A França volta a ter um governo sob controle do Partido Socialista após 17 anos, desde François Mitterand, com a eleição de François Hollande. Mitterand enfrentou grandes dificuldades ao ter que lidar com a inauguração e o avanço do neoliberalismo, representados por Margareth Thatcher, na vizinha Grã Bretanha, e Ronald Reagan do outro lado do Atlântico, nos EUA.
François Hollande vai ter de enfrentar a crise da Europa que, segundo os líderes liberais do continente, sob a batuta da alemã Angela Merkel, será resolvida com corte de gastos públicos.
Ora, corte de gastos públicos representa um duro golpe no Estado de Bem-estar Social implantado na Europa Ocidental no período pós-Segunda Guerra Mundial. Já se fala em corte de aposentadorias, em ampliação do tempo de trabalho para se tornar candidato ao sistema de aposentadoria, na ampliação da jornada de trabalho onde ela foi encurtada (na França a jornada semanal de trabalho tem 35 horas), na redução do período de férias remuneradas e na eliminação ou redução de outros benefícios conquistados pela classe trabalhadora.
No momento, os números do desemprego assustam, especialmente entre os mais jovens. Na Espanha, a taxa de desemprego entre os jovens já alcança 50%; na França, este mesmo número já alcança 25%, a mesma taxa de desemprego da Grande Crise de 1929 nos EUA. Números tão negativos ou mais graves ocorrem em Portugal, na Grécia, na Itália ou na Irlanda.
A explicação para todo este problema tem sua raiz na crise do mercado hipotecário dos EUA que foi uma decorrência da crise imobiliária pela qual passou o país em 2008, e deu origem, por sua vez, a uma crise mais ampla, no mercado de crédito global. O principal segmento afetado, que deu origem ao atual estado de coisas, foi o de hipotecas chamadas de "subprime", que embutiam um risco maior de inadimplência.
Os bancos nos EUA que ofereciam contratos de crédito aos que desejavam um financiamento imobiliário repassavam esses títulos de crédito a outros bancos dentro e fora do país (inclusive europeus) os quais, por sua vez, repassavam a outros bancos e assim por diante.
O surgimento e o crescimento da inadimplência dos devedores iniciais deu origem a uma reação em cadeia e banco após banco foi entrando na zona de risco com uma clara ameaça de quebradeira ameaçando todo o sistema.
Foi para salvar os bancos que os governos europeus e americano usaram recursos do orçamento público, gerando o déficit atual.
Ora, a redução do déficit orçamentário pode ser alcançada de duas formas: com a redução das despesas (a opção dos liberais) ou com o crescimento da economia (como propõe François Hollande).
Nos mesmos moldes de François Mitterand, François Hollande vai enfrentar uma Europa apática e submissa a um modelo único. Curiosamente, nos dois casos, as mentoras dessa apatia e submissão foi uma e é a outra duas mulheres: Margareth Thatcher e Angela Merkel. Felizmente a História já mostra que as teses da Senhora Thatcher foram um fracasso.
Resumindo a questão crucial. Hollande é minoritário numa Europa unificada e predominantemente liberal. Todavia, a escolha dos franceses é clara: chega de liberalismo. Chega de pensar no dinheiro antes de pensar nas pessoas! Que se danem os bancos!