e no Golfo do México, o peso dos investimentos necessários para tanto pode inviabilizar um projeto.
Enquanto nos EUA os custos de investimento e extração irão crescer em função do esgotamento das reservas nos campos terrestres e o crescimento da produção no mar, no Brasil esses custos também irão aumentar em decorrência das novas descobertas ocorridas no mar, em lâminas d’água cada vez maiores e em ambientes geológicos inteiramente novos.

Petróleo, mercado e liberdade

Muito se tem afirmado que o “livre mercado” é a ferramenta mais eficiente para suprir uma sociedade com produtos de qualidade, na quantidade requerida e aos menores preços para ela. Vale a pena verificar a validade desta afirmação no caso do petróleo. Para se ter uma idéia mais precisa acerca desta questão, vamos conhecer um pouco sobre a formação do preço do petróleo conhecendo os custos incorridos na sua pesquisa e produção para que possamos aquilatar a validade da intervenção do mercado neste setor, responsável por cerca da metade da energia consumida no nosso planeta:

1. O custo de exploração médio do petróleo no mundo é da ordem de US$ 4 por barril. Em algumas áreas, esse custo cresce em função de condições particulares da área explorada (profundidade e dimensões do reservatório, exploração no mar ou em terra, etc.). No Oriente Médio, esse custo fica abaixo de US$ 2 por barril. No Brasil, na Bacia de Campos, este valor pode chegar até a US$ 5 por barril;

2. Além do custo de exploração ou custo de descoberta, há que se considerar também o custo de produção ou custo de extração. O custo de extração médio mundial situa-se na faixa dos US$ 4,20 por barril, incluindo os impostos. Na Europa Ocidental, especificamente no Mar do Norte, este valor chega US$ 5.50 por barril com impostos, enquanto que no Oriente Médio ele não passa de US$ 4 por barril (US$ 2.50 de custo efetivo mais US$ 1.50 de impostos);

Somando-se estas duas parcelas tem-se um custo total para a oferta de um barril de petróleo na casa de US$ 8.20 por barril, em média, ou de US$ 10,50 por barril, no máximo. Quando comparamos este custo com o preço de mercado atualmente praticado – US$ 60.00 por barril - descobrimos estarrecidos que o preço de mercado do petróleo é 6 a 7 vezes maior que seu custo de produção. Em outras palavras, o lucro dos produtores situa-se na faixa de 600 a 700%!

Esta constatação joga por terra a propaganda quase religiosa feita pelos aurautos do mercado e de sua “mão invisível”. Em sã consciência, qualquer ser humano, medianamente informado, acredita que a margem de lucro dos produtores de bens e serviços, mesmo neste capitalismo selvagem em que vivemos, equivale a uma fração do custo de produção.

Todavia, os defensores do mercado nos impõem uma outra variável a influenciar os preços do petróleo – a “lei da oferta e da procura”. Por esta “lei”, os bens e serviços muito demandados pela sociedade têm seu preço inflado para “compensar” seus produtores pela “nobreza” de sua tarefa. Ocorre que, dentre os bens de alta demanda estão, além do petróleo e do gás natural, os medicamentos, os alimentos e os serviços de saúde e de educação.

Por serem altamente demandados, estes bens e serviços têm seus preços elevados e colocados fora do alcance da maioria das pessoas de nossa sociedade. Os cartéis para a produção de bens e serviços essenciais usam sua liberdade “de mercado” para impedir e bloquear o acesso de significativo número de pessoas a eles. No fim das contas, o mercado serve apenas para selecionar quem pode ou não ter acesso a determinado bem e serviço.

Resta muito evidente que o chamado “livre mercado” não passa de uma farsa perpetrada por grandes grupos de interesses econômicos, financeiros e políticos para negar a liberdade aos menos aquinhoados segundo os padrões desse sistema.