A história do espaço geográfico, dividido entre palestinos e israelenses, limitado pelas colinas de Golã, na fronteira com o Líbano, ao norte, pelo deserto de Negeb, na fronteira com o Egito, ao sul, pelo rio Jordão, na fronteira com a Jordânia, a leste e pelo mar Mediterrâneo a oeste tem sido marcada, ao longo dos séculos, por conflitos.
Razões religiosas, econômicas e políticas têm levado, ao longo de séculos, ambos os povos a crer que o espaço é seu. Até mesmo o Antigo Testamento registra o confronto entre o pequeno Davi, um israelense, e o gigante Golias, um palestino.
Este problema nunca foi, de fato, encaminhado para uma verdadeira solução. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, ou mais precisamente em 1947, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), a questão voltou a ser abordada. Desta vez, acreditava-se que com a paz global então alcançada, esta questão menor seria facilmente superada. Os fatos, todavia, não seguiram esta lógica.
A ONU criou o Estado de Israel, mas esqueceu-se de criar um Estado Palestino homólogo. Lamentável falha! Há 65 anos existe um estado israelense com todas as instituições que um moderno estado requer e fronteiras definidas. A indefinição gerada pela atitude da ONU, em 1947, tem dado ensejo a seguidos conflitos, visto que os palestinos se acham no justo direito de desfrutarem das prerrogativas de viverem em um estado como cidadãos, com direitos e deveres, protegidos pela lei dentro de suas fronteiras e reconhecidos pela comunidade internacional.
Em virtude do desequilíbrio produzido pela omissão da ONU, o Estado de Israel tratou de se proteger por estar cercado de países muçulmanos. A indústria bélica israelense é das mais avançadas do mundo. O arsenal israelense inclui até mesmo armamento nuclear, graças ao apoio tecnológico de potências ocidentais. Ademais, as forças armadas israelenses estão entre as mais bem treinadas do mundo. Este quadro refletiu-se nas repetidas vitórias de Israel em todos os conflitos com países muçulmanos da região aliados da causa palestina.
Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a Organização de Libertação da Palestina (OLP), sob o comando de Yasser Arafat, gradualmente conquistou o reconhecimento internacional, tornando-se a representante do povo palestino, culminando nos Acordos de Oslo, assinados com Israel em 1993. Esses acordos definiram a Autoridade Nacional Palestina como um grupo provisório para administrar partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza (mas não de Jerusalém Oriental), ficando ainda pendente uma solução final para o conflito.
A excessiva tolerância da OLP nas negociações com Israel despertou a oposição de grupos dentro do movimento palestino, particularmente do Hamas que rompeu com a OLP e hoje administra isoladamente a Faixa de Gaza. O perfil agressivo do Hamas levou Israel a bloquear a Faixa de Gaza. A saída de pessoas e a entrada de mercadorias - até mesmo alimentos e medicamentos - por terra, mar e ar só é possível com a permissão das autoridades israelenses. Para tentar sair desse bloqueio, o Hamas, volta e meia, agride o sul de Israel com armamento suprido pelo Irã. Em contrapartida, Israel muito melhor equipado para a guerra, executa, como represália, verdadeiros massacres contra a população de Gaza.
Na outra área sob controle palestino, a Cisjordânia, o atual governo de extrema direita de Israel prossegue na sua provocadora estratégia de ocupar espaços estabelecendo novos assentamentos para dificultar eventuais negociações e acordos futuros.
Por outro lado, agências multilaterais, incluindo a União Europeia, têm trabalhado lado a lado a com a Autoridade Nacional Palestina para construir as bases de um futuro, democrático, independente e viável Estado Palestino convivendo na vizinhança de Israel. Atualmente, a área ocupada por assentamentos israelenses e bases militares de Israel na Cisjordânia se aproxima de 30% do território. Para agravar a situação, o governo radical de Israel planeja ampliar os assentamentos e, em consequência, o nível de tensões entre os dois lados.
A solução para o problema passa pela eleição de um governo disposto a negociar e a ceder em Israel. Além disso, não há estado sem fronteiras e o atual estado palestino, reconhecido pela ONU, não tem fronteiras definidas. Em seguida, o Estado Palestino assim formado deverá ter suas instituições – parlamento, constituição, poder judiciário, moeda, forças armadas regulares, participação em organismos internacionais, representações diplomáticas, dentre outras – legalmente estabelecidas. Após esta fase o novo estado deverá receber o aporte de recursos a fundo perdido para dar início às suas operações.
O recente reconhecimento pela Assembleia-Geral da ONU do novo Estado Palestino já é um primeiro passo na direção da solução. Mesmo alguns países da Europa Ocidental (Alemanha e Grã-Bretanha), que se abstiveram de votar na seção que conferiu o status de Estado observador à Palestina, já demonstram seu descontentamento com os planos de Israel para ampliação dos assentamentos na Cisjordânia. Merece ainda cuidado o trato com grupos de oposição dentro do movimento palestino, como é o caso do Hamas. Com as devidas ressalvas, este quadro indica abertamente a perda de influência dos Estados Unidos, os maiores aliados de Israel no Ocidente. Enfim, a situação permite uma visão otimista da questão e uma redução da violência no médio prazo.
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