A cotação do petróleo alcançou US$ 120 o barril, em Nova York, nesta segunda-feira, 5 de maio. Depois das costumeiras manchetes para alarmar o mercado, vieram os “culpados”.
Desta feita, a culpa foi atribuída a conflitos trabalhistas e greves na Nigéria, o maior produtor africano, e à crescente escalada de tensão entre o Ocidente e o governo do Irã, pela insistência deste em prosseguir em seu projeto para dominar o ciclo completo de produção de combustível nuclear.
Não custa lembrar que, há exatamente um ano, a cotação do mesmo petróleo era de US$ 60 por barril. Nestes últimos 12 meses o preço do barril duplicou.
A situação nigeriana merece comentários: a produção neste país alcança cerca de 2,1 milhões de barris por dia, dos quais a Shell Oil é responsável por 1 milhão e a Exxon Mobil por 800 mil barris diários.
Para quem conhece a trajetória dessas duas mega-empresas fica fácil imaginar as causas da revolta dos trabalhadores nigerianos.
Em relação à situação iraniana, também, nada é novo. Desde o fim da monarquia-ditadura dos Reza Pahlevi, o povo e os governos iranianos vêm tentando afirmar sua autonomia, cultura, tradições e seu distanciamento do Ocidente. Por causa disto, está o Irã hoje cercado por exércitos, frotas e pressões de toda a sorte. Sendo o Irã o segundo maior produtor mundial de petróleo – atrás apenas da Arábia Saudita – não surpreende o quadro geopolítico que o envolve.
O fato objetivo é que situações de tensão não raro tornam-se reais e são fabricadas, visando alcançar objetivos menores e indisfarçáveis. No caso atual o alvo é a cotação do petróleo.
O já velho e desgastado capitalismo nunca conseguiu ser original. Sua razão de ser jamais foi outra senão a acumulação desmesurada e a qualquer custo. Durante a era do petróleo, que ora dá claros sinais de estar chegando ao fim, meia dúzia de gigantescas corporações privadas ocuparam-se, com apoio político e bélico de esquemas estatais, em controlar a principais áreas produtoras de petróleo do planeta – Oriente Médio, Leste da África e América Latina. A história sempre se repetiu: a cada novo foco de tensão potencial, os preços do petróleo eram inflados. Em muitas dessas situações, restou claro que o nível de tensões era artificialmente fomentado e elevado de modo a permitir especulação e transferência de riquezas através dos negócios com petróleo. As maiores vítimas desses mecanismos foram os povos do Oriente Médio.
Ainda hoje são evidentes as iniqüidades praticadas contra aquela gente. O custo de produção de petróleo naquela região não ultrapassa os US$ 3 por barril. Hoje, este mesmo barril é negociado no chamado “mercado” a US$ 120 por barril. Nenhuma lei da oferta e da procura poderia justificar tamanho absurdo.
Não obstante as evidências, nada indica que vá ocorrer alguma alteração nos rumos dos fatos nesta seara. Países de periferia grandes produtores de petróleo têm tentado dar seu grito de independência - até aqui sem grande êxito - como são os casos do Irã e da Venezuela. Outros ameaçam o reinado do petróleo com a produção de biocombustíveis, como o Brasil.
Apesar dessas tentativas, não há razões para crer que, no curto prazo, vá ocorrer alguma mudança sensível no andar da carruagem. Está muito claro para quem analisa os fatos que a humanidade atual desperdiça energia e, com isso, transfere e concentra riqueza na mão de poucos. A única mudança que me ocorre propor é uma redução voluntária na demanda por energia por parte das sociedades e pessoas mais conscientes.
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