segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A pasteurização da política

Fala-se cada vez mais na perda da hegemonia global por parte dos EUA. Um exame mais atento confirma esta tendência, porém identifica alguns campos nos quais ainda essa influência permanece quase intacta ou mesmo está em expansão.

         Um desses campos onde a chamada “americanização” das sociedades ainda predomina é o da alimentação, com a crescente presença do “fast-food” na dieta de milhões de pessoas.

         A “americanização” das sociedades resulta em convencer as pessoas que parar para fazer uma refeição convencional conduz à perda de tempo. Ao lado disso, a propaganda induz pessoas a comerem mais do que necessitam, dado que nosso modo de vida é cada vez mais sedentário. Daí resulta a obesidade, pois passamos boa parte do tempo à frente de uma tela de computador ou de televisão, sem queimar calorias.

         Até mesmo Índia e China sofrem com esse problema, em vista da invasão cultural de que são vítimas por força da facilidade cada vez maior das comunicações e do aumento de renda.

         Este, porém, não é o único aspecto no qual a “americanização” ainda se apresenta ou mesmo cresce. A propósito da próxima eleição presidencial que ocorrerá por lá, em novembro próximo, dois partidos, como sempre, estão concorrendo - o Democrata e o Republicano. Afora pequenas diferenças no âmbito doméstico, os dois têm a mesma plataforma política para as ações belicistas americanas mundo afora.

         A Europa Ocidental, há décadas marcada pelo Estado de Bem-estar Social, se apresenta hoje “americanizada”, ou seja, em cada país desse espaço europeu, os dois partidos hegemônicos são cópias um do outro. Na França, a UMP, dita de direita e o PSF, dito socialista, outrora visceralmente divergentes, hoje se apresentam quase como gêmeos políticos. O mesmo se dá na Alemanha com o CDU e o SPD, na Grã Bretanha com o Partido Trabalhista e o Conservador e na Espanha com o PSOE e o PP.

         No Brasil, infelizmente, o PT, PSDB e o PMDB são muito similares com rótulos diferentes. Exemplos não nos faltam. O governo Lula autorizou, sob pressão da Monsanto e da agroindústria nacional, o uso da soja transgênica sem estudos que confirmassem sua não agressividade à saúde humana e à dos animais.

         O atual governo, também do PT, prepara-se para a concessão à iniciativa privada de mais rodovias, portos e aeroportos por pressão das corporações. A concentração de riqueza a que esse processo levará não foi esquecida pela presidente da República. Além disso, o processo em questão deixa claro que a presidente da República assume que o Estado que ela governa é, de fato, ineficiente.

         As licitações de campos de petróleo, interrompidas há 5 anos, serão retomadas em 2013 por pressão das corporações do setor.

         Falta, portanto, sentido em classificar tal ou qual partido como situação e oposição ou como direita e esquerda. Qualquer dos maiores partidos brasileiros seguiria esta mesma direção.

         Nos últimos 14 anos pouca coisa mudou. Apenas o crescimento da classe média pode ser alegado como conquista dos dois últimos governos. Usando-se como definição de classe média apenas a sua renda, isto pode ser verdade. Entretanto, boa parte dos que galgaram a essa classe média vive em favelas, o que introduz a questão social até aqui não vista como importante.

         Este modelo substitui o sujeito da história – o ser humano - pelo objeto – o seu nível de consumo. Saúde, educação, moradia e segurança seguem decadentes tanto nos governos do PSDB como nos do PT. Queda, portanto, evidente a similaridade entre os maiores partidos brasileiros. Como se vê, até em nossa terra varonil se vê a “americanização” da política. Nossos partidos políticos nada mais são do que "genéricos" em embalagens levemente diferentes.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Até quando vamos ser idiotas e ler a “Veja”?


            Acredito que dever ter havido uma fase da existência da humanidade em que a imprensa tinha como alvo informar de forma isenta. Nesta fase o cidadão comum buscava na chamada “mídia” a informação clara e neutra sobre uma grande diversidade de temas para então formar a sua própria opinião.

            Infelizmente, nasci numa época em que a imprensa já se achava deformada, havendo órgãos de informação com diferentes tendências e posições. É natural que as pessoas busquem se informar nos veículos que assumem posições em sintonia com as suas. Introduz-se, assim, a ausência do contraditório que poderia lançar mais luz sobre a questão e prolifera o partidarismo, a divisão e cisão sem consequências.

            Evidentemente, mesmo neste ambiente viciado, há órgãos de imprensa que buscam reforçar suas posições ressaltando fatos que desmerecem seus adversários em diferentes campos do relacionamento humano. Um dos campos mais visado é a política. Entretanto, qualquer órgão da “mídia” minimamente sério irá cuidar que qualquer de seus ataques a adversários políticos de sua linha editorial tenha como fundamentos documentos, depoimentos e outras provas dignas crédito antes de sua divulgação ao público.

            Lamentavelmente não é o que tem ocorrido com a revista semanal “Veja” em nosso país. Em seu último número (semana de 17 a 23/9/2012), a revista ataca de frente o ex-presidente Lula, acusando-o de ser o “chefão” do “Mensalão”. Segundo a “Veja”, suas informações foram obtidas de “parentes e pessoas próximas a Marcos Valério”, este o operador do citado esquema de corrupção. Não cita a “Veja” uma prova concreta ou um depoimento digno de credibilidade. Suas informações são vagas e irresponsáveis. Nesse clima informa a “Veja” extraoficialmente que tem em seu poder o áudio de uma entrevista com o próprio Marcos Valério que será oportunamente divulgado.

            Vergonhosamente, a “Veja” não cita um nome sequer dos parentes e pessoas próximas ao operador do esquema. Ademais, o próprio Marcos Valério já informou à imprensa, através de seu advogado, que não deu qualquer entrevista à “Veja”.

            Não trata este texto de defender o ex-presidente Lula. Trata, sim, de assegurar à sociedade brasileira o direito de obter na imprensa informações verídicas e comprovadas, mesmo que estas contrariem seu credo.

            Curiosamente, a “mídia” calou-se perante as denúncias de que o Diretor da “Veja” em Brasília, Policarpo Jr. esteve envolvido com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e com o senador cassado Demóstenes Torres em acusações de tráfico de influência para beneficiar alguns interesses políticos. Note-se que estas denúncias são resultado de investigações da Polícia Federal, claramente citadas no número 710 da revista “Carta Capital”.