Autoridades encarregadas das eleições no Egito ainda não tornaram público o percentual de votantes, mas a imprensa egípcia calcula que a parcela de votantes deve se aproximar de 50%, o que é um número muito baixo para um país que sai de um longo regime autocrático. Mais de 50 milhões de egípcios estavam aptos a votar no primeiro turno das eleições.
Após o fim da votação, as campanhas dos principais candidatos publicaram pesquisas de boca de urna, como é natural. Nessas pesquisas, o líder é Mohammed Mursi, presidente do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana. Mohammed Mursi aparece com 28,2% dos votos e o ex-primeiro-ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq, com 24%. Shafiq é encarado como opção para evitar que religiosos controlem o país e endureçam a legislação.
Esses números indicam que nenhum candidato terá mais de 50% dos votos válidos, o que levará à disputa de um segundo turno.
A possível vitória do candidato da Irmandade Muçulmana poderá levar ao cancelamento do tratado de paz entre Egito e Israel, uma vez que o mesmo “ofende a dignidade dos árabes e destrói os interesses do Egito e de outros estados árabes”. Este fato produzirá, certamente, um aumento do nível de tensões na região.
Por outro lado, a vitória do candidato do regime anterior trará pouca ou nenhuma alteração. Seguirá o Egito sendo um país subordinado aos interesses ocidentais, um país pobre e onde a corrupção viceja entre as elites.
Na Grécia, por sua vez, a questão é outra. O drama grego se situa em uma relação dívida/PIB (dívida total do país – pública + privada) próxima de140% e um déficit público da ordem de 8%. Do total desse déficit, somente 1,3% se relacionam ao déficit primário (receitas menos despesas). O restante são juros e amortizações de empréstimos de grandes bancos internacionais que arriscaram, ganharam muito por algum tempo e não querem assumir que correram riscos como é o seu negócio. Os bancos arriscam e não admitem perder.
Esta falta de juízo se baseou na crença de que, ao fim das contas, a Grécia seria bancada pela União Européia ou pelo FMI. Mas não é bem assim. A um ganho maior corresponde um risco maior.
Como solução para a questão grega, o FMI, o Banco Central Europeu e os líderes políticos europeus mais influentes – Angela Merkel (Alemanha) e Nicolas Sarkozy (França) - receitaram a tal “austeridade” para a Grécia, como já o haviam feito para a Espanha, Portugal, Itália e outros.
Essa tal “austeridade” implica em corte de salários, redução de serviços públicos de educação, saúde, segurança e outros e, o que é pior, em mais desemprego. Por que não propor o caminho inverso, o do crescimento? Crescimento resulta aquecimento da economia, em aumento da arrecadação de tributos, em desenvolvimento e em mais empregos. A explicação para a opção pela “austeridade” são os dogmáticos princípios neoliberais que já provaram sua ineficácia e inutilidade em outras praças.
A questão evoluiu para um outro ponto. Hoje se discute se a Grécia deve ou não permanecer na chamada “zona do Euro”. Ou melhor: hoje não interessa aos países líderes dessa “zona” que a Grécia saia dela. A saída da Grécia resultaria em um aumento da incerteza e da descrença na moeda européia, já que há, pelo menos, mais 4 ou 5 países caminhando pela beira do mesmo abismo por onde caminhou a Grécia. Fica uma questão a ser respondida: foi acertada a implantação de uma moeda única em países com realidades sociais, econômicas, financeiras e cambiais tão diversas?
Há ainda a hipótese de que seja eleita, no próximo mês, uma coligação de esquerda autêntica para o governo grego. Neste caso, a tal “austeridade” seria inteiramente descartada, passando o governo grego a privilegiar as questões sociais em lugar dos interesses dos banqueiros. Neste caso, caberia à Grécia tomar a iniciativa de sair da “zona do Euro”.
Um fato, porém, é óbvio e certo: não pode o povo grego pagar pela ganância dos banqueiros e pelo descontrole governamental.
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