Vivemos a civilização do petróleo. Nunca a humanidade dependeu tanto de um bem como nós dependemos hoje do petróleo. Esta característica do chamado “ouro negro” fez dele motivo de conflitos, complôs e especulação jamais previstos para qualquer outro bem que a natureza nos ofereceu.
Há alguns anos, entretanto, renomados pesquisadores têm indicado como próximo o fim da era do petróleo. Números inquestionáveis indicam que sua demanda é hoje maior que a taxa de novas descobertas destinadas a suprir um consumo cada vez maior. De fato, as reservas de petróleo provadas - aquelas já descobertas e para as quais há tecnologia capaz de permitir sua extração – alcançam hoje algo como 1 trilhão de barris. O consumo mundial anual foi de cerca de 76 milhões de barris por dia em 2006. Feitos os cálculos, o que nos resta de reservas atenderiam o atual consumo por mais cerca de 35 anos. O problema é que essas reservas situam-se em áreas segregadas do globo, áreas de conflitos de interesses e mesmo áreas de conflitos armados em andamento ou potencialmente explosivos. Mais de 75% das reservas de petróleo do mundo se encontram no Oriente Médio.
Há, entretanto, aqueles que advogam a tese de que novas áreas se tornarão produtoras viáveis, dado que os preços do petróleo, atualmente em franca ascensão, justificam investimentos até aqui impensáveis por causa dos custos envolvidos nesses casos. Assim, há as áreas de águas ultra-profundas, como as do litoral brasileiro e do Golfo do México e as grandes reservas de areias betuminosas no Alasca e outras em outras áreas menos cotadas.
Até que ponto, todavia, essas alternativas são de fato dignas de crédito? Recentemente, a Petrobrás anunciou, com grande alarde, a descoberta de óleo leve, de alta qualidade, na chamada estrutura pré-sal, na Bacia do Espírito Santo. Foram perfurados um ou dois poços exploratórios e, com base nesses dados iniciais, foi feita um extrapolação. Como a estrutura pré-sal se estende por cerca de 800 km, desde o litoral do Espírito Santo até Santa Catarina, a empresa inferiu e divulgou que devem existir nessa formação contínua alguns bilhões de barris de óleo e trilhões de metros cúbicos de gás natural, capazes de tornar o Brasil um membro de proa da OPEP e um grande exportador de petróleo.
A Petrobrás já foi mais cuidadosa ao divulgar seus feitos nesse campo. Hoje, entretanto, a Petrobrás tem um outro perfil. Cerca de 70% das ações preferenciais e pouco menos de 50% das ações ordinárias – estas com direito a voto - da Petrobrás estão no mercado de capitais e parte significativa delas é negociada diuturnamente na Bolsa de Nova York, entre fundos de investimento americanos e outros tipos de especuladores de plantão.
Qualquer anúncio de uma nova descoberta de magnitude implica em aquecer a especulação, mesmo que o fato guarde pouca ou nenhuma relação com a realidade, já que especular é preciso.
Inferir que uma possível área produtora de petróleo e gás se estende continuamente por 800 km de subsolo marinho e que ela guarda reservas de hidrocarbonetos da ordem de bilhões de barris, a partir de uma ou duas perfurações isoladas e, ainda por cima, numa das extremidades da formação, não faz o menor sentido nem o estilo da Petrobrás de outras eras.
Por força de pressões de seus acionistas estrangeiros, a Petrobrás assumiu características empresariais que podem desqualificá-la no futuro como empresa sóbria. Oxalá eu esteja equivocado. De toda essa analise, frise-se, não cabem recriminações a seu corpo de empregados reconhecidamente qualificado, sério e competente.
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