27/Nov/2008
O petróleo tem sido empregado como fonte de energia pela humanidade desde fins do século 19. Foi, todavia, a partir da terceira década do século 20 que ele assumiu um papel estratégico nas relações comerciais entre países e empresas de diversas latitudes. A civilização industrial que vivemos nos últimos 100 anos não teria sido viável sem o uso intensivo do petróleo. Ademais, sua contribuição foi decisiva na vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Há, contudo, alguns aspectos não tão construtivos da chamada “civilização do petróleo”. A localização de suas jazidas, distribuída randomicamente pelo subsolo do planeta, não favoreceu igualmente a todas as sociedades que dele tinham necessidade. No contexto de um sistema econômico marcadamente capitalista e em plena vigência do colonialismo, seria mesmo difícil esperar que os fatos tomassem outra direção que não a da concentração do controle e dos benefícios dele resultantes.
Ao final de mais de um século da hegemonia deste recurso mineral como insumo energético, o balanço que pode ser feito é que a era do petróleo teve como tônica a injustiça, a violência e a lei do mais forte.
As sociedades centrais tiraram proveito deste período para, com o uso do petróleo, ampliar sua dominação sobre a periferia. Oriente Médio, Sudeste da Ásia, Norte da África e América Latina têm drenado seu subsolo, de forma sistemática e submissa aos interesses das grandes corporações, para atender, sobretudo, à demanda européia e norte-americana por petróleo produzido nas regiões mais pobres do globo. Nesta relação, governos de países periféricos foram derrubados e outros mais dóceis foram empossados visando, principalmente, não perturbar as atividades e negócios das grandes empresas petrolíferas multinacionais na sua busca de lucro.
Atualmente, com o enfraquecimento da influência ocidental no mundo, particularmente a norte-americana e a européia e, de modo especial, com o evidente fracasso do modelo capitalista em fazer do mundo um lugar mais justo, alguns sonhos voltam a brotar nas mentes de opositores do modelo. Surgem cá e acolá projetos de afirmação da autonomia de certos países sobre sua cultura, seus territórios, seus recursos naturais e, naturalmente, algumas reações dos donos do poder global para manterem seus privilégios.
A afirmação desta autonomia, entretanto, no caso do petróleo, parece ser um pouco tardia. Há hoje a consciência de que o desenvolvimento baseado no petróleo foi profundamente concentrado e, por isto, desigual e injusto. Além do mais, cerca de 30% do petróleo de hoje é consumido para movimentar máquinas altamente ineficientes – automóveis, aviões e outros veículos movidos por motores a combustão - totalmente incompatíveis com o estágio tecnológico alcançado pelas parcelas mais favorecidas da raça humana.
Acresça-se a isto o fato de que o mundo, como o conhecemos, não suportaria mais alguns anos de consumo de petróleo da forma como foi feito até aqui. Nosso planeta, seu espaço, sua atmosfera, seus mares, suas florestas são finitos. O modelo baseado no petróleo desconsiderou todos estes balizamentos e hoje nos ameaça com uma catástrofe ambiental. Portanto, não é mais hora de dizer “o petróleo é nosso”. É hora de dizer e agir no sentido de que “o mundo é nosso” e que o petróleo tem contribuído para tornar este mundo um inferno. É hora de implantarmos um modelo energético mais inteligente e menos egoísta. Um modelo que leve em conta o presente e o futuro. O modelo baseado no petróleo ignorou solenemente as preocupações passadas, presentes e futuras. O petróleo atropelou a humanidade e, felizmente, ele está pela bola sete...
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