terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Lorotas para Copenhague

03/12/2009

A maior fatia da matriz de energia elétrica brasileira é representada pela geração hídrica com cerca de 77,5% do total da oferta. Afora alguns projetos desastrosos do ponto de vista ambiental, como os planejados para a área amazônica, a geração hídrica é renovável e ambientalmente neutra quando bem projetada e manejada.


As usinas de Santo Antônio e Jirau, a serem construídas na calha do rio Madeira, em Rondônia, contradizem toda e qualquer política governamental de preservação da Amazônia e de redução de taxa de desmatamento de nossas florestas tropicais por estarem sendo projetadas para alagar grandes áreas planas no coração da Amazônia, tendo como resultado a destruição da mata. Qualquer idiota sabe que represar água numa região de plana - como a nossa Amazônia - implica em produzir um reservatório de grandes dimensões e baixa profundidade e, portanto, de baixa eficiência sob o ponto de vista de engenharia. Apenas a usina de Jirau irá inundar uma área equivalente a três vezes à ocupada pela calha do rio no trecho considerado.


Assim, num momento em que deveríamos estar comemorando o crescimento da área reflorestada, o próprio governo lidera na redução da cobertura vegetal da floresta tropical mais importante do planeta. Aliás, na mesma linha de raciocínio, temos sido testemunhas, com elevada frequência, do fato de a imprensa informar que o governo federal vem assiduamente festejando a queda da taxa de desmatamento na Amazônia. Honestamente, este não é um motivo para se comemorar. Comemoração mereceria a inversão da tendência, a saber, o crescimento da taxa de reflorestamento, não só na Amazônia, mas também em nossa moribunda Mata Atlântica e em outros biomas representativos e também depredados.


Outro dado preocupante tem sido a euforia com que se divulga a descoberta e a futura produção de petróleo e gás natural que vem sendo descobertos na camada pré-sal. Dentre os planos do governo está o de duplicar a atual produção de óleo brasileira, alcançando quatro milhões de barris de óleo equivalentes até 2020. Cerca de 50% deste acréscimo visam atender a crescente demanda do mercado interno, enquanto que a outra metade se destina à exportação. Assim, não só esta produção vai tornar nossa matriz energética mais suja, como também contribuiremos para sujar a matriz de outros países.

Entretanto, não podemos parar por aqui. Recentemente o governo concedeu incentivos fiscais para a compra de veículos de passeio, em boa parte dos casos para uso individual, agregando milhões de veículos à frota de nossas já saturadas e congestionadas metrópoles. Poderão alegar alguns que parcela significativa desses veículos é do tipo “flex” que podem queimar etanol em seus motores. É claro que o uso de etanol, produzido da cana-de-açúcar, é muito mais saudável que o uso de gasolina ou diesel. Entretanto, mesmo a cana-de-açúcar não é inteiramente “verde”, pois todos sabemos que as plantas retiram gás carbônico do ar para realizar a fotossíntese, mas devolvem uma parcela desse gás à atmosfera durante sua respiração. É claro que há plantas cujo saldo de remoção de CO2 é melhor que o da cana-de-açúcar. Daí a necessidade de reflorestamento utilizando as espécies vegetais originais e não a ocupação de grandes áreas com as monoculturas, inclusive da cana-de-açúcar.

Um dado alarmante é que para absorver os 400 milhões de toneladas de CO2 a serem emitidos apenas em 2009 no Brasil, será necessário o reflorestamento de 6.974 km2, equivalentes a 900.000 campos de futebol de 110 por 70 metros.

Em função dos dados aqui apresentados, fica evidente que a proposta brasileira de reduzir em 39% as emissões de gases de efeito-estufa – CO2 e NO2 basicamente – resultantes da combustão de derivados de petróleo e de carvão mineral não passa de mais uma lorota dentre as muitas que serão contados na Cúpula de Copenhague a se realizar neste mês.

Dá para confiar nos produtores de etanol?

12/11/2009

Nas minhas andanças no último feriado, cheguei a ver o litro de álcool combustível a R$ 1,95. Este número representa um aumento de mais de 22% em relação ao preço médio pago na cidade do Rio de Janeiro até setembro deste ano.

As explicações para esse comportamento dos preços - dada pelos produtores - é a elevação do preço do açúcar no exterior, o que leva a um desvio de parte da produção da cana-de-açúcar (matéria prima para ambos os produtos (álcool e açúcar) para a produção de açúcar, reduzindo a oferta de álcool e elevando seus preços no mercado doméstico.

Um dos motivos desta alta do preço do açúcar foi a quebra da safra de cana da Índia, que vai levar o país - que é o maior consumidor mundial do produto - a terminar o ano com um déficit de cerca até sete milhões de toneladas desta da commodity.

Além disto, os EUA precisarão importar grandes volumes de etanol do Brasil para atender as metas de utilização de biocombustíveis avançados impostas pelo mandato criado pelo Padrão de Combustíveis Renováveis dos EUA, conhecido por RFS, da sigla em inglês. A afirmação foi feita pela analista da trading francesa Sucres et Denrees, Karim Salamon. Segundo ela, os EUA dependerão de forma expressiva do etanol brasileiro para cumprir os mandatos estabelecidos, que são de 757 milhões de litros em 2010, atingindo 15,1 bilhões de litros em 2022. Para agravar o quadro, a produção de etanol de milho – altamente subsidiada por lá - vai sofrer um sensível impacto para menos por causa dos problemas climáticos enfrentados por lá no último verão.

Após mostrar esta paisagem em torno do álcool de cana, cabe a pergunta: dá pra confiar nos produtores de álcool e açúcar dado que eles têm demonstrado sua alta capacidade de especular com os preços e a oferta em decorrência de qualquer fato inesperado em qualquer espaço do globo?

É certo que a combustão do etanol é bem menos agressiva que a da gasolina, quando se cogita da emissão de gases causadores do efeito-estufa em nossa atmosfera, especialmente o dióxido de carbono (CO2). É certo também que tanto o etanol quanto a gasolina são usados apenas para gerar energia para acionar motores de veículos de passeio, para o transporte individual e para contribuir para o congestionamento de nossas grandes cidades.

Não se pode deixar de considerar também as consequências das especulações e do aumento do preço do etanol na gestão dos negócios públicos. Ainda este mês, o governo brasileiro vai participar da Conferência do Clima a se realizar em Copenhague, na Dinamarca. Neste fórum os países vão assumir compromissos para reduzir as emissões de gases causadores do aquecimento global. Um dos trunfos do Brasil é justamente o seu programa de biocombustíveis, no qual o emprego do etanol é um dos pontos fortes.

Outro ponto a lembrar é que, em função do aumento do preço do etanol no mercado interno, o governo já pensa em reduzir o conteúdo de álcool anidro na gasolina. É inegável que mesmo uma fração de álcool na gasolina já contribui efetivamente para a redução das emissões de gases causadores do efeito-estufa.

Em resumo, a produção de etanol é assunto muito sério para ficar ao bel-prazer de especuladores e gananciosos.

O pré-sal e o efeito-estufa

O pré-sal e o efeito-estufa

24/09/2009

Embora predomine atualmente a visão de que o aquecimento global é consequência do volume de gás carbônico lançado na atmosfera resultante da queima de combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral – há uma outra corrente que defende a tese de que o aquecimento global é fruto de um periódico aquecimento de nosso planeta resultante de alterações na posição da órbita terrestre e, em consequência, da distância da terra em relação ao sol.

Ora, mesmo que a segunda corrente seja verídica e que estejamos de fato entrando num ciclo cósmico periódico de aquecimento terrestre, isto não torna a segunda premissa falsa. Indiscutivelmente, a maior presença de gás carbônico e outros gases causadores do efeito-estufa na atmosfera é uma indutora de aquecimento da atmosfera de nosso planeta. É cientificamente comprovado que a presença desses gases modifica o regime segundo o qual a radiação solar atinge a superfície terrestre e é por ela refletida de volta ao espaço, especialmente a radiação infravermelha ou radiação térmica emitida pelo sol. Portanto, mesmo que seja verdade que estejamos entrando num ciclo de aquecimento terrestre produzido por causas externas, isto não invalida os efeitos da presença de gases geradores do efeito-estufa produzidos pela queima em larga escala de combustíveis de origem fóssil

Em breves palavras, a radiação infravermelha ou térmica procedente de sol tem energia suficiente para atravessar a atmosfera terrestre, sendo parte dela absorvida pelo planeta e parte refletida de volta ao espaço. Ocorre que a parcela de radiação térmica refletida é de menor conteúdo energético que a radiação original incidente, sendo, em muitos casos incapaz de atravessar a camada de gases causadores do efeito-estufa que vão se acumulando na atmosfera em razão do maciço emprego de combustíveis de origem fóssil. Por ser incapaz de vencer a camada de gases, esta radiação é re-refletida de volta à superfície terrestre. Este confinamento da radiação térmica em nosso espaço é o que chamamos “efeito-estufa”.

Todos esses fatos estão aqui alinhados por uma simples razão: a descoberta de petróleo na camada pré-sal pela Petrobrás. Toda a euforia que tomou conta de significativa parcela do povo e de autoridades do governo brasileiro tem, a meu ver, pouco sentido. Autoridades anunciam aos quatro ventos que o petróleo do pré-sal vai ser o veículo da verdadeira e retardada independência do Brasil. Os anúncios dos volumes de óleo e gás variam em função do auditório a quem os políticos se dirigem e não em função de sérios, caros e exaustivos estudos geológicos e geofísicos.

Sobre o petróleo produzido incidirão tributos, “royalties” e outras participações que formarão um fundo social a ser destinado, em boa parte, à educação e a outros programas sociais. Atitude louvável esta não fora ser ela divulgada por um governo em fim de mandato, já que todos nós sabemos que em nosso país não é regra que um governo que entra cumpre as promessas daquele que sai.

Finalmente, volta aquela antiga questão jamais debatida ou analisada pelos nossos eufóricos políticos: após tantos fatos desaconselhando o emprego de fontes fósseis de energia em virtude de sua nocividade ao meio ambiente, não seria antipático e antiético os brasileiros estarem festejando a descoberta de mais uma fonte de agressão a este nosso planeta já tão surrado e maltratado? Será que a Terra suporta a queima de mais esses bilhões de barris de petróleo? Não seria mais razoável o Brasil se orgulhar de liderar a aplicação de fontes de energia renovável em lugar do sujo petróleo?

O pacote do pré-sal

03/09/2009

Recentemente, o governo brasileiro divulgou os principais pontos de seus projetos para a exploração econômica dos recursos do pré-sal.

  1. O primeiro projeto cria um Fundo Social que será beneficiado com os recursos de exploração do pré-sal;
  2. A segunda proposta cria uma empresa estatal para gerenciar as atividades das empresas nestes campos;
  3. Uma terceira proposta trata da capitalização da Petrobrás em US$ 50 bilhões para que ela possa fazer frente aos investimentos requeridos;
  4. A quarta proposta estabelece um sistema de partilha dos resultados da exploração para os campos que ainda não foram licitados.

Informações do governo asseguram que o Fundo Social a ser criado vai concentrar seus recursos na educação pública, visando elevar sua qualidade, e na erradicação da pobreza.

A empresa estatal a ser criada, a Petrosal, deverá avaliar, técnica e economicamente, os planos de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural. A empresa também tem como função monitorar e auditar a execução dos projetos de exploração e os custos e investimentos relacionados aos contratos de partilha de produção. Fato curioso é que parte das atribuições da nova empresa cabe hoje à ANP. Com isto, a Petrobrás que será a única operadora desses campos e suas parceiras nos investimentos terá de fornecer a mesma informação duas vezes a órgãos do governo, o que é lamentável e improdutivo.

A capitalização da Petrobrás será feita pela União, a partir de títulos federais a serem negociados no mercado e lastreados nas receitas advindas da futura produção de óleo e gás natural dos campos do pré-sal. Esta capitalização também estará aberta a acionistas minoritários.

A partilha dos resultados definirá a quem caberão os “royalties” e outras receitas relacionadas às atividades exploratórias.

Esses são os pontos que preocupavam o atual governo. Até aqui tudo é festa. As manchetes não se cansam de divulgar que o Brasil vai, em breve, superar a Arábia Saudita em volume de reservas de petróleo e gás natural. O próprio governo cita países ricos em petróleo, como a Venezuela ou a Nigéria, mas cujo povo continua pobre. Evidentemente, há muitos outros problemas que nem sequer foram abordados, cogitados ou divulgados pelos políticos da situação. Por exemplo:

  1. Que critérios sobre a melhoria dos níveis de qualidade da educação no Brasil serão usados em função da aplicação de receitas federais oriundas das atividades do pré-sal?
  2. Quanto vai custar a produção de cada barril de óleo a ser extraído dos campos do pré-sal?
  3. Quais as reais dimensões dos reservatórios do pré-sal?
  4. Qual a vazão de produção dos campos do pré-sal ao longo do tempo?
  5. Que efeitos terá uma eventual exportação maciça do petróleo do pré-sal sobre a economia do país e sobre a duração das reservas?
  6. Que efeito terá sobre o efeito-estufa a produção de gás carbônico com a queima dos derivados produzidos a partir do petróleo e gás natural produzidos nos campos do pré-sal?

Dado que todas essas questões de fundo estão em aberto e que outros grupos políticos podem assumir o controle do país no futuro, nem mesmo as questões incluídas no pacote oficial enviado ao Congresso terão sua aprovação assegurada. O que se pode dizer das questões não abordadas no projeto oficial?

A Petrobrás é uma empresa privada

23/07/2009

Existe muito idealismo na questão do pré-sal. Entretanto, os fatos já conhecidos demonstram claramente que a distribuição de áreas para exploração destas riquezas seguirá um modelo muito próximo ao estabelecido no governo do PSDB, baseado em leilões que objetivam, em última análise, a privatização de nossas reservas de óleo e gás.

O presidente da República é claro sobre suas intenções quando avalia que um modelo de exploração do pré-sal concentrado na Petrobrás dificultaria a execução de sua ideia de usar os recursos para "reparações históricas", como investimento maciço em educação e no combate à pobreza. Daí sua decisão de criar uma estatal para administrar as reservas do pré-sal que ainda não foram leiloadas, como antecipou recentemente

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - um dos prepostos de José Sarney no atual governo - disse que o projeto definindo o marco regulatório para a exploração de petróleo na região do pré-sal será encaminhado ao Congresso Nacional em agosto.

Segundo ele, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) terá papel relevante no processo, sendo responsável por elaborar os editais para os blocos de petróleo que deverão ser leiloados, a exemplo do que ocorre em outras concessões.

No entanto, ainda não está fixado se o comando dos leilões ficará a cargo da agência ou da nova empresa que será criada para gerir a exploração da camada subterrânea de petróleo, de alta profundidade, onde estão as reservas. Na prática, os blocos do pré-sal serão leiloados como todos os demais blocos o foram até aqui, após a aprovação da lei nº 9.478/97. Nada mudou com o PT no poder.

Um outro fato, entretanto, passa desapercebido pelos nossos camaradas patriotas: a Petrobrás de hoje é, a rigor, uma empresa privada. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que mais de 66% do capital da empresa está em mãos privadas, sendo boa parcela destas estrangeiras. Apesar de o Estado ainda deter a maior parte das ações com direito a voto, mais de 2/3 dos lucros da empresa são destinados a contas privadas.

Diante deste quadro, a posição de brasileiros favoráveis à Petrobrás fica bastante dificultada. Inicialmente porque o governo vai criar uma empresa exclusivamente para cuidar do óleo existente no pré-sal, devendo esta empresa realizar leilões para concessão de áreas à exploração de quem der mais.

Adicionalmente, como patrocinar a causa de uma empresa privada, com parcela ponderável de acionistas estrangeiros e com atuação internacional, frente a outras com o mesmo perfil?

A menos que o Estado volte a deter a maior parte do capital total da Petrobrás, a batalha que setores patrióticos de nossa sociedade estão travando carece de coerência. Na verdade, o que esses setores estão advogando é um privilégio para uma empresa como as demais do setor e que vai distribuir quase 70% de seus lucros para acionistas privados no país e no exterior.

Por outro lado, chega a ser engraçado que, em fim de mandato, o atual presidente da República esteja planejando usar recursos da produção de óleo e gás do pré-sal para a educação e o combate à pobreza...

O tempo se esgota para o petróleo

12/03/2009

As reservas mundiais provadas de petróleo alcançam hoje cerca de 1,18 trilhão de barris, de acordo com a revista especializada Oil & Gas Journal. Reservas provadas são aquelas quantidades de petróleo que, nas atuais condições de tecnologia e custo, podem ser extraídas dos reservatórios. Considerando a atual taxa de consumo global – 82 milhões de barris por dia - este volume seria suficiente para suprir a demanda mundial até cerca de 2050.


Todavia, os cientistas têm reclamado por uma revisão da quantidade das reservas provadas de petróleo, já que, segundo eles, o fim das reservas poderá ocorrer antes do que os governos e as empresas têm admitido, dado que estes e estas têm uma tendência já conhecida para inflar os números.

Os pesquisadores do Centro de Análises sobre a Queda da Produção de Petróleo, baseado em Londres, informam que o pico da produção de petróleo ocorrerá entre 2007 e 2011 antes que esta entre num declínio inexorável, produzindo grandes impactos na economia mundial e no nosso modo de vida.
Segundo a “teoria do pico de produção de petróleo”, o consumo global vai alcançar a taxa de novas descobertas, logo depois vai ultrapassá-la e então passará a reduzir o volume de reservas conhecidas.

De acordo com as pesquisas do Centro de Análises britânico, o pico de produção do chamado “óleo convencional” – aquele cujos custos de descoberta e produção são baixos – ocorreu em 2005. Mesmo quando se levam em conta as novas fronteiras do negócio - o óleo a ser extraído das areias betuminosas, de águas profundas, das regiões polares e da liquefação de frações do gás natural - o pico ocorrerá em 2011, segundo o Centro.

Afora este quadro, há ainda uma outra questão também crucial: nosso planeta será capaz de suportar as consequências, em termos de agressão e degradação ambientais, resultantes do consumo de todo este petróleo ainda por ser produzido? Já hoje, há claros sinais de que a deterioração das condições climáticas – frutos da poluição atmosférica provocada pela maciça queima de derivados de petróleo – especialmente o “efeito estufa”, responsável pela elevação da temperatura global e todos os seus impactos, muitos dos quais ainda desconhecidos, sobre a s condições de sustentabilidade da vida na Terra.

Assim, pelas duas razões aqui expostas – o esgotamento do petróleo e a agressão ambiental – já passamos do momento de ter em mente, minimamente, um projeto alternativo para geração de energia.

Cerca de 88% da energia que o mundo consome atualmente vem das fontes chamadas “sujas” (petróleo, gás natural e carvão mineral). O esgotamento das reservas de petróleo e gás em meados deste século, assim como a redução de seu uso como fonte de energia primária em função da necessidade de preservação ambiental, abrirá espaço para alternativas mais limpas – biocombustíveis, solar, eólica, das marés, etc. – somadas a uma mudança no modo de vida ocidental, baseado no uso excessivo de energia fóssil. Infelizmente, as reservas de carvão mineral terão sobrevida mais longa, tendo na China, Rússia e EUA seus maiores consumidores.

Tomando estes dados como bússola e norma para construir um plano de vôo responsável, a humanidade terá dado passos seguros no sentido de lançar as bases para uma vida melhor, mais segura e tranquila para a geração que está nascendo agora.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Panorama petrolífero recente

Argemiro Pertence
15-Jan-2009
Foi divulgado há pouco o ranking da revista Petroleum Intelligence Weekly para 2007, respeitada publicação setorial, das 50 maiores empresas de petróleo, baseado em algumas características operacionais, dentre as quais a produção de óleo e gás, a capacidade de refino e o desempenho financeiro. O ranking contém alguns dados surpreendentes:

• A estatal Saudi Aramco permanece como a primeira empresa de petróleo do mundo;
• As empresas sob controle estatal são agora majoritárias no grupo (27 dentre 50);
• Três novas empresas fazem agora parte do grupo: Uzbekneftegas, do Uzbequistão, a CNOOC, da China e a Kazmunaigas, do Casaquistão – todas sob controle estatal;
• Todas as três maiores empresas chinesas de energia passam a fazer parte das “maiores 50”, ressaltando seus esforços para assegurar o controle de fontes de petróleo e gás, tanto no território chinês quanto no exterior;
• A CNPC (estatal chinesa) saltou da sétima posição para a quinta, superando a British Petroleum, a Shell e a ConocoPhilips, todas privadas;
• A estatal russa Rosneft teve o maior salto: passou da 24ª para a 16ª posição no ranking;
• A produção total de gás natural do grupo cresceu cerca de 6% ao passo que a produção de petróleo permaneceu estável.

No conjunto das 50 maiores empresas, 18 são inteiramente de propriedade estatal, 8 têm seu capital total majoritariamente sob propriedade do estado.

Situação sui generis é a da Petrobrás. Situada na 15ª posição do ranking, de seu capital total, apenas 32,2% são de propriedade estatal. Embora seu capital votante – as ações preferenciais – esteja, por escassa maioria, sob controle do estado, a maior parte de seu crescente lucro no período envolvido foi parar em mãos privadas, fazendo dela mais um instrumento de concentração e de riqueza num país já tão marcado pela injustiça social.
Outro fator agravante no caso da Petrobrás é o crescimento das reservas brasileiras - especialmente na chamada camada pré-sal - que é expressivo, tornando o setor privado sócio majoritário deste patrimônio.

Num momento em que se percebe claramente o avanço do estado no setor em âmbito mundial, a situação brasileira é francamente diversa da tendência mundial e isto acontece, justamente, durante um governo tido como de tendência popular.

Outra questão preocupante no caso brasileiro, são as concessões para exploração de petróleo e gás nas bacias sedimentares submarinas no mar territorial. Embora a Petrobrás tenha sido a vencedora de boa parte das licitações neste caso, na maioria das vezes ela obteve a concessão em parceria ou consórcio com empresas privadas, em geral estrangeiras. Isto implica em que, pela legislação atual, empresas privadas estrangeiras serão proporcionalmente proprietárias do petróleo e do gás eventualmente extraídos, podendo fazer deles o que mais lhes aprouver, inclusive exportá-los.

Portanto, em que pesem as dúvidas quanto à viabilidade da produção na cama pré-sal, dado seu custo real ainda desconhecido, em caso afirmativo há grandes chances de esta riqueza não trazer benefício real ao povo brasileiro. Como se pode ver, há muito marketing e pouca realidade nesta questão.

A Petrobrás já foi melhor em planejamento

Argemiro Pertence
29-Jan-2009
A Petrobrás acaba de divulgar seu Plano de Negócios para o período 2009-2013 e suas metas para 2020. Sobressaem neste plano alguns números interessantes e outros preocupantes. Por exemplo, a produção de óleo e gás deve crescer cerca de 90% até 2013 e 150% até 2020 (ver quadro abaixo). Evidentemente, este acréscimo significativo estará baseado em maciços investimentos a serem feitos na camada pré-sal, cujos contornos estão cada vez mais definidos a partir da crescente atividade exploratória. O que a Petrobrás não divulga com esta clareza são os custos de produção nestas novas bacias frente às oscilações dos preços de mercado do petróleo, já que sabidamente não é ela que define estes preços.

Por outro lado, o crescimento do refino de petróleo em suas refinarias no Brasil – as existentes e as que serão construídas no período – ficará bem aquém do volume a ser produzido (ver quadro abaixo). Esta observação permite concluir que a empresa pensa em exportar mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020, algo como o volume exportado pela Venezuela ou os Emirados Árabes Unidos atualmente.

Petrobrás - Metas Corporativas
IndicadoresRealizado 2008Metas 2013Previsão 2015Previsão 2020
Produção de Óleo e Gás Natural - Brasil (boed)(*)2.176.0003.310.0004.140.0005.100.000
Produção de Óleo e Gás Natural - Total (boed)(*)2.400.0003.651.0004.626.0005.732.000
Carga Fresca Processada - Brasil (bpd)(**)1.859.0002.270.000-
3.012.000
Fonte: Petrobrás – Plano de Negócios 2009-2013
(*) barris de óleo equivalente por dia;
(**) barris de óleo por dia


O que preocupa é ausência de menção à agressão que o petróleo tem causado ao meio ambiente ou a timidez com que este tema é abordado num plano de tão largo alcance no tempo. Naturalmente, ninguém advoga uma radical e imediata eliminação do petróleo como fonte de energia primária, especialmente na matriz de transportes. Todavia, um processo responsável visando sua substituição gradual já deveria estar em andamento, já que os prejuízos causados ao planeta e a seus habitantes são hoje consensualmente reconhecidos. Um simples análise do uso que se faz no Brasil (e no mundo não é muito diferente) permite perceber, com um pouco de raciocínio lógico, a extensão dos males causados pelo petróleo e seus derivados. No Brasil, conforme quadro abaixo, 56% do petróleo consumido é queimado em motores de veículos automotores (sob a forma de óleo diesel e gasolina). É fato reconhecido, mas pouco divulgado, que esses motores apresentam indicadores de eficiência ridículos ou mesmo inaceitáveis no momento tecnológico que a humanidade vive hoje – da ordem de 25 a 27%. Ou seja: cerca de 75% da energia térmica gerada pela combustão são desperdiçados. No caso dos motores a diesel esta eficiência é levemente maior – na faixa de 33 a 35% - em função da maior temperatura em que se dá a combustão. Mesmo assim, o desperdício alcança alarmantes 65% da energia fornecida ao motor.

Petrobrás - Perfil de Refino
Óleo Diesel37%
Gasolina19%
Óleos Combustíveis15%
Nafta e Querosene de Aviação12%
Outros16%
Fonte: www.petrobras2.com.br

Agregue-se a isto que há no país atualmente cerca de 50 milhões de veículos automotores, sendo que mais da metade deles trafegam nas capitais, em meio a um trânsito caótico e também sem planejamento, fato que contribui para ampliar a ineficiência dos veículos e do sistema. Porém não basta. A mera observação dos milhares de veículos enredados nas malhas do trânsito urbano revela outro problema tão grave como os demais. Trata-se um problema de educação e cidadania: Quase 80% dos veículos congestionados e que se arrastam nesse emaranhado inútil transporta apenas o motorista, embora sejam projetados para transportar, em alguns casos, até cinco pessoas. O preocupante é que a Petrobrás se prepara para ampliar sua oferta de produtos para esse mercado caótico, o que irá incentivá-lo a crescer em meio à desordem, já que as campanhas publicitárias incentivando o uso do transporte individual são cada vez mais sofisticadas e constantes.

Há ainda, a oferta de querosene de aviação destinado a acionar os motores dos jatos da aviação comercial tão ou mais ineficientes que os motores a explosão dos veículos rodoviários. Por fim, mas não menos pernicioso do ponto de vista da sustentabilidade da vida, há a produção de nafta (um derivado com algumas características semelhantes às da gasolina) destinada, em boa parte, a suprir as centrais de matérias-primas da indústria petroquímica.

É das indústrias de segunda e terceira gerações da cadeia petroquímica que provêm os plásticos, as fibras e outros materiais sintéticos cuja absorção na natureza é extremamente difícil tal a estabilidade química destes compostos. Como resultado, temos hoje, não apenas nos lixões do mundo inteiro, mas também nos mares, florestas e lagos, volumes crescentes de restos de material plástico produzidos pela indústria petroquímica e para os quais não se tem solução ou destino, já que reciclá-los custa mais caro que fabricar novos, visto que a lógica dominante é a de que o principal valor deste sistema é o dinheiro.

Assim, caminha-se não apenas para um mundo em que a vida estará ameaçada pela agressão que os ainda imensos estoques de petróleo nos reservatórios representam para a humanidade e outras espécies, mas também pela sujeira propiciada pela descontrolada oferta de plásticos e fibras não-degradáveis que ameaçam cobrir a superfície do planeta.

É triste ver gente séria se posicionar a favor da Petrobrás nestes termos, sem qualquer preocupação com as questões aqui mencionadas. Aparentemente, o desejo destes auto-intitulados "patriotas" é que a Petrobrás continue a cometer todos esses crimes, com uma única diferença: que o faça sob controle do Estado. Boa parte do percurso já foi superada: a Petrobrás já está entre as 15 maiores empresas petrolíferas e agressoras do planeta.

Diversamente do sonho desses nacionalistas e no frigir dos ovos, qualquer cidadão minimamente pensante está apto a diagnosticar os problemas que envolvem a atuação da Petrobrás dos dias de hoje. Outrora uma empresa lúcida, competente e com visão social, hoje não passa de uma simples ferramenta de mercado, ocupada, de maneira até mesmo irresponsável, em faturar para seus acionistas – na maioria privados e em boa parte estrangeiros – à custa do país, da sociedade e do meio ambiente.

Mobilidade urbana, consumo de energia e agressão ambiental

Argemiro Pertence
01-Abr-2009
A mobilidade urbana é o objetivo da interação dos deslocamentos de pessoas e bens entre si e com o próprio espaço das cidades. Isso implica em que o conceito de mobilidade urbana ultrapassa o do deslocamento de veículos ou do conjunto de serviços operados para permitir estes deslocamentos. Planejar a mobilidade urbana é, portanto, mais que cuidar de transporte e trânsito.
Já a mobilidade urbana sustentável é o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que busca permitir o acesso amplo e democrático ao espaço das cidades, através da valorização dos modos de transporte coletivo e não motorizados de modo efetivo, socialmente inclusivo e ecologicamente sustentável.
Uma política mobilidade urbana consciente deve, portanto, dar destaque aos seguintes aspectos, dentre outros: enfatizar o uso do transporte coletivo e não do transporte individual, diminuir a poluição ambiental gerada pelos meios de transporte, diminuir o número de acidentes de trânsito, incentivar a utilização de combustíveis não poluentes e renováveis.
No Brasil, a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável é coordenada pelo Ministério das Cidades que orienta os Planos Diretores municipais e a legislação urbanística, tendo em conta as seguintes diretrizes: diminuição do número de viagens motorizadas, revisão do desenho urbano, desenvolvimento de meios não motorizados de transporte, reconhecimento da importância do deslocamento dos pedestres, proporcionar mobilidade às pessoas com deficiência e restrição de mobilidade, priorização do transporte público coletivo, investimento em passeios (calçadas), em arborização urbana, equipamentos públicos com acessibilidade a todos os cidadãos e construção de espaços mais acessíveis (sem barreiras arquitetônicas).
Pois é justamente neste contexto que o governo brasileiro decide estender, por mais três meses, a redução tributária sobre a venda de veículos automotores, sob a alegação de que é preciso gerar empregos. É verdade que compete ao governo adotar medidas para preservar ou mesmo ampliar o nível de emprego no país, mas jamais adotando medidas que contradizem frontalmente os planos de seu governo. Nada mais incoerente que um governo ter uma Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável primorosa em termos de retórica e à primeira crise esta política é jogado no lixo. Como coadunar os princípios de desestímulo ao transporte individual nas grandes cidades com o incentivo à compra de veículos automotores que contribuirão decisivamente para tornar ainda mais congestionadas as nossas metrópoles?
Nada contra o governo gerar empregos, mas poderia promover sua criação em novos setores. A atual crise já estava prevista há alguns anos. Qualquer governo medianamente informado sabia que nuvens cinzentas tingiam o horizonte da economia. Portanto, nada mais normal do que adotar comportamentos preventivos visando minimizar seus impactos.
Outra questão que se choca com Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável é a exploração de petróleo na chamada camada Pré-Sal, na escala até aqui divulgada. Evidentemente não se advoga ainda o abandono do petróleo como fonte de energia em favor de um modelo mais limpo. Entretanto, a situação já nos obriga a desenvolver uma matriz energética cada vez menos dependente do petróleo e mais lastreada em fontes de energia renováveis e limpas. No entanto, o que se vê no Brasil é a estagnação do quadro. A adição de álcool à gasolina parou em 25% e o biodiesel é uma mistura que contem apenas algumas gotas de óleos vegetais por litro de diesel mineral.
Também nesta questão o Brasil ainda não deu certo.

O advento da energia solar

Argemiro Pertence
16-Abr-2009
Energia solar é uma fonte renovável e ambientalmente não agressiva. Diferente dos combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão), a energia solar está disponível em todos os lugares de nosso planeta. Além disso, esta energia é gratuita e imune às elevações de preços e à especulação. A energia solar pode ser empregada de diversas formas: para fornecer calor, iluminação, trabalho mecânico e eletricidade.
A luz solar é convertida em eletricidade pelo o uso de células fotovoltaicas. Estas células são equipamentos semicondutores, em geral feitos de silício e que não contém líquidos, produtos corrosivos e partes móveis. Elas geram eletricidade enquanto a luz do sol incidir sobre elas, exigem pouca manutenção, não poluem e operam em silêncio, tornando a energia solar o mais limpo e seguro processo para geração de energia.
As células fotovoltaicas têm variadas dimensões, porém a maioria tem 10 cm x 10 cm e geram cerca de meio Volt de eletricidade. Estas células são agrupadas em módulos ou painéis para que possam produzir maiores voltagens e mais elevadas potências. Um módulo de 12 Volts, por exemplo, dependendo da potência a ser produzida, poderia ter entre 30 e 40 destas células. Um módulo para produzir uma potência de 50 watts mede aproximadamente 40 cm X 100 cm. Atualmente, os painéis fotovoltaicos têm baixa eficiência, convertendo apenas de 12 a 15% da energia solar incidente em eletricidade. Porém, pesquisas em laboratório já alcançaram rendimentos próximos a 30% e este número tende a crescer.
Os módulos fotovoltaicos geram corrente contínua, o tipo de corrente produzido pelas baterias. Embora as lâmpadas comuns operem com corrente contínua, a maioria dos aparelhos elétricos precisam de corrente alternada (em 110 ou 220 V). Para superar esta situação existem equipamentos conhecidos como “inversores” que transformam a corrente contínua em alternada.
Os painéis fotovoltaicos geram eletricidade apenas quando a luz solar incide sobre eles. Por isto, ao dimensionar um sistema isolado, a geração de energia e a capacidade de armazenamento das baterias deveriam ser capazes para operar equipamentos à noite ou em dias nublados quando a incidência de luz solar é menor.
Para calcular a quantidade de energia requerida, multiplica-se a potência de um aparelho elétrico (em watts) pelo número de horas do dia que este será utilizado. Por exemplo, uma lâmpada fluorescente de 17 watts acesa durante 18 horas do dia vai consumir 306 watt.hora (0,306 quilowatt.hora). Para obter a potência total faça este cálculo para todos os aparelhos e, ao final, some-os. O sistema fotovoltaico deverá suprir, ao menos, tantos quilowatt-hora (sob diferentes condições de iluminação) quanto o total de sua demanda. Ao dimensionar um sistema fotovoltaico, deve-se considerar ainda sua facilidade para expansão visando atender alguma demanda adicional não planejada, tal como a compra de um novo aparelho, um computador, etc.
Os sistemas fotovoltaicos podem fornecer potência a qualquer equipamento elétrico, mas não são recomendados para aquecedores elétricos de água ou similares. Os aquecedores solares aquecem água mais rápida e eficientemente que qualquer sistema fotovoltaico. Os aquecedores solares convertem até 60% da energia solar incidente em calor ao passo que as células fotovoltaicas ainda se limitam a converter entre 12 a 15% da energia solar em eletricidade.
O custo básico de um painel fotovoltaico pequeno de 50 watts, um inversor de baixa potência e uma bateria é de cerca de R$ 1500,00. Este sistema pode alimentar três lâmpadas de alta eficiência (luz fria), um aparelho de TV pequeno e uma bomba d’água. Um sistema de maior potência, de, digamos, 600 watts, pode alimentar – não ao mesmo tempo - diversas lâmpadas frias, um aparelho de TV stereo, um forno de microondas e uma bomba d’água. Seu custo situa-se na faixa de R$ 16000,00. Entretanto, as pesquisas, as melhorias técnicas e o emprego crescente desses sistemas farão com que esses custos se reduzam e, em consequência, cresça a aplicação deste modelo de geração de energia de baixo custo e ambientalmente correta.

A ameaça do Pré-sal

Argemiro Pertence
13-Jun-2009
É surpreendente ver tanta gente séria cantando louvores aos quatro ventos à descoberta do Pré-sal pela Petrobrás. Mais surpreendente ainda é ver associação feita entre os esforços para que a Petrobrás seja a única exploradora dessas reservas com a campanha, feita nos anos 50 do século passado, cujo lema era “o petróleo é nosso”. Entre uma e outra já se passaram cerca de 60 anos e o mundo hoje é outro, bem diferente daquele.

O mundo dos anos 50 do século passado não tinha noção da gravidade da agressão ao planeta causada pelo uso intensivo de combustíveis fósseis. E foi essa ignorância que nos trouxe ao quadro atual, marcado pela deterioração visível das condições climáticas e pela agressão ambiental.

Embora não se tenha uma avaliação final confiável do volume de óleo e gás armazenados nesses campos, é impensável que gente minimamente responsável advogue a tese da exploração, produção e consumo dos combustíveis do Pré-sal sem levar em conta seu impacto adicional e nocivo sobre o planeta e seu meio ambiente.

A própria Petrobrás divulga na sua página na Internet que, de todo o petróleo refinado por ela, no mínimo 70% são destinados à queima (gasolina, diesel, querosene de aviação e parte do óleo combustível) e, em consequência, à produção do gás carbônico, o principal agente causador do efeito estufa (ver figura abaixo). Torna-se inegável que o negócio da Petrobrás e de outras empresas de petróleo é sujar o meio ambiente
http://www.jornalorebate.com.br/173/1_clip_image002.jpg
Fonte: Petrobrás
Outro dado importante é o impacto do uso de derivados de petróleo para movimentar veículos automotores, particularmente nos espaços urbanos. Curioso é que, no caso do Brasil, o alarme para esta questão tenha sido dado pelos inspetores da FIFA que vieram ao Brasil para avaliar as cidades-candidatas a serem a serem escolhidas como sub-sedes para a Copa do Mundo de 2014. Uma das questões por eles avaliadas foi a chamada “mobilidade urbana”, definida como a capacidade das cidades em permitir o escoamento de trânsito de veículos. Nesse aspecto houve sérias restrições a algumas de nossas metrópoles, o que vai obrigar os administradores públicos a fazer vultosos investimentos em novas vias urbanas para atender as exigências da FIFA.

É lamentável que esses mesmos administradores nunca tenham percebido que as populações dessas cidades perdem diariamente preciosas horas de suas vidas presas no trânsito caótico de nossas grandes cidades. Foi preciso que agentes externos fizessem a crítica para que alguma coisa venha a ser feita. Na contra-mão desses fatos, as autoridades brasileiras reduziram a carga tributária sobre os veículos de passeio visando aumentar as vendas, ignorando os congestionamentos urbanos e a poluição ambiental daí resultantes.
Resta evidente, portanto, uma total falta de critérios na política brasileira em relação ao petróleo aqui existente. Ademais, em função do crescimento acentuado da informação e da consciência ambiental de parcelas cada vez maiores da população a produção de petróleo sem considerar seu impacto ambiental está tornando as empresas petrolíferas cada vez mais antipáticas.

Petróleo e caos urbano

Argemiro Pertence
09-Jul-2009

A falta de mobilidade urbana nas grandes metrópoles do chamado Terceiro Mundo é hoje algo inimaginável sob o ponto de vista da racionalidade e do planejamento. O mar de veículos que se arrasta preguiçosamente pelas ruas e avenidas observado especialmente nos períodos de grande movimento é fruto do consumismo e, sobretudo, da falta de competência e de visão administrativa das autoridades políticas locais.

Em muitas destas sociedades ser proprietário de um veículo próprio está associado ao sucesso individual. Esta relação é ressaltada incansavelmente pela propaganda na mídia, o que quase obriga qualquer cidadão a comprar um carro, mesmo que não tenha condições para tanto e mesmo que o espaço físico onde vive não comporte mais um veículo sequer.

Infelizmente, este é o caso do Brasil, onde temos cerca de oito ou nove metrópoles com essas características. Foi justamente neste cenário que o governo brasileiro decidiu, no final de 2008, reduzir a carga tributária incidente no preço dos veículos de passeio e oferecer melhores condições de crédito para, segundo ele, preservar empregos e renda. Em princípio, nada errado com esta iniciativa. Entretanto, uma análise mais aprofundada da questão observando o quadro sob outro prisma torna evidente a inadequação desta medida. Cerca de 85% dos veículos saídos das fábricas têm como destino as grandes cidades.

Segundo dados da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), nos cinco primeiros meses de 2009 foram produzidos 1.186.973 veículos no país, sendo cerca de 1.009.000 destinados às grandes cidades, o que resulta num acréscimo de cerca de 6.800 novos veículos por dia nesses espaços urbanos (ver quadro abaixo).

Brasil - Produção Mensal de Veículos
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio TOTAL
Gasolina 19.501 25.044 26.872 28.575 30.990 130.982
Flex 151.553 163.523 228.381 206.177 217.339 966.973
Álcool 0 0 0 0 96 96
Diesel 13.995 15.812 19.623 18.986 20.506 88.922
Total 185.049 204.379 274.876 253.738 268.931 1.186.973
Fonte: ANFAVEA

O que já era um caos anteriormente – a movimentação urbana nessas metrópoles – agravou-se ainda mais, indicando a inadequação da solução governamental. Gerar ou preservar empregos é tarefa nobre, mas um governo criativo e preocupado em encontrar soluções inteligentes não seguiria por este caminho no qual estão patentes o imediatismo e a falta de planejamento.

Por uma questão acidental, o quadro da ANFAVEA mostra que cerca de 80% desses veículos são do tipo “flex”, isto é, podem ser movidos a álcool, gasolina ou qualquer porcentagem de mistura entre esses dois combustíveis. Além disso, os atuais preços do álcool tornam mais econômico o seu uso, fato que reduz as emissões de gases de efeito-estufa gerados pela combustão de derivados de petróleo.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Até quando o mundo vai sustentar a farra dos donos do petróleo?

Entre julho e dezembro de 2008 – num intervalo de apenas 5 meses - o preço de referência do barril de petróleo em Nova York passou de US$ 147 a US$ 38 – uma queda de cerca de 75%. Evidentemente, mesmo vendendo com uma redução desta magnitude no preço, os produtores permaneceram tendo lucro, o que implica deduzir que os mecanismos de mercado não têm tido qualquer influência sobre o prosaico “equilíbrio” entre a oferta e a demanda.

    Não custa relembrar que o custo de produção do petróleo, incluindo os custos de descoberta e taxas, não passa de US$ 6 por barril na maioria dos países da OPEP. Portanto, mesmo após a acentuada queda dos preços, o lucro dos produtores ultrapassa os 500%. Quando preço estava a US$ 147, este lucro era de 2300%! Nada mais imoral!

    Não é possível nem justo que o mundo todo se torne refém de uma dúzia de mega-corporações privadas que se utilizam da fachada da OPEP para se apossarem de uma parcela tão significativa da renda mundial, concentrando riqueza e poder de forma tão desmesurada. Não se trata de isentar os governos dos países da OPEP de culpa, evidentemente. Os países da OPEP formam um iníquo cartel isento de qualquer controle que ainda se dá ao luxo de acobertar a ganância de empresas privadas com sede no chamado “primeiro mundo”, a saber: Shell, Exxon Mobil, Total, Chevron, British Petroleum, Elf Aquitaine e outras menos cotadas.

    O curioso é que esta situação já perdura quase quatro décadas. Teve início em 1973, durante a guerra do Yom Kippur – entre Israel, de um lado e Síria e Egito de outro. Naquela ocasião, o preço do barril quadruplicou num intervalo de apenas três meses (de US$ 3 para US$ 12), ao passo que o custo de produção manteve-se estável. Esta foi uma forma de os países árabes chantagearem o ocidente que apoiou Israel no conflito. Esqueceram-se os árabes que as grandes companhias ocidentais detinham concessões para exploração e produção no Oriente Médio e, portanto, se beneficiaram por tabela com a elevação do preço do óleo.

    Um novo choque nos preços do petróleo ocorreu em 1979, com a eclosão da revolução dos aiatolás, no Irã, que resultou da deposição do Xá Reza Pahlevi e na paralisação da produção do país. Vale lembrar que o Irã é o segundo produtor mundial de petróleo, atrás apenas da Arábia Saudita. Naquela oportunidade, o preço do petróleo saiu de US$ 12 o barril para mais de US$ 35 (em valores da época).

    De lá para cá, o preço do petróleo tem flutuado livremente ao sabor dos ventos, porém sempre preservando as enormes margens de lucro dos produtores, sejam eles empresas estatais dos países da OPEP ou as mega-corporações privadas com sede nos países do ocidente.

    É estranho que nada demonstre com mais clareza a ineficácia do mercado para regular preços do que o caso do petróleo. Não se pode negar o peso do cartel da OPEP – os países-membros da OPEP produzem cerca de 40% da demanda mundial – nos negócios petrolíferos. Há, entretanto, outros atores de peso no cenário que poderiam muito bem intervir para reduzir a dependência do cartel. Do lado da oferta há a Rússia, Canadá, Noruega e outros produtores de peso. Do lado da demanda soa estranho como os EUA, os países da Europa Ocidental e o Japão, todos grandes importadores de petróleo, se quedem passivos ante o cartel sem buscar alternativas para sua dependência. A única explicação que me parece plausível é que esses países buscam, com sua passividade, favorecer suas empresas transnacionais nos negócios com óleo é gás natural, assim 
como os países ricos buscam favorecer seus bancos no mercado financeiro global.

    A conclusão a que se chega é que o sistema capitalista é inerentemente produtor de injustiça. Ele estabeleceu uma civilização baseada no consumo maciço de energia e tornou a principal fonte de energia que aciona o sistema um obstáculo ao seu uso, através de seu preço manipulado por um cartel. Um sistema justo e socialmente sustentável já teria partido para outro modelo de desenvolvimento, livrando toda a humanidade do ônus de assegurar o enriquecimento dos acionistas de quinze ou vinte empresas.

Panorama petrolífero recente

Foi divulgado há pouco o ranking da revista Petroleum Intelligence Weekly para 2007, respeitada publicação setorial, das 50 maiores empresas de petróleo, baseado em algumas características operacionais, dentre as quais a produção de óleo e gás, a capacidade de refino e o desempenho financeiro. O ranking contém alguns dados surpreendentes:


• A estatal Saudi Aramco permanece como a primeira empresa de petróleo do mundo;
• As empresas sob controle estatal são agora majoritárias no grupo (27 dentre 50);

• Três novas empresas fazem agora parte do grupo: Uzbekneftegas, do Uzbequistão, a CNOOC, da China e a Kazmunaigas, do Casaquistão – todas sob controle estatal;

• Todas as três maiores empresas chinesas de energia passam a fazer parte das “maiores 50”, ressaltando seus esforços para assegurar o controle de fontes de petróleo e gás, tanto no território chinês quanto no exterior;

• A CNPC (estatal chinesa) saltou da sétima posição para a quinta, superando a British Petroleum, a Shell e a ConocoPhilips, todas privadas;
• A estatal russa Rosneft teve o maior salto: passou da 24ª para a 16ª posição no ranking;
• A produção total de gás natural do grupo cresceu cerca de 6% ao passo que a produção de petróleo permaneceu estável.

No conjunto das 50 maiores empresas, 18 são inteiramente de propriedade estatal, 8 têm seu capital total majoritariamente sob propriedade do estado.

Situação sui generis é a da Petrobrás. Situada na 15ª posição do ranking, de seu capital total, apenas 32,2% são de propriedade estatal. Embora seu capital votante – as ações preferenciais – esteja, por escassa maioria, sob controle do estado, a maior parte de seu crescente lucro no período envolvido foi parar em mãos privadas, fazendo dela mais um instrumento de concentração e de riqueza num país já tão marcado pela injustiça social.

Outro fator agravante no caso da Petrobrás é o crescimento das reservas brasileiras - especialmente na chamada camada pré-sal - que é expressivo, tornando o setor privado sócio majoritário deste patrimônio.

Num momento em que se percebe claramente o avanço do estado no setor em âmbito mundial, a situação brasileira é francamente diversa da tendência mundial e isto acontece, justamente, durante um governo tido como de tendência popular.


Outra questão preocupante no caso brasileiro, são as concessões para exploração de petróleo e gás nas bacias sedimentares submarinas no mar territorial. Embora a Petrobrás tenha sido a vencedora de boa parte das licitações neste caso, na maioria das vezes ela obteve a concessão em parceria ou consórcio com empresas privadas, em geral estrangeiras. Isto implica em que, pela legislação atual, empresas privadas estrangeiras serão proporcionalmente proprietárias do petróleo e do gás eventualmente extraídos, podendo fazer deles o que mais lhes aprouver, inclusive exportá-los.


Portanto, em que pesem as dúvidas quanto à viabilidade da produção na cama pré-sal, dado seu custo real ainda desconhecido, em caso afirmativo há grandes chances de esta riqueza não trazer benefício real ao povo brasileiro. Como se pode ver, há muito marketing e pouca realidade nesta questão.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A Petrobrás já foi melhor em planejamento

A Petrobrás acaba de divulgar seu Plano de Negócios para o período 2009-2013 e suas metas para 2020. Sobressaem neste plano alguns números interessantes e outros preocupantes. Por exemplo, a produção de óleo e gás deve crescer cerca de 90% até 2013 e 150% até 2020 (ver quadro abaixo). Evidentemente, este acréscimo significativo estará baseado em maciços investimentos a serem feitos na camada pré-sal, cujos contornos estão cada vez mais definidos a partir da crescente atividade exploratória. O que a Petrobrás não divulga com esta clareza são os custos de produção nestas novas bacias frente às oscilações dos preços de mercado do petróleo, já que sabidamente não é ela que define estes preços.

Por outro lado, o crescimento do refino de petróleo em suas refinarias no Brasil – as existentes e as que serão construídas no período – ficará bem aquém do volume a ser produzido (ver quadro abaixo). Esta observação permite concluir que a empresa pensa em exportar mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020, algo como o volume exportado pela Venezuela ou os Emirados Árabes Unidos atualmente.

Petrobrás - Metas Corporativas
Indicadores Realizado 2008 Metas 2013 Previsão 2015 Previsão 2020
Produção de Óleo e Gás Natural - Brasil (boed)(*) 2.176.000 3.310.000 4.140.000 5.100.000
Produção de Óleo e Gás Natural - Total (boed)(*) 2.400.000 3.651.000 4.626.000 5.732.000
Carga Fresca Processada - Brasil (bpd)(**) 1.859.000 2.270.000 - 3.012.000

Fonte: Petrobrás – Plano de Negócios 2009-2013
(*) barris de óleo equivalente por dia;
(**) barris de óleo por dia


O que preocupa é ausência de menção à agressão que o petróleo tem causado ao meio ambiente ou a timidez com que este tema é abordado num plano de tão largo alcance no tempo. Naturalmente, ninguém advoga uma radical e imediata eliminação do petróleo como fonte de energia primária, especialmente na matriz de transportes. Todavia, um processo responsável visando sua substituição gradual já deveria estar em andamento, já que os prejuízos causados ao planeta e a seus habitantes são hoje consensualmente reconhecidos. Um simples análise do uso que se faz no Brasil (e no mundo não é muito diferente) permite perceber, com um pouco de raciocínio lógico, a extensão dos males causados pelo petróleo e seus derivados. No Brasil, conforme quadro abaixo, 56% do petróleo consumido é queimado em motores de veículos automotores (sob a forma de óleo diesel e gasolina). É fato reconhecido, mas pouco divulgado, que esses motores apresentam indicadores de eficiência ridículos ou mesmo inaceitáveis no momento tecnológico que a humanidade vive hoje – da ordem de 25 a 27%. Ou seja: cerca de 75% da energia térmica gerada pela combustão são desperdiçados. No caso dos motores a diesel esta eficiência é levemente maior – na faixa de 33 a 35% - em função da maior temperatura em que se dá a combustão. Mesmo assim, o desperdício alcança alarmantes 65% da energia fornecida ao motor.

Petrobrás - Perfil de Refino
Óleo Diesel 37%
Gasolina 19%
Óleos Combustíveis 15%
Nafta e Querosene de Aviação 12%
Outros 16%

Fonte: www.petrobras2.com.br

Agregue-se a isto que há no país atualmente cerca de 50 milhões de veículos automotores, sendo que mais da metade deles trafegam nas capitais, em meio a um trânsito caótico e também sem planejamento, fato que contribui para ampliar a ineficiência dos veículos e do sistema. Porém não basta. A mera observação dos milhares de veículos enredados nas malhas do trânsito urbano revela outro problema tão grave como os demais. Trata-se um problema de educação e cidadania: Quase 80% dos veículos congestionados e que se arrastam nesse emaranhado inútil transporta apenas o motorista, embora sejam projetados para transportar, em alguns casos, até cinco pessoas. O preocupante é que a Petrobrás se prepara para ampliar sua oferta de produtos para esse mercado caótico, o que irá incentivá-lo a crescer em meio à desordem, já que as campanhas publicitárias incentivando o uso do transporte individual são cada vez mais sofisticadas e constantes.


Há ainda, a oferta de querosene de aviação destinado a acionar os motores dos jatos da aviação comercial tão ou mais ineficientes que os motores a explosão dos veículos rodoviários. Por fim, mas não menos pernicioso do ponto de vista da sustentabilidade da vida, há a produção de nafta (um derivado com algumas características semelhantes às da gasolina) destinada, em boa parte, a suprir as centrais de matérias-primas da indústria petroquímica.


É das indústrias de segunda e terceira gerações da cadeia petroquímica que provêm os plásticos, as fibras e outros materiais sintéticos cuja absorção na natureza é extremamente difícil tal a estabilidade química destes compostos. Como resultado, temos hoje, não apenas nos lixões do mundo inteiro, mas também nos mares, florestas e lagos, volumes crescentes de restos de material plástico produzidos pela indústria petroquímica e para os quais não se tem solução ou destino, já que reciclá-los custa mais caro que fabricar novos, visto que a lógica dominante é a de que o principal valor deste sistema é o dinheiro.


Assim, caminha-se não apenas para um mundo em que a vida estará ameaçada pela agressão que os ainda imensos estoques de petróleo nos reservatórios representam para a humanidade e outras espécies, mas também pela sujeira propiciada pela descontrolada oferta de plásticos e fibras não-degradáveis que ameaçam cobrir a superfície do planeta.


É triste ver gente séria se posicionar a favor da Petrobrás nestes termos, sem qualquer preocupação com as questões aqui mencionadas. Aparentemente, o desejo destes auto-intitulados "patriotas" é que a Petrobrás continue a cometer todos esses crimes, com uma única diferença: que o faça sob controle do Estado. Boa parte do percurso já foi superada: a Petrobrás já está entre as 15 maiores empresas petrolíferas e agressoras do planeta.


Diversamente do sonho desses nacionalistas e no frigir dos ovos, qualquer cidadão minimamente pensante está apto a diagnosticar os problemas que envolvem a atuação da Petrobrás dos dias de hoje. Outrora uma empresa lúcida, competente e com visão social, hoje não passa de uma simples ferramenta de mercado, ocupada, de maneira até mesmo irresponsável, em faturar para seus acionistas – na maioria privados e em boa parte estrangeiros – à custa do país, da sociedade e do meio ambiente.