Disponibilidade de energia é fator-chave na construção de qualquer sociedade mais justa e humana. Já se foi a época em que as classes mais ricas compravam seres humanos escravizados como bestas de carga para deles extrair energia para transporte, produção agrícola e outras tarefas do dia-a-dia. É verdade que formalmente a escravidão está extinta, mas a produção de energia pela sociedade de hoje guarda ainda estreitos laços com os modelos perdulários, agressivos e de baixo rendimento usados no passado.
Em matéria de fontes de energia e combustíveis nossa civilização de alta tecnologia ainda se encontra na Idade da Pedra. Mais de metade da energia consumida pelo mundo de hoje provém de fontes pré-históricas – petróleo, gás e carvão. Um dos maiores símbolos de “status” do mundo capitalista - o automóvel - é uma das máquinas mais burras que já se fabricou e conheceu. Da energia gerada pelos motores dos modernos carros de hoje, sejam eles fabricados em Detroit, Hamamatsu ou Manhein, menos de 30% são de fato empregados para produzir trabalho e movimentar o veículo. Todo o restante da energia é perdido por atrito nas diversas partes móveis do veículo ou é jogado fora, para o meio ambiente, sob a forma de gases de combustão quentes e sujos pelo sistema de escapamento do veículo.
Fomos até aqui incapazes de produzir máquinas e motores geradores de energia minimamente compatíveis com nossas necessidades essenciais. As chamadas “nações desenvolvidas” e suas grandes corporações capitalistas descansam preguiçosamente sobre as mesmas fontes de energia que alimentavam as imundas fábricas da Revolução Industrial britânica do século 18. Não se observa qualquer esforço sério em direção a um modelo mais limpo e duradouro de geração de energia.
Dignas de nota são, todavia, algumas iniciativas de países da periferia. Neste particular o Brasil tem inovado bastante. Ao lado um robusto e promissor programa de geração de energia a partir de fontes renováveis de energia, no qual se destaca a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, a Embrapa - empresa estatal de tecnologia agrícola - está desenvolvendo dois projetos diversificados que envolvem geração de energia originária da mandioca.
Um deles de pesquisa para a produção de hidrogênio e bio-hidrogênio por meio do açúcar da mandioca. O objetivo é produzir células de hidrogênio que são motores de combustão interna, de última geração, de alto rendimento e que liberam vapor d’água limpo para a atmosfera.
Outro, o processo de produção de etanol a partir dos carboidratos da mandioca foi iniciado na década de 1970, com o programa Pró-Álcool. Contudo, os experimentos foram gradativamente abandonados diante do sucesso da produção de álcool de cana-de-açúcar, em vista de seu custo, de sua simplicidade e da familiaridade das populações rurais com essa cultura.
Hoje, entretanto, já se faz necessário um reestudo da questão da cana-de-açúcar, em virtude da temática do empobrecimento do solo provocado pelo plantio extenso, contínuo e exaustivo dessa espécie, pela prática de queimadas para reduzir custos de colheita, beneficiamento e limpeza do solo e pela necessidade do uso intensivo de fertilizantes que acabam por envenenar o subsolo e os lençóis freáticos. Assim, esperemos para breve um salto de qualidade em matéria de geração de energia, oriundo não dos centros de pesquisa do chamado “Primeiro Mundo”, mas da inteligência, da criatividade e da competência de cientistas brasileiros, custeados pelo povo brasileiro que pagam seus impostos.
domingo, 18 de maio de 2008
O milagre brasileiro
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