Oriente Médio cada vez mais complexo
Argemiro Pertence
Novamente o Irã está nas manchetes dos jornais do mundo inteiro pelo mesmo motivo de sempre. Em função de seu hipotético programa nuclear para fins militares, o Ocidente volta a ameaçá-lo com represálias. Dentre estas está o bloqueio do Estreito de Ormuz, única saída do Golfo Pérsico, para impedir a exportação de petróleo iraniano. Por seu turno, o governo de Teerã também ameaça bloquear o Estreito caso venha a sofrer sanções por parte do Ocidente que venham a impactar ainda mais sua economia baseada na exportação de petróleo. Entretanto, este bloqueio por parte do Irã nos parece pouco provável já que iria impedir a passagem de cerca de 30% de toda a produção mundial de petróleo transportada por mar. A reação dos países da Europa Ocidental e dos EUA seria imediata, tendo em vista a dependência desses países do petróleo do Oriente Médio.
O fechamento do Estreito de Ormuz pelos países do Ocidente teria outros desdobramentos. O Irã é atualmente o segundo fornecedor de petróleo da China com cerca de 550.000 barris por dia. Evidentemente quem quer que seja o responsável por tomar a decisão de fechar o Estreito terá de levar isto em consideração. Levar o tema ao Conselho de Segurança da ONU seria inútil, pois a própria China é membro permanente deste colegiado e tem poder de veto.
Para tornar o quadro ainda mais complexo há também a questão da energia nuclear no Irã. É inegável que o Irã tem deixado indefinido para o Ocidente qual o atual estágio de seu programa de fabricação de armas nucleares, se é que existe um. Por outro lado, parece ser realidade a entrada em operação de uma central nuclear para a geração de energia elétrica na região de Bushehr, em setembro de 2011, construída com tecnologia e apoio russos.
Há, todavia, um enorme abismo entre as tecnologias para geração de energia elétrica e a de construção de uma bomba nuclear. O combustível para uma central termonuclear é urânio enriquecido na faixa de 2 a 3%. Já o combustível para um artefato nuclear, mesmo de baixa potência, é o mesmo urânio enriquecido, porém na faixa de 80 a 90%. É justamente o enriquecimento neste grau que exige processos de alta complexidade dominados por poucos países.
Mesmo que o Irã tenha conseguido desenvolver o processo de enriquecimento de urânio para a fabricação de armas, o que jamais foi comprovado pelas constantes auditorias dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), resta comprovar que o país tem capacidade de lançar as armas construídas com este material a distâncias compatíveis com seus alvos de interesse. Ora, a imprensa desta semana anuncia com ênfase que o Irã testou com sucesso o lançamento do míssil terra-terra Nour de médio alcance (cerca de 200 km). Com tal alcance limitado este míssil não será capaz de alcançar Israel que está a pelo menos 1.000 km do território iraniano.
Este míssil poderia alcançar alguns países do Golfo Pérsico alinhados com o Ocidente ou mesmo as instalações e as belonaves da 5ª Frota dos EUA, estacionadas na base do Bahrein, no interior do Golfo Pérsico. Em ambos os casos, o ataque iraniano demonstraria uma enorme falta de racionalidade, pois apenas a 5ª Frota dos EUA é capaz de destroçar inteiramente todo o Irã.
Resumindo a questão com as informações disponíveis: é pouco provável que o Irã detenha a tecnologia para o enriquecimento de urânio em níveis compatíveis com seu emprego militar, exceto na hipótese de este combustível ser fornecido por terceiros. Mesmo neste caso, o Irã ainda não demonstrou que tem os meios para transportar o armamento até seus alvos de interesse. Mesmo que o Irã venha a ter mísseis capazes de alcançar alvos de interesse, é preciso ter em conta o poder de reação dos países-alvo, especialmente de Israel.
Apenas para relembrar: em 2003, o Iraque foi atacado e invadido com a desculpa de que dispunha de armas de destruição em massa que, no entanto, jamais foram encontradas.
Publicado também em www.aepet.org.br
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
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