Como em outras partes do mundo, o petróleo do Mar do Norte britânico (que já foi considerada um grande província produtora) já dá sinais de fim de festa, resultante do excesso de demanda. Fica mais uma vez clara a incapacidade da Terra para suprir as necessidades criadas pela sociedade industrial, movida a petróleo e carvão.
Ciente do quadro, o governo já disparou um plano alternativo objetivando substituir a iminente falta de petróleo em casa. Após um longo debate público, o governo trabalhista britânico anunciou oficialmente, nesta quinta-feira, 10 de janeiro, a reativação da construção de centrais nucleares na Grã-Bretanha, que possui mais o velho parque nuclear da Europa ocidental. No projeto apresentado ao Parlamento, o governo informa que a construção das novas centrais, cujo número não foi especificado, não receberá qualquer ajuda do Estado.
Como previsto no relatório sobre energia no Reino, publicado em Julho de 2007, o custo da demolição, a construção das novas centrais e a eliminação dos resíduos radioativos alcança a fantástica soma de 100 bilhões de euros, de acordo com uma primeira estimativa, e será bancado inteiramente pelo setor privado.
No momento, as quatorze centrais em atividade fornecem 20% da eletricidade consumida, contra 40% supridos pelas térmicas a gás e 33% pelas térmicas a carvão. A Grã-Bretanha deve investir na produção 10.000 MW de capacidade adicional (18% da eletricidade atualmente consumida) nos próximos 20 anos para substituir as velhas e perigosas centrais. Nove reatores nucleares devem ser fechados até 2015.
Por seu lado, o poder público se compromete a facilitar a emissão de licenças para construção, dificultadas, em geral, por longos e democráticos debates com a sociedade. Devido ao “peso” deste processo de planejamento e discussão, a construção da última central - a Sizewell B, localizada numa pequena vila de pescadores, no Condado de Sufolk, a sudeste do Reino - levou quatorze anos para ser concluída. Para minimizar os protestos dos ecologistas e dos moradores, os novos reatores serão instalados nos locais dos atuais.
A diversificação das fontes energéticas e a redução das emissões de gases de efeito-estufa são os dois objetivos desta reativação da energia nuclear. Na hora do esgotamento das reservas de hidrocarbonetos do Mar do Norte e ao fim de três décadas de auto-suficiência, Londres propõe-se a reduzir a sua dependência do gás natural russo e do petróleo do Oriente Médio. Além disso, a redução do uso do carvão mineral se somará ao ambicioso objetivo oficial de diminuição, em 60%, das emissões de dióxido de carbono até 2050.
Resta evidente que, cada vez mais, as sociedades mobilizadas estão fazendo sentir seu peso nas decisões políticas, embora, neste caso, a alternativa adotada não seja a melhor para ela. Fica também claro que os governos estão evitando a dependência de fontes de energia externas às suas fronteiras.
Países como o Brasil que hoje têm certo grau de autonomia nesta questão, deveriam observar com mais atenção este quadro. Afora uma parcela do gás natural aqui consumido que vem da Bolívia e uma fração de petróleo leve, toda a energia consumida no Brasil tem sua fonte aqui mesmo. A Petrobrás, para atender as pressões de seus acionistas de Wall Street planeja, para breve, começar a exportar petróleo, já que o fator preço é hoje preponderante. Logo, precisaremos do “know-how” dos britânicos para aprendermos a engolir goela abaixo a opção que o governo de plantão quiser nos impor.
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