O capitalismo é um sistema cheio de contradições. Mas o que é, na verdade, o capitalismo? O capitalismo é o sistema econômico que busca o lucro incessantemente para uma minoria da humanidade – os capitalistas. Para tanto, ele requer matérias-primas, instalações, energia, equipamentos e trabalho. Cada um desses insumos deve ter seu custo minimizado para que se maximize o lucro do dono do capital ou capitalista.
A produção de bens e serviços gerada pela atividade capitalista visa o consumo desses itens pela sociedade. As sociedades capitalistas são majoritariamente formadas por trabalhadores das mais diversas faixas de renda e suas famílias. Trata-se, todavia, o capitalismo de um sistema repleto de contradições, sendo a primeira e mais visível delas a permanente luta de classes entre capital e trabalho. Visto que a doutrina capitalista tem como um de seus axiomas a redução do custo dos insumos que entram na produção de bens e serviços, a redução do custo do trabalho é apenas natural.
Ocorre que a redução do custo do trabalho implica em menores salários e benefícios para toda uma massa de cidadãos que são, afinal, os consumidores dos bens e serviços que o capitalismo produz. Assim, quanto menor a renda do trabalho, menor será a demanda pela produção capitalista e menor seu lucro. O mesmo ocorre atualmente com a robotização da produção nas fábricas. Cada robô introduzido no processo produtivo vai, por certo, reduzir o custo do trabalho, mas vai também desempregar dezenas de trabalhadores que deixarão de ter renda para consumir, reduzindo, também, desta forma o lucro do capitalista.
A industrialização em larga escala que permeia parcela importante do mundo de hoje tem enfrentado sérios problemas para promover o decrescente consumo de sua produção. Os níveis cada vez mais baixos de renda do trabalho tornam cada vez mais difícil manter a demanda por bens e serviços oriundos da produção capitalista.
É nesta altura do processo que entram em cena dois novos elementos de incentivo ao consumo: a propaganda e o sistema de crédito. A propaganda, considerada hoje quase como uma ciência, tem o papel de induzir o cidadão a consumir aquilo de que ele não precisa, o supérfluo, ao passo que o sistema de crédito – os bancos - oferece recursos – dinheiro - para tanto.
A propaganda com frequência decepciona o consumidor ao alardear de modo sutil qualidades e benefícios não existentes no produto consumido. Este descompasso entre o anunciado e a realidade torna obrigatório que a propaganda se aprimore ainda mais em seu processo indutor de consumo ou, como é mais comum e mais barato, que ela se torne cada vez mais repetitiva, passando a ser uma espécie de lavagem cerebral.
O sistema de crédito, por seu turno, utiliza o dinheiro de seus clientes para financiar o consumo de outros. Neste processo, os estabelecimentos de crédito cobram dos financiados uma taxa de juros para remunerar seu trabalho e assegurar seu lucro nesta intermediação. Os contratos de financiamento, por seu lado, geram títulos que podem ser negociados com outras instituições de crédito no chamado mercado secundário com algum deságio. Estes, por sua vez podem ser negociados num mercado terciário e assim por diante.
Se, por acaso, o financiado não honrar sua dívida por qualquer razão, teremos uma reação em cadeia. Quando, numa crise de desemprego, muitos financiados deixam de honrar suas dívidas, o detentor dos títulos de seu financiamento vai se ver em maus lençóis por não poder também honrar seus compromissos dentro do sistema. Isto gera um rombo e falta de credibilidade no sistema financeiro, fazendo com que seus depositantes busquem alternativas mais seguras para seus ativos. Daí vem a quebradeira do sistema.
Este é o capitalismo que tantos defendem e que passa hoje por uma crise profunda. Mesmo fora de suas crises constantes, o capitalismo é injusto por beneficiar uma minoria em detrimento da maioria. Não se trata de uma questão ideológica, mas de inteligência: o capitalismo já provou sua incapacidade para fazer deste mundo um lugar de gente mais feliz.
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