sábado, 17 de maio de 2008

O jogo do petróleo na Ásia Central

Por mais que se evidenciem os malefícios que o petróleo e o gás natural têm causado ao meio ambiente e à vida na terra, não se pode esperar para breve a aurora de uma “era pós-petróleo”. O modelo de civilização vigente depende da energia obtida dos combustíveis fósseis – o petróleo e o gás natural são hoje responsáveis por cerca de 50% da energia que o mundo consome. - sob pena de ter-se instalado, em nível mundial, o mais completo caos social e econômico.

Prova da importância do petróleo e do gás natural são os movimentos estratégicos dos grandes países e corporações, incluindo vultosos gastos militares para assegurar o controle e a posse de suas fontes. Ninguém pode negar que a causa da ocupação do Iraque - há 4 anos – por tropas dos EUA, tenha a ver com a posse e controle das imensas reservas de hidrocarbonetos estocados no subsolo iraquiano.


Entretanto, não é recente a preocupação dos EUA com o Oriente Médio, onde se encontram mais de 70% das reservas de hidrocarbonetos do mundo. O mapa do Oriente Médio acima, indica as principais regiões produtoras (em vermelho) e as cerca de 40 bases militares dos EUA na região (em azul). Nota-se, além da presença militar dos EUA nos países árabes, tradicionais produtores, o avanço desse tipo de instalações bélicas para países antes pertencentes à antiga órbita soviética, capazes de se candidatarem a ser uma opção adicional e mais segura para o suprimento do ocidente.

Estes países, recém-independentes, localizam-se na chamada região do Cáucaso, na Ásia Central e incluem, dentre outros, o Casaquistão, o Uzbequistão, o Turcomenistão e o Azerbaijão que juntos detém cerca de 18 bilhões de barris de petróleo (quase o dobro das reservas brasileiras) e 9 trilhões de metros cúbicos do gás natural (reservas equivalentes às da Arábia Saudita) em seu subsolo. São países interiores (sem acesso ao mar), de baixo consumo doméstico e que, por isso, precisam exportar. A presença militar dos EUA e de algumas empresas norte-americanas no Cáucaso revela o interesse americano por fontes de suprimento de petróleo e gás mais confiáveis do que os países árabes. Atualmente, apenas uma parcela do petróleo do Azerbaijão e do Casaquistão é exportada para a Europa Oriental, a custos elevados, em função da geopolítica regional e dos constantes conflitos menores entre as novas repúblicas do Cáucaso é da Ásia Central.

A dificuldade do acesso ao petróleo e ao gás dessa região é logística. Por serem países sem acesso ao mar, a exportação de hidrocarbonetos deve se dar por oleodutos e gasodutos que terão de forçosamente atravessar outros países. À exceção da região produtora de Baku, no Azerbaijão, todas as demais áreas de produção terão de escoar sua produção através do Irã ou do Afeganistão, por razões de custos.

Resta clara a dificuldade de transporte da produção da Ásia Central para exportação através do Oceano Índico, via Golfo Pérsico.

Através do Afeganistão esta operação é impensável atualmente, à vista do conflito interno entre o Talebã e os Senhores da Guerra, apesar da maciça presença de tropas norte-americanas no país.

A outra opção é o Irã, vizinho do Afeganistão. Como sabemos, o regime iraniano de feições muçulmanas xiitas tem sido alvo de ameaças constantes por parte das potências ocidentais, particularmente do eixo EUA-Grã-Bretanha, em função de seu ousado programa nuclear. Neste ambiente, não se pode pensar no Irã como um caminho pacífico para o petróleo da Ásia Central. Assim, resta-nos aguardar para ver quais serão os próximos lances deste jogo de forças e interesses vitais.

Finalmente, e como efeito “colateral” deste movimento, os EUA passaram a dispor bases militares bem equipadas a poucos quilômetros da fronteira russa, onde se situam as maiores reservas de gás do planeta e da fronteira chinesa, um país que cresce a taxas de 10% há mais de 10 anos e, portanto, com uma enorme demanda de energia. Quem viver, verá.

Argemiro Pertence

Nenhum comentário: